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II
História da Fundação

Originalmente foi aldeia de Itaboaté (3), onde viviam muitas famílias de índios guaianazes, os quais no princípio do século XVII (4) se tornaram inimigos declarados pelos índios da mesma raça que habitavam os campos de Piratininga, quando por causa dos jesuítas, a vila de Santo André da Borda do Campo foi mandada arrasar, e seu título conferido ao Colégio de Piratininga, onde hoje está fundada a cidade de São Paulo.
Esta inimizade aumentou-se ainda mais com a descoberta de minas de ouro, que os taubateanos faziam, dando lugar a grandes lutas e a ódios estranhados que só o tempo e a civilização puderam desvanecer (5).
A cidade de Taubaté teve princípio em 1639 por Jacques Félix, seu capitão-mor, povoador, morador abastado de São Paulo, e procurador da Condessa de Vimieiro, donatária da capitania de  Itanhaém.


Brasão da Capitania de Itanhaém Benedito Calixto

O mesmo Jacques Félix , no ano de 1636, obtivera do capitão-mor de Itanhaém, Francisco da Rocha, provisão para poder penetrar no sertão de Taubaté, provisão que foi confirmada 3 anos depois, isto é, no mencionado ano de 1639, pelo capitão-mor governador Vasco da Mota, o qual ordenara a Jaques Félix e em nome da condessa donatária, medisse uma légua de terra para o rocio da vila, e que concedesse o resto das terras aos demais moradores, que viessem estabelecer-se na povoação e que estando completas as obras para ser aclamara vila, o avisasse.
Jacques Félix, com os índios do lugar, com seus escravos (6) que trouxe da vila de São Paulo e com muitos moradores que ia afluindo para povoação (7), fundou uma pequena matriz e um tosco edifício para cadeia, sendo nestas obras auxiliado por frades franciscanos, que trouxe de São Paulo em sua companhia.
Estando as ditas obras concluídas, foi em 1635 (8) por provisão de Antônio Barbosa Aguiar, capitão-mor, governador, alcaide-mor e ouvidor da capitania de Itanhaém, pela condessa donatária aclamada em vila, com a denominação de São Francisco das Chagas de Taubaté.
Seu nome primitivo era Itaboaté, depois Taboaté, Tabaté, depois Tahubaté, e por fim Taubaté, como atualmente se escreve. Foi marcada a primeira oitava de Natal (9) para proceder-se à eleição de juízes e oficiais da Câmara (10), que deveriam funcionar em janeiro de 1646.
Com a aclamação do foro de vila de posse dos novos oficiais da Câmara, grandes festejos foram feitos.
Os amigos de Jaques Félix, os novos povoadores de Taubaté, não cessavam de ir a São Paulo e despertar a atenção do governador Barbosa de Aguiar em benefício da florescente Vila de Taubaté.
Este por sua vez transmitia à metrópole e ao governo do Rio de Janeiro (11) as boas e lisonjeiras notícias que obtinha da salubridade, fertilidade e riqueza da nova vila de Taubaté: o que concorreu poderosamente para, em pouco tempo, a vila de Taubaté ser tornar a povoação mais importante no Vale do Paraíba.

3 – Tabaetê; Taboaté; Taybaté; Taoboaté; Taiboaté, são algumas designações encontradas em documentos antigos. Sobre o assunto referente ao topônimo Taubaté, vide entre outros autores, Felix Guisard Filho – “Nomes, Limites e Brasões”.
4 – A inimizade entre os guaianazes data do século XVI e não do século XVII . Trata-se,possivelmente, de um erro tipográfico não corrigido pelo autor.
5 – O antagonismo entre taubateanos e paulistas, surgido no século XVII foi mais de ordem política, incrementado pelo transcendental acontecimento da descoberta do ouro em Minas Gerais levado a efeito pelos primeiros. (Vide o próprio autor no final do capítulo VI).
6 – Esses escravos, possivelmente, seriam índios trazidos do Guairá para São Paulo, por Manoel Prêto ou outros paulistas apresadores, disponíveis em quantidade muito numerosa por aquela ocasião.
7 – Houve realmente grande afluxo de moradores brancos para a recém-fundada povoação, entre os quais gente ilustre como relaciona Guisard Filho em seu livro “Jacques Félix”, páginas 23-24.
8 – Aqui, novamente outro descuido da revisão, o ano é 1645.
9 – “1ª Oitava de Natal”: semana que segue logo após o dia de Natal.
10 – Havia: Juiz Ordinário, elemento eleito pela Câmara; Juiz de Órfãos, investido também por eleição da Câmara, cuja função era cuidar de inventários, testamentos, tutelas e questões correlatas; Juiz Almotacel, que exercia funções de fiscalização de pesos e medidas; os Oficiais integravam a Câmara, funcionando como os edis atuais. (Vide J.B. Ortiz Monteiro “Velhos Troncos”, pág.281).
11 – O intercâmbio da recém-fundada vila, principalmente o de ordem comercial, exercia-se predominantemente com o Rio de Janeiro.

Foram os índios guaianás que fixaram o homem em Taubaté. A aldeia ficava próxima da atual Praça Rui Barbosa (Largo do Chafariz). A tribo começou a ser extinta com a chegada de Jacques Felix.(Fonte: Revista Almanaque Taubaté #1)
Mariana de Sousa Guerra, a Condessa de Vimieiro, era neta de Martim Afonso de Souza, governador da Índia e do Brasil, e filha de Pero Lopes de Sousa, de quem herdou a Capitania de São Vicente. Em meados de 1620, a Capitania de São Vicente foi dividida, o que levou a Condessa a criar a Capitania de Itanhaém, na baixada Santista. A nova Capitania estendia-se de São Sebastião (SP) à Angra dos Reis (RJ), incluindo as terras de Taubaté.
Detalhe: nascida em Portugal, a Condessa nunca pisou nas suas terras brasileiras. (Fonte: Revista Almanaque Taubaté #1)
Segundo o historiador José Bernardo Ortiz, Jacques Felix teria nascido por volta de 1576, nos Países Baixos. Dono de uma fazenda localizada entre Tremembé e Pindamonhangaba, era conhecedor da região antes de receber a missão de formar o núcleo de povoamento de Taubaté. Primeiro chefe do executivo taubateano, com poder civil, militar e criminal, também é considerado o primeiro arquiteto da vila. Faleceu entre 1651 e 1658. Teve três filhos: Capitão Belchior Félix, Jacques Felix, o Moço, e Catarina Dias Felix.
Jacques Felix criou um “plano diretor” para Taubaté, seguindo as regras do traçado espanhol. Escolheu um terreno (onde hoje é a Praça Dom Epaminondas) alto e plano, com água próxima, terras férteis e grandes matas. A “planta” foi desenhada como se fosse um tabuleiro de xadrez. Seu projeto ainda incluía a construção de uma Igreja da Matriz (onde se encontra a Capela dos Passos, anexa à Catedral), a Casa da Câmara e da Cadeia. Os edifícios foram feitos com a técnica de taipa de pilão – madeira e barro, cobertos com palha. Terminada a construção, o povoado foi elevado à Vila, aos 5 de dezembro de 1645. (Fonte: Revista Almanaque Taubaté 1/ Velhos troncos, José Bernardo Ortiz, Taubateana, 1996)
Após a elevação à Vila, foi realizada eleição em Taubaté – a primeira de uma área que engloba o Vale do Paraíba, a Região Serrana e Minas Gerais – para escolha de vereadores (denominados, na época, de oficiais da Câmara). Nesse pleito, só os donos do poder, do dinheiro e das propriedades, conhecidos como “homens bons”, podiam votar e serem eleitos. A Câmara (então chamada de Casa do Conselho) começou a funcionar em 1º de janeiro de 1646 e tornou-se o centro dos poderes executivo, legislativo e judiciário da recém-criada Vila. Teria nas mãos o cofre público, organizaria a sociedade e administraria o governo. (Fonte: Revista Almanaque Taubaté #5)