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XII
CAPELA DA PIEDADE

Esta capela foi fundada por concessão do bispo, frei Antonio da Madre de Deus, aos 7 de fevereiro de 1753 (51).
A provisão que a criou é a seguinte:
“Fazemos saber que representando-nos o alferes Bento Lopes de Leão (52), morador da vila de Taubaté, que na mesma vila, em distância de uma légua, se achava uma imagem de Nossa Senhora da Piedade, metida em uma casinha de palha, com indecência, por cujo motivo, e para maior serviço de Deus, queria edificar uma capela na paragem chamada ribeirão do Judeu (53), estrada pública, onde já a Câmara da mesma vila dera 40 braças de terra de esmola para a nova ermida da mesma Senhora, e atendendo nós à sua justa e louvável súplica, havemos por bem dar-lhe faculdade e conceder-lhe licença para que possa erigir a dita capela na dita paragem do rio do Judeu, sem prejuízo dos direitos paroquiais, em lugar decente, alto e livre de umidade, desviando quanto possível de lugares imundos e sórdidos, o qual assinará e determinará o reverendíssimo pároco a quem cometemos essa licença, e depois de feita, recorrerá a nós para lhe mandarmos fazer as diligências necessárias, e juntará a escritura do dote competente, que ao menos será 6$000, em cada ano, para a sua fábrica, reparação e ornamento.

Assinatura de Bento Lopes de Leão, capitão mór da Vila de Taubaté
Assinatura: "Cap. mor da Villa de Taubate Bento Lopes de Leão" Acervo BNDigital


Dado nessa cidade de São Paulo, sob nosso sinal e selo, aos 7 de fevereiro de 1753, frei Antonio, bispo”.
Passados quatro anos depois, isto é, em 1757, na exposição que fez o muito zeloso vigário dessa paróquia, padre João de Bessa, vê-se o seguinte, dito pelo mesmo:
“A capela de nossa Senhora da Piedade tem as paredes de taipa de pilão; não tem mais fábrica por se estar ainda em sua construção, por cuja causa ainda não tem ornamento, nem paramento; está distante dessa freguesia 200 braças, pouco mais ou menos; é seu protetor o alferes Bento Lopes de Leão.”
Decorreram-se muitos anos sem que esta capela fosse concluída, até que João da Costa deixasse em verba testamentária e determinado a seu testamenteiro Manoel Pereira de Amarante (54), que este, com os recursos deixados por aquele, a concluísse.
Posteriormente, o taubateano capitão José Lobato de Toledo (55), homem dotado de muita atividade, muito estimado e considerado entre seus concidadãos, vendo que com pouco esforço conseguiria acabar as obras da capela, promoveu uma subscrição, e à frente da administração das obras, conseguiu concluí-las em setembro de 1866, sendo nessa época transladada com grande pompa e solenidade da igreja matriz para sua capela a respectiva imagem.
Projeta-se hoje construir um edifício destinado à educação da infância, à imitação do de Itu, ficando a igreja da Piedade incorporada ao colégio, e para esse fim o Exmo. Bispo Diocesano, D. Lino Deodato Rodrigues de Carvalho, por portaria de 9 de março do corrente ano, autorizou ao reverendíssimo vigário dessa paróquia e deu-lhe os necessários poderes. O mesmo reverendíssimo vigário endereçou à Câmara Municipal o seguinte ofício:
“Ilmos. srs. Presidente e vereadores da Câmara Municipal:
Tenho a honra de levar ao conhecimento de Vv.Ss. que, sob a valiosa proteção do exmo. sr. bispo diocesano, vou intentar a construção de um edifício, destinado a um colégio de educação de meninas , à semelhança do de Itu, fundado pelo falecido d. Antonio Joaquim de Melo, de saudosa memória.
S. Excia. Reverendíssima dignou-se, em portaria de 9 de março do corrente ano, autorizar-me a construir o edifício, junto à igreja da Piedade, incorporada ao colégio da dita igreja.
Levando este fato ao conhecimento de Vv. Ss., eu devo declarar que vou empreender uma grande obra sem ter em minhas mãos os recursos necessários, contando com a proteção geral nesta paróquia; e, desta ilma. Câmara não posso deixar de esperar franco, sincero e decidido apoio para a realização de tão importante melhoramento, que, além de prestar ao ensino e à educação da infância verdadeiro serviço, perpetuará na igreja da Piedade o culto da Rainha dos Anjos e Auxílio dos Cristãos.
Aproveito a oportunidade para manifestar a Vv.Ss. os protestos de minha consideração e respeito.
Deus guarde a Vv.Ss. – Taubaté, 12 de março de 1877 – Ilmos. srs. presidente e vereadores da Câmara Municipal – monsenhor José Pereira da Silva Barros” (56).

Cartão Postal editado por volta de 1910 mostra o colégio Bom Conselho, criado por iniciativa do Monsenhor José Pereira da Silva Barros, junto à Capela da Piedade
Cartão Postal editado por volta de 1910 mostra o colégio Bom Conselho, criado por iniciativa do Monsenhor José Pereira da Silva Barros, junto à Capela da Piedade. Fonte: "Lembranças de São Paulo - O Interior Paulista nos Cartões-postais e Álbuns de Lembranças", de Joao Emilio Gerodetti e Carlos Cornejo.


51 – Ao que se deduz, essa primitiva capela se situava mais próximo ao ribeirão do Judeu, isto é, à margem da estrada para São Paulo (atual av. Independência) na parte baixa, em ponto úmido, sendo de acordo com os dizeres da provisão, transferida para lugar mais alto e mais salubre. Seria no local onde hoje se situa o edifício inicialmente ocupado pelo Colégio de Nossa Senhora do Bom Conselho. A praça em frente teve, primitivamente, a denominação de largo da Piedade.
52 – Alferes Bento Lopes de Leão foi capitão-mor de Ordenanças em Taubaté por diversos anos. Faleceu em 1780.
53 – Ver parágrafo IV, da nota nº35.
54 – Grande proprietário de terras nas imediações do Convento de Santa Clara.
55 – Capitão José Lobato de Toledo, filho do capitão Januário Moreira de Toledo e de Maria Tereza Lobato, casou-se com Maria Justina de Moura a qual ficou sua viúva.
56 – Monsenhor D. José Pereira da Silva Barros, natural de Taubaté e filho do capitão Jacinto Pereira da Silva Barros e de Ana de Alvarenga, foi arcebispo titular de Darniz, bispo do Rio de Janeiro e de Olinda, onde morreu.

O Colégio Nossa Senhora do Bom Conselho foi inaugurado em 25 de maio de 1879. Era administrado pelas irmãs da Congregação Francesa de São José de Chambéry e tinha como meta educar as jovens, unindo educação formal e religiosa. A iniciativa de abrir a escola partiu do Monsenhor Silva Barros, na época vigário de Taubaté. Foi ele quem doou o terreno para a construção do prédio. Coincidência ou não, a decisão de fundar escolas católicas comandadas pelas freiras francesas no Brasil partiu de ex-alunos do Seminário Episcopal. Foi lá que Silva Barros se formou, em 1852. O Bom Conselho funcionava em três regimes: internato, externato e orfanato. Considerada uma das melhores instituições do Brasil, o Colégio fechou as portas em dezembro de 1967. (Fonte: Revista Almanaque Taubaté #3)