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XVIII
Taubateanos ilustres

Não podemos furtar-nos ao dever de passar para as páginas deste nosso pequeno trabalho a breve e sucinta notícia de cinco taubateanos ilustres, que na antiguidade muito se distinguiram pelo seu valor e cometimentos.
Lamentamos não poder estender mais nossas ideias sobre esses varões, já pela falta de dados históricos, já pela insuficiência dos que possuímos.

 

ARZÃO

Antonio Rodrigues Arzão viu a luz em Taubaté, ou Taybaté; deve-se a este homem eminentemente intrépido, o descobrimento do ouro do Brasil, quando em 1693 devassava pela primeira vez os sertões de Caeté.
Era então o sertanista de uma bandeira que se compunha de cinquenta homens, e procurava nas guerras contra os índios reduzi-los à escravidão.
Feliz com seu descobrimento, dirigiu-se à capitania do Espírito Santo, e apresentou ao capitão-mor, regente da Vila, três oitavas de ouro.
A Câmara recebeu à Arzão e seus intrépidos companheiros com afago, e lhes subministrou, não só os víveres de que careciam, como também vestuário de que se achavam quase desprovidos, executando assim, com fidelidade as ordens régias que tinha.
Do precioso metal fundiram-se duas medalhas, uma coube à Arzão e outra tomou-se para si o capitão-mor (75). Arzão  buscou em vão ajuntar na vila do Espírito Santo a gente que lhe era necessária para de novo penetrar no sertões. Passou-se, pois, ao Rio de Janeiro e dali para sua terra natal.
Estava cansado das fadigas porque passara, e seu corpo dobrou seus sofrimentos (76).
Ainda assim pode escrever o roteiro de seus descobrimentos.
Sentindo em 1696 aproximar se a morte, chamou seu cunhado Bartolomeu Bueno, confiou-lhe seu manuscritos, e pediu-lhe muito que prosseguisse em suas pesquisas (77). 

 

ARZÃO (FILHO)

Antonio Rodrigues Arzão (78), descendente do precedente, e como ele taubateano, afoito e destemido foi um dos descobridores das minas do Serro Frio, conhecido então por “Hivituruí”. Fazia parte da bandeira dirigida por Antonio Soares, natural de São Paulo.

 

Bartolomeu Bueno da Siqueira

Bartolomeu Bueno da Siqueira, natural da vida de Taubaté (79), donde saíam as bandeiras para o sertão, achava-se em 1696 assaz arruinado em sua fortuna por havê-la arriscado ou perdido em jogos, quando seu cunhado Antonio Rodrigues Arzão, o descobridor do ouro no Brasil, o chamou para junto de seu leito, de onde a morte o ia pouco a pouco despenhando no sepulcro, e lhe fez presente de um manuscrito precioso.
Era o roteiro dos seus descobrimentos. 
O velho sertanista expirou nos braços de seu parente amigo, que se cerrou-lhe os olhos embaciados pelo sopro da morte.
Homem dotado de ânimo de resolução enérgica, Bartolomeu Bueno leu o manuscrito de seu velho amigo, e para logo sentiu ser elevado de novo pela própria fortuna que havia batido.
Convocou seus amigos, e com eles levantou uma bandeira, com a qual se internaram pelos sertões, saindo de Taubaté no ano de 1697 (80).
Guiava-se pelo roteiro, que consultava todos os dias, e rompendo os matos gerais e bravios, servia-se de norte o pico das serras elevadas, até que depois de grandes e enfadonhas marchas saíram sobre a Itaberaba, a pedra brilhante, e distante do sítio onde depois se ergueu Vila Rica pouco mais de oito léguas.
Aí semeou meio alqueire de milho e passando a gente para o sertão do Rio das Velhas, muito mais abundante de caça, esperou que amadurecesse pequena sementeira para poder continuar em seus descobrimentos. 
Já no ano de 1696 estavam eles de volta a Itaberaba, em busca dos frutos de sua lavoura, onde por acaso se encontraram com outra bandeira dirigida pelo coronel Salvador Fernandes Furtado e o capitão-mor Manuel Garcia Velho, que não só corriam as matas em procura de índios, como ajudados deles se davam ao trabalho rude, e ainda imperfeito da mineração, sem os instrumentos necessários e apenas servindo-se de paus aguçados para cavar a terra.
A história é muda a respeito das riquezas encontradas por Bartolomeu Bueno; sabe-se, porém, que um de seus companheiros, Miguel de Almeida, negociara com o célebre Manoel Garcia Velho, pagando-lhe em ouro, que este cedera depois tão generosamente a Carlos Pedroso da Silveira , mas as datas não combinam. (*)
Bartolomeu Bueno ainda é hoje apontado como descobridor de Itaberaba
(*) Carlos Pedroso da Silveira apresentou no Rio de Janeiro, em 1695, o ouro que lhe dera Manoel Garcia Velho, e fora por este obtido de Miguel de Almeida em 1697 (83).

 

CARLOS PEDROSO DA SILVERA (81)

O capitão-mor Manoel Garcia Velho (82) acabava de chegar de seus descobrimentos à Vila de Taubaté, sua pátria. O chefe da bandeira viu-se para logo rodeado de curiosos, e teve de narrar suas aventuras. Carlos Pedroso da Silveira entusiasmou-se com a pintura que lhe fazia o seu comprovinciano dos sertões que atravessara, e ainda mais com as amostras de ouro que lhe apresentara o sertanista.
Homem de recursos, dotado do dom de persuadir facilmente, e sabendo tirar partido de suas insinuações, Carlos Pedroso da Silveira acabou por convencer o capitão-mor Manoel Garcia Velho, que aquele ouro lhe devia pertencer, e houve a si doze oitavas que possuía o capitão mor.
Imediatamente transpôs a serra, e achou-se dentro em breve na cidade do Rio de Janeiro, onde foi muito bem recebido pelo governador Antonio Paes de Sande.
Corria então o ano de 1695, e Carlos Pedroso da Silveira apresentou-se como trabalhador incessante que busca promover os interesses do real serviço; ofereceu como testemunho de suas palavras as doze oitavas de ouro.
Antonio Paes de Sande foi surpreendido pela morte; coube a Sebastião de Castro Caldas, que o sucedeu no governo a glória de ser o primeiro a remeter para a Corte as primeiras amostras de ouro, pela qual a metrópole tão ambiciosa se mostrava, recomendando e incitando as pesquisas necessárias para o seu descobrimento.
Carlos Pedroso de Siqueira recolheu-se depois à sua pátria, premiado com a patente de capitão-mor de sua vila natal.
Novo Américo Vespúcio logrou da glória de Cristóvão Colombo. Nem mesmo as recompensas deveriam recair no capitão-mor Manoel Garcia Velho. Essa glória pertence a Antonio Rodrigues Arzão, que o precedeu nesse descobrimento.

 

ANTONIO DIAS DE OLIVEIRA


Antonio Dias (84), natural de Taubaté, foi um dos descobridores das minas de Ouro Preto, nas serras e vizinhanças do mesmo nome, pelos anos de 1699, 1700 e 1701, que para logo tornou-se então populoso arraial.
O general Albuquerque elevou em  8 de junho de 1711 a vila (85) com a denominação de Rica pela abundância do ouro, e hoje cidade de Ouro Preto (*) capital da província de Minas Gerais.
Os Aimorés que estavam de posse do terreno, o defenderam animosamente, e os paulistas tiveram ainda mais de guerrear com os emboabas que afluíam; retiraram-se a São João del Rei a esperar reforços, onde foram atacados, e o rio recebeu o nome de Rio das Mortes (86).
A notícia que demos desses antigos taubateanos devemos à pena de um escritor, e pela elegância de seu estilo de fidelidade de exposição, pareceu-nos conveniente transcrevê-la tal qual (87).
(*) Assim chamado por se achar esse metal ligado com prata que lhe dava uma cor escura.

78 – Os genealogistas não citam outro Antonio Rodrigues Arzão que não seja o bandeirante descobridor da Casa da Casca.
79 – Bartolomeu Bueno da Siqueira nasceu em São Paulo, onde se casou em 1647.
80 – Segundo alguns estudiosos, esse acontecimento apresenta sentido lendário. Ao que tudo indica Bartolomeu Bueno da Siqueira já possuía conhecimento de outras minas de ouro da região.
81- Carlos Pedroso da Silveira, nascido em 1644. Em São Paulo, esteve ligado ao bandeirismo taubateano desde o período do apresamento (1650-1694) e participou dos primeiros descobrimentos verificados nas Minas Gerais
82 – Trata-se Manoel Garcia Velho citado no texto anterior.
83 – Esse foi descoberto em 1694, e entregue no Rio em 1695. Vide Gilberto Martins, “Taubaté nos primeiros tempos”, pág.59.
84 – Trata-se do mesmo Antonio Dias de Oliveira, já referido no capítulo IV desta obra. 85 – Trata-se da elevação do povoado à categoria de vila com a denominação de Vila Rica. 86 – O autor, nem sempre obedece a ordem cronológica dos acontecimentos. Assim, às vezes, deixa-se levar por entusiasmo de redação apresentando acontecimentos que talvez não caberiam obviamente onde se acham.
85 – Trata-se da elevação do povoado à categoria de vila com a denominação de Vila Rica.
86 – O autor, nem sempre obedece a ordem cronológica dos acontecimentos. Assim, às vezes, deixa-se levar por entusiasmo de redação apresentando acontecimentos que talvez não caberiam obviamente onde se acham.
87 – A propósito de autores antigos que trataram do assunto. (Vide Gilberto Martins, pág.55 de “Taubaté nos seus primeiros tempos” – “Trata-se de uma narrativa iniciada por Bento Fernandes Furtado, mantida por Cláudio Manoel da Costa, repetida sempre por autores modernos”.)

O taubateano Salvador Fernandes Furtado de Mendonça descobriu ouro em Ribeirão do Carmo e acabou sendo considerado o fundador de Minas Gerais. Fundou Mariana, a primeira cidade de Minas Gerais, que, uma vez por ano, é considerada capital do Estado.(Fonte: Suplemento “Bandeirante - símbolo ou enigma”, Jornal Contato)
Carlos Pedroso da Silveira era sócio de Bartolomeu de Siqueira no empreendimento que resultou na revelação oficial da existência de ouro nas Minas de Taubaté. Tornou-se homem de confiança da corte. Foi provedor da Casa de Fundição de Taubaté e provedor da Coroa. Quando a Casa de Fundição foi transferida para Parati (RJ), ele foi junto. Era tido como dedicadíssimo e leal à Coroa e perseguidor implacável dos sonegadores. Acabou assassinado, em 1719, numa emboscada em Taubaté. (Fonte: Revista Almanaque Taubaté #1 e #5)