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III
Preponderância do elemento religioso e fundação do Convento

E como o elemento religioso predominasse naqueles tempos, e sem ele não pudesse empreender grandes cometimentos àqueles povos, solicitaram a vinda de novos frades franciscanos, receosos dos jesuítas, que poderiam fazer para a florescente vila o que tinham feito havia poucos anos para Santo André da Borda do Campo.
Por causa desse receio, de propósito preferiam frades franciscanos a jesuítas.
Então, vindo de Portugal frei Jerônimo de São Brás, religioso inteligente e ilustrado, que compreendeu perfeitamente a índole daqueles povos, os congregou e pregou-lhes a necessidade da construção de um convento ou casa religiosa para a qual, depois de regularmente estabelecida se chamasse a atenção e proteção do governo do Rio de Janeiro e da metrópole.
Este fato dá bem a entender o ciúme, ou antes, o receio que os taubateanos daqueles tempos nutriam de serem avassalados pelos paulistas.
Frei Jerônimo, obtido da Câmara e povo, um terreno para construção e patrimônio do convento, em pouco tempo viu coroados seus esforços; e em 1674 construiu o atual convento sob a invocação de Santa Clara (12).

Cidade de Taubaté: vista tomada do Convento de Santa Clara (1855). Publicado na obra Província de São Paulo, em 1870, pelo Barão Homem de Melo (Acervo Rede Memória/Biblioteca Mário de Andrade)
Cidade de Taubaté: Vista tomada do Convento de S. Clara. Imagem publicada no álbum Província de São Paulo, do Barão Homem de Melo (acervo Rede Memória/Biblioteca Mário de Andrade)


Desse tempo em diante afluíam para o convento de Santa Clara muitos religiosos franciscanos, havendo épocas de possuir o convento mais de 50 religiosos, os quais viviam em comunidade sob a direção de um guardião.
Houve época em que o convento possuía mais de 40 escravos, gentios de Guiné.
Posteriormente, por concessão pontifícia e régia, foi fundada a Ordem Terceira Franciscana (13), para a qual logo os frades religiosos trataram de introduzir as pessoas mais conceituadas do lugar pelo seu saber, pela sua religião e fortuna, e assim conseguiram aqueles frades implantar no ânimo  da população sentimentos religiosos.
Fundaram-se nesse tempo a igreja do Rosário (14) na extremidade da povoação, na estrada para São Paulo (15) e a capela de Nossa Senhora da Glória, no bairro do Tremembé, lugar aprazível e delicioso.

12 – Consta ter existido antes, o Convento Velho, talvez uma residência com sala servindo de capela, onde inicialmente, teriam se alojado os primeiros franciscanos. Possivelmente teria sido nas proximidades da atual Capela de Sant’Ana – esse “convento provisório” e que, por extensão, serviu para dar nome ao riacho próximo – córrego do Convento Velho – em uso até o presente.
13 – A Ordem Terceira foi fundada em 1757. (Vide Frei Ricardo Maria de Deno: - “A Reforma da Venerável Ordem Terceira de São Francisco de Taubaté” – 1933).
14 – Atual Igreja de Nossa Senhora do Rosário (dos Homens Pretos), foi fundada em 1705, tendo existido nela cemitério para os escravos. Como estivesse ameaçando ruínas, a irmandade ordenou reconstituí-la em 1861. Por falta de recurso em prosseguir o trabalho de reedificação, estabeleceu-se uma associação de 20 pessoas da qual fizeram parte prestantes cidadãos entre os quais o major Francisco Fernandes, comendador José Rodolfo, coronel José Mariano de Oliveira Costa, José Gabriel Monteiro e Francisco de Andrade Rosa, sendo a Igreja, tal como ainda o é hoje, sido inaugurada a 1º de novembro de 1888.
15 – Essa “Estrada para São Paulo” começava exatamente do lado direito da Igreja da Nossa Senhora do Rosário, seguindo o traçado da rua dr. Emílio Winther, (anteriormente rua de Nossa Senhora da Piedade) continuando mais ou menos obedecendo o trajeto da atual avenida Independência. (Vide, cópia da planta da vila de Taubaté, desenhada em 1821 por Arnaud JulienPallière, no “Apêndice” de documentos iconográficos – última parte desta reedição.)

O Convento de Santa Clara foi construído num dos pontos mais elevados da cidade e era a maior edificação da região. A obra foi toda custeada pelos taubateanos. (Fonte: Revista Almanaque Taubaté #2)
Um dos religiosos abrigados pelo Convento foi Frei Galvão, o primeiro santo brasileiro, em meados de 1760. Consta que um de seus milagres, reconhecido pelo Vaticano para que se tornasse santo, ocorreu ali. (Fonte: Revista Almanaque Taubaté #2)
Também o Bispo Rodovalho, ou Antônio de Melo Freitas, foi aceito no Convento, em 1761. Bispo de Angola e confessor de D. Maria I, ele foi, segundo o historiador Frei Basília Röwer, o maior orador sacro da Ordem Franciscana no Brasil. Rodovalho dá nome a uma das ruas da área central de Taubaté. (Fonte: Revista Almanaque Taubaté #5)
Os escravos chegaram a Taubaté no século 17. Vinham de algumas nações, como Angola, Benguela, Cabinda, Cassange, Congo, Mina, Moçambique e Monjolo. A escravidão em Taubaté, por deixar de ser rentável aos fazendeiros, foi abolida em dia 4 de março de 1888. O ato antecedeu em 40 dias a Abolição da Escravatura assinada pela Princesa Isabel. (Fonte: Revista Almanaque Taubaté #5)