No princípio do século XVIII travou-se em Minas a afamada guerra entre paulistas e forasteiros, conhecida com o nome de Guerra dos Emboabas, capitaneados estes pelo português Manoel Nunes Viana. Depois de muitos desastres e perdas das forças paulistas, estes apelaram para os brios e tradições gloriosas dos taubateanos, por causa do massacre e grandes atrocidades praticadas pelos forasteiros no Capão da Traição.
No ano de 1708 fez-se em Taubaté, a última reunião entre paulistas e taubateanos, e aí, depois de jurarem defender a causa que os congregava, partiram para Minas, tendo à frente o neto de Amador Bueno da Ribieira (30) que subtraiu-se à aclamação de rei quando a coroa de Portugal foi transferida a D. João IV.
Este período histórico é suscintamente descrito pelo brigadeiro Machado de Oliveira sem sua Geografia da Província de São Paulo.
Na obra porém, do padre Belchior de Pontes (31) vem a descrição da viagem, a rota, acampamentos e combates dos confederados contra os emboabas; sua descrição é feita algumas vezes com tanta inverossimilhança, que apenas mais adiante transcreveremos integralmente alguns tópicos dessa descrição.
Entretanto, é fato histórico e verídico, a intervenção dos taubateanos nessa guerra, e desse tempo em diante foi que congraçaram-se os ânimos de taubateanos e paulistas; estabeleceu-se a amizade entre os mesmos, esquecendo-se assim os antigos ódios e rivalidades.
30 – Não se trata de neto de Amador Bueno de Ribeira (e não da Ribeira). Trata-se, isto sim, de um seu bisneto: capitão-mor Amador Bueno da Veiga, primogênito (entre 11 filhos) de Baltazar da Costa da Veiga e de Maria Bueno de Mendonça, esta filha de Amador Bueno, cognominado “o Moço”, e de Margarida de Mendonça, falecida em 1709, data da expedição comandada pelo seu neto, no posto de “Cabo Maior” (dos Paulistas). (SILVA LEME, vol.3, pág.203; AURELIANO LEITE, “Histórias da Civilização Paulista”, pág. 72).
O que teria levado o autor à confusão é que Amador Bueno (“O Moço”) é filho de Amador Bueno de Ribeira, aclamado rei em São Paulo, em 1641 (por poderoso partido de ricos e influentes castelhanos) honraria que recusou, por se considerar leal vassalo da CoroaPortuguêsa.
Seu ascendente, Bartolomeu Bueno de Ribeira, chegando a São Paulo em 1571, de Sevilha, na Espanha, se casaria com Mécia Fernandes (MéciaUssú, isto é, Mécia, a grande), trineta do maioral de Ururai, chamando Piquirobi.
Segundo PedroTaques, citado por Silva Leme (ob. Cit., 3º vol, pág.203) Antonio Bueno da Veiga “foi nobre cidadão de São Paulo onde serviu todos os cargos da república. Foi potentado em arcos, dos quais teve numerosos índios da sua administração, e sua fazenda era um populoso arraial. No ano de 1709 teve mercê de Juiz de Órfãos de São Paulo, pelo Marquês de Cascais, donatário da capitania de São Vicente, cargo que tomou posse, mas não exerceu o seu ofício por fazer parte dele desistência em Câmara”, pois, “foi nomeado comandante chefe (Cabo-Maior) em 1709 do exército paulista que marchou para o rio das Mortes, em Minas, para vingar a morte dada a seus concidadãos, pelos portuguêses no Capão da Traição”, ao findar da Guerra dos Emboabas.
Amador Bueno da Veiga foi casado com Marta de Miranda, filha de Bartolomeu da Cunha Gago e de Maria Portes del Rei. Faleceu em 1719 (dez anos depois da expedição) no então sertão do Rio Pardo, onde viria surgir a fazenda Jaguarí, no município de Casa Branca (SILVA LEME, vol. 3º, págs. 212 e 203). Deixou 6 filhos e ilustre descendência.
O nome correto do comandante chefe (cabo-maior) Antonio Bueno da Veiga, bisneto do Aclamado, vem mencionado nesta obra, na citação que faz o autor do suspeitíssimo, segundo Aureliano Leite (História da Civilização Paulista, 1954, pág.72, nota 38), autor português Pe. Manoel da Fonseca, que Paula Toledo chama apenas de “historiador Fonseca” ou de “escritor português”.
31 – Aureliano Leite, ob. cit., pág.72, nota 37, a propósito de “Emboabas”, cita os autores Sebastião da Rocha Pita e o sacerdote acima referido para logo depois (pág. 72, nota 38) apontá-los como suspeitíssimos. Não teriam sido imparciais e sim aduladores de portuguêses, com os quais viviam. E recomenda a leitura de “Emboabas” de J. Soares de Mello e de “Cabo-Maior dos Paulistas na Guerra com os Emboabas”, dele mesmo, em cujas obras se demonstrou o comportamento digno dos paulistas “unidos numa só frente, inclusive os taubateanos, que viveram em constantes rixas com os piratininganos”. Vide, também, a nota 88.