Carregando...

IV
DESCOBERTA DE MINAS POR TAUBATEANOS

Os taubateanos naturais de gênio elevado e empreendedor não se contentaram com as conquistas feitas, quiseram internar-se pelos sertões em demanda da nova riqueza, e fiéis às tradições de Jaques Félix, procuraram por sua intrepidez e coragem dominar as distâncias, vencer a natureza e plantar o nome taubateano nos sertões os mais remotos (16).
Foi, guiado por estes sentimentos, que o taubateano Antonio Dias (17) , conjuntamente com o padre João de Faria Fialho, natural de São Sebastião, e os paulistas Tomaz Lopes de Camargo (18) e Francisco Bueno da Silva (19) em o ano de 1699 e seguintes, transpuseram em jangadas o rio Paraíba, penetraram na serra da Mantiqueira, até então nunca transitada (20), e após imensos obstáculos, arrostando perigo da própria vida, foram descobrir os ribeiros da serra de Ouro Preto, assim chamada pela cor escura de suas rochas, e aí extraindo ouro, atraíram para a sua companhia grande quantidade de emigrantes, que ávidos de riqueza, foram fundear a cidade de Ouro Preto, hoje capital da província de Minas (21).
Aquele intrépido taubateano e estes valorosos paulistas não se contentaram com as minas descobertas, nos anos seguintes ainda penetraram e descobriram as serras do Pão-Doce, do Ouro-Podre, Ouro-Fino, Queimado, Sant’Ana e a do Ramos, onde hoje existem grandes e importantes povoações (22).

Detalhe da imagem Strasse im unteren Theile der Stadt Ouro Preto - em tradução livre: Rua na parte baixa da cidade de Ouro Preto. Autor: Herman Burmeister (187-1892). Acervo Biblioteca Brasiliana Guita e José Midlin - BBM/UPS


Posteriormente no princípio do século XVIII, existindo em Taubaté, de pais pobres porém honrados e empreendedores, Tomé Portes (23) , o qual obtida a licença de seus pais, em companhia de 2 ou 3 amigos desceu o rio Paraíba até à altura do Imbaú (24) dali subindo a serra da Mantiqueira atravessou diversos riachos e serras até encontrar um rio que, pelo volume de águas, foi pelo mesmo denominado de Grande Rio, nome que até hoje conserva: aí demorou-se o tempo preciso para fazer jangadas e canoas, a fim de transpor o rio, transposto o qual, descobriu grandes campinas pelo meio das quais serpenteava um rio pequeno na massa de suas águas, porém grande nas riquezas que encerrava; este rio é hoje o rio das Mortes (25).
As terras adjacentes são todas auríferas e Tomé Portes as tendo explorado e reconhecendo-as de fato terras auríferas saudou a seus companheiros e os convidou a batizarem aquelas terras com o nome de Terras de Bonfim; e nesse mesmo dia escreveu a seus pais em Taubaté, comunicando haver sido muito bem sucedido em sua empresa, e ter descoberto grandes minas de ouro.

São João Del Rey (1846). Gravura da obra Brésil; Colombie et Guyanes. Ferdinand Denis. Acervo BN Digital.


A fama deste sucesso constou logo no Rio de Janeiro e em Lisboa, e em menos de 2 anos, na margem esquerda do rio das Mortes, achava-se uma grande povoação, que é hoje a opulenta cidade de são João del Rei.
Por este tempo mais ou menos, um outro taubateano, de nome João Afonso Salgueiro  (26) descobriu as copiosas minas de ouro na serra denominada Ponta do Morro.
Este sucesso atraiu para ali várias famílias de São Paulo e São Sebastião, e deu lugar à fundação da vila de São João del Rei.

Lavagem do minério do ouro : a montanha itacolume. Cópia da obra de Rugendas pelo gravurista Alexis Victor Joly em 1835. Acervo BN Digital.

É dever do historiador imparcial neste lugar consignar um fato histórico de suma importância para Taubaté, e é que o primeiro descobridor de ouro no Brasil foi Rodrigues Arzão, natural de Taubaté (27), mas cujas viagens e derrotas para o interior dos sertões são completamente desconhecidas.

16 – Esses seriam os decantados e legendários “SERTÕES DOS CATAGUASES”, também conhecido por “SERTÕES DE TAUBATÉ” ou “MINAS DE TAUBATÉ” – região que compreendia todo o sul, grande parte do centro e o leste de Minas Gerais, atingida através de passagens naturais existentes na serra da Mantiqueira, isto é, as suas gargantas. Segundo Capistrano de Abreu em “Caminhos Antigos do Brasil”, citado por Gentil de Moura, eis a relação das principais: - “Na região de Piracaia (antiga cidade de Santo Antonio da Cachoeira) há as gargantas dos rios Muquim e Cachoeira, afluentes do rio Atibaia e situada entre os morros do Lopo e a Pedra do Selado. Fronteiras a Jacareí há as gargantas do rio do Peixe e do rio das Cobras, afluentes do Paraíba e situada ao sul do rio Selado. Fronteiras a São José dos Campos, há a garganta do rio Buquira. Fronteira a Pindamonhangaba e entre os morros de Itapeva e Pico Agudo, há a garganta do Piracuama. A partir de Jacareí, as gargantas convergem para a região mineira chamada do Sapucaí (São José do Paraíso e Sant’Ana do Sapucaí, hoje Paraisópolis e Sapucaí Mirim). Fronteira a Guaratinguetá há as gargantas de Piaguí e do ribeirão Guaratinguetá. Fronteira de Lorena, Piquete e Cachoeira (Bocaina) há a garganta do Embaú, onde se faz entrada para Minas Gerais, ganhando o vale do Passa Vinte, depois da travessia da serra.
Dessas passagens, a garganta de Embaú foi a mais utilizada pelos sertanistas do Vale do Paraíba: É descrita pelo pe. André João Antonil em seu livro “Cultura e Opulência do Brasil”, publicado em Lisboa, 1711, sob o título: “Roteiro do Caminho da Vila de São Paulo para as Minas Gerais e Rio das Velhas”.
17 – Antonio Dias de Oliveira era natural da vila de São Sebastião, no litoral norte paulista, (ou tendo ali aportado); segundo informa Paulino de Almeida, ele era judeu.
18 – Tomaz Lopes de Camargo, natural de São Paulo e filho de Fernando de Camargo Ortiz, portanto cunhado de Bartolomeu Bueno de Siqueira e Antonio Rodrigues de Arzão.
19 – Francisco Bueno da Silva, natural de São Paulo, era neto de Bartolomeu Bueno de Silva, o célebre Anhanguera.
20 – Possivelmente, o autor exagerou nessa afirmação. Antes, gente de Taubaté, inclusive o próprio Jacques Félix, já havia transposto a Mantiqueira e palmilhado grande parte dos sertões dessa serra, na preocupação de apresamento de gentio.
21 – A propósito do topônimo Ouro Preto, informa Antonil que – “das Minas Gerais dos Cataguás as melhores e de maior rendimento foram, até agora, a do ribeirão do Ouro Preto, a do Ribeirão de Nossa Senhora do Carmo e a do ribeirão de Bento Rodrigues...” E diz, mais adiante: “... o ouro a quem chamam de preto, por ter na superfície uma cor semelhante à do aço, antes de ir ao fogo, provando-se com o dente logo aparece amarelo, vivo gemado, e é mais fino porque chega a 23 quilates...” O arraial, fundado em 1699 por Antonio Dias, foi elevado a categoria de vila em 1711, sob o nome de Vila Rica de Nossa Senhora do Pilar Albuquerque; a 20 de março de 1823 passou a sediar a capital de Minas Gerais sob o nome de Ouro Preto, título que perdeu em 1897, quando tal prerrogativa passou para Belo Horizonte.
22 – Cidades mineiras fundadas por moradores de Taubaté (*): Caetés, Ouro Preto, Mariana, Jaguari, Itaberava, Pitangui, São João del Rei, Baependi, Pouso Alto, Ribeirão do Carmo, Passa Dez, Antonio Dias de Baixo, São José da Lagoa, Antonio Dias, Ibitipoca, Aiuruoca, Descoberto (Delfim Moreira), Rio Verde, Ouro Podre, Santana, Queimados, Ouro Fino, Soledade de Itajubá, Itutinga, Campanha, Paraopeba,etc.
(*) Por “moradores de Taubaté”, conhecidos por taubateanos, incluem-se sertanistas que, embora não residentes ou nascidos nessa vila, dela partiram e também, de algumas outras vilas e povoados vizinhos.
23 – Tomé Portes del Rei foi fundador de São João del Rei (1702) e São José del Rei, hoje Tiradentes.
24 – Refere-se o autor à célebre depressão geográfica da Mantiqueira situada entre Lorena e Cachoeira Paulista, denominada Garganta do Embaú (Vide nota 16).
25 – Sobre o rio das Mortes, vide o capítulo IX desta obra.
26 – Trata-se de João de Siqueira Afonso e não João Afonso Salgueiro.
27 – Antonio Rodrigues Arzão, natural de São Paulo e morador em Taubaté, em 1693 chefiando bandeira composta de 50 homens, dirigiu-se para a bacia do rio Doce, região conhecida como Sertão da Casa da Casca (Caetés, mais tarde) onde encontrou as primeiras amostras de ouro, as quais foram, em seguida, levadas à capitania do Espírito Santo e oficialmente entregues a seu capitão-mor governador. Este, entusiasmado com a descoberta de Antonio Rodrigues Arzão, determinou que aquele ouro fosse fundido e transformado em duas “memórias” (argolas) comemorativas do transcendental acontecimento.

Antonio Dias de Oliveira – Fundou o arraial que levou o seu nome e que, hoje, é um dos bairros de Ouro Preto. Na época, a antiga povoação era constituída por arraiais que foram sendo engolidos pelos dois principais, o de Antônio Dias e o de Ouro Preto. Fundou ainda outra cidade, que foi batizada com seu nome.
Tomé Portes Del Rey – Fundou o núcleo da região de São João Del Rey. Fez fortuna fabricando mantimentos para vender aos aventureiros que iam e vinham das Minas. Ganhou o título de Guarda-Mor, dado somente a homens de confiança do governo português. Foi assassinado por seus escravos.
João Siqueira Afonso – Foi um dos primeiros descobridores de ouro no Ribeirão do Carmo, na parte do Sumidouro e ainda no rio Guarapiranga. Contam que ele teria sido um dos fundadores do arraial de Guarapiranga que, mais tarde, viraria a cidade de Piranga. (Fonte: Suplemento "Bandeirante - simbolo ou enigma", Jornal Contato)