Taubaté de Arthur Audrá

 Taubaté de Arthur Audrá
De Taubaté partiram as principais Bandeiras a procura das riquezas do país, alargando suas fronteiras. Foram Arzão (descobridor das minas de ouro das Gerais). Depois Bartholomeu Bueno, Jacques Felix e muitos outros. Este último conseguiu elevar o arraial à condição de Vila de Taubaté (5-12-1645).

Taubaté era a capital do desbravamento do Brasil Central.

Tanto foi o ouro, que por aqui em Taubaté mesmo foi instalada a Casa da Fundição. (1.695). Era fundido em barras com a cunhagem do peso e dos quilates. Sempre no lombo de burro, seguia até o Porto de Ubatuba, o único porto livre do litoral paulista na época (porto livre era o que tinha profundidade para atracagem dos barcos vindos do reino).

 

Taubaté era a capital do Ouro.

Ainda no Brasil-colônia, com a chegada de mudas de café da Etiópia, o Vale floresceu e foi o grande sustentáculo da economia do país.

 

Taubaté era a capital do café.

Mais tarde, Monteiro Lobato denominou os cafezais do Vale de “Onda Verde.” Mas a estrada para Ubatuba tornou-se inviável para o volume da exportação. Então, já no segundo Império, D. Pedro II resolveu fazer uma estrada de ferro para Ubatuba. Ela saia do bairro do Humaitá e passava pela fazenda Cataguá, sempre em curva de nível absoluto. O leito é hoje a rua Felix Guisard Filho, nas Chácaras Cataguá. Passava pelo fundo da sede da fazenda e do terreiro de secagem de café (hoje Apae), onde fizeram pequeno paradouro. Seguia em demanda ao bairro do Registro, onde construíram a primeira estação, que perdurou até há alguns anos. Entretanto, o banco que financiava a obra desistiu e a construção paralisou. D.Pedro não esmoreceu. Pela Lei de 26-6-1852 e concessão de 9-5-1855 autorizou a construção de uma estrada de ferro do Rio de Janeiro até Cachoeira (os empreiteiros deram-lhe o nome de Estrada de Ferro D.Pedro II).

Acreditava-se que o grande empreendimento, supostamente sem gastar dinheiro público, daria escoamento à grande safra do Vale do Paraíba. E de fato foi providencial. O café seguia para o porto do Rio de Janeiro. Os paulistas resolveram fazer o trecho São Paulo-Cachoeira. Embora de bitolas diferentes (depois unificadas) surgiu a Estrada de Ferro Central do Brasil(1870). Eis a curiosidade:

O café começou a ir para São Paulo com destino ao porto de Santos. Com as terras exauridas e a queda da produção, surgiu o Acordo do Café, aqui mesmo em Taubaté (23-02-1906). Nesse acordo o governo propiciava várias isenções para os fazendeiros que rumassem para o oeste Paulista, a fim de aumentar a produção de café. A cidade que de imediato se destacou na produção do novo ouro verde foi Campinas, que havia sido fundada em 1773 pelo taubateano Francisco Barreto Leme. Depois vieram outras tendo como centro a cidade de Ribeirão Preto. Surgiram as grandes fazendas e com elas os Barões do Café. A terra vermelha dava novo entusiasmo aos cafeicultores. Dali ao norte do Paraná foi um pulo rápido, nascendo grandes centros produtores de café fino (devido à terra roxa): Ourinhos, Londrina, Maringá…

Para tristeza de seus moradores, o Vale entrou em decadência. Monteiro Lobato descreve este período no livro “Cidades Mortas”.

Conheci o grande escritor lá por 1946, quando passava férias na fazenda Paraíso, vizinha da nossa fazenda Maristela. Ao nos cumprimentarmos, lembrou os laços de família, dizendo que era primo de minha sogra Maricotinha, como carinhosamente a chamavam. Ele compunha seu último livro, “A Barca de Gleyre”, uma coletânea da enorme correspondência de toda uma vida. Conversamos por horas e a partir dali entendi que o livro Cidades Mortas(que em 1922 gerou reações iradas em todas as cidades valeparaibanas) foi para espicaçar o amor próprio de seus moradores. E acertou, porque houve uma reação benéfica (a partir de 1930). Taubaté partiu na frente, tornando-se a Capital Industrial e cultural do Vale do Paraíba pelo número de indústrias e usinas de beneficiamento que aqui se instalaram e pelos valores culturais que se destacaram.

A cidade teve as duas maiores fábricas de tecidos da América do Sul: A CTI fundada por Felix Guisard (1891) e produtora do conhecidíssimo morim Ave Maria e a fábrica de sacaria de juta fundada por Mário Audrá (1930). Esses dois grandes brasileiro, homens com visão voltada para as novas gerações, para o futuro, criaram em suas fábricas o maior núcleo de assistência social do país. Davam atendimento integral aos trabalhadores e suas famílias (assistência médica nos ambulatórios e nas residências, creche, escolas pré-infantis, grupo escolar, praça de esportes com professores de Educação Física, campo de futebol, Clube Social, Cine-Teatro, colônias de férias em Ubatuba e São Sebastião, Cooperativa de Consumo (leiteria, açougue, quitandas, armazém de “secos e molhados” e loja de roupas). Eram dirigidas por diretoria eleita pelos trabalhadores. Inclusive foram construídas moradias, vendidas a preço de custo, com vinte anos de prazo sem juros (Vila CTI – Vilas São Geraldo e Fabril de Juta).

Em frente a Juta, a fábrica de botões de castanha do Pará, a Corozita, de Eleusipo Silveira Pinto, depois de meu saudoso amigo Gino Lanfranchi. Mais tarde, mudou a fábrica para a saída de Tremembé, modernizando-a para botões de matéria plástica, é dirigida por seus filhos Carlos e Lino, auxiliados por Luiz Bodra, o mesmo que incentivou a aviação local. Conheci-o há mais de 50 anos, quando, com outros amigos meus, Antoninho Felício Moreira, Paulinho Tauil e Ramiro Calvino, todos eficazes colaboradores de meu amigo Jorge Alam na grande Cerealista Taubaté.

Surgiu a usina de beneficiamento de açúcar da família Santos, de beneficiar arroz dos Ardito, dos Lerário, de Jorge Alam e de Daniel Cara. A indústria de louças e porcelana da família Monteiro. Casas comerciais de primeira linha como a Casa Cabral da dupla Vale e Guimarães, a casa de roupas e sapatos do Jamil, a mercearia de seu Miranda, a grande farmácia do Castro Nápoles, a loja de ferragens dos Ambrogi e por fim a Casa Taubaté, um mini shoping idealisado e erigido pelo Dr. Felix Guisard Filho que, como seu pai, era um homem avançado no tempo(hoje é o prédio da Secretaria da Fazenda, chamado hoje de tesourinho).

Auditório do Cine Pallas

O Teatro da Ópera, do primeiro Império, tornou-se ruínas. Surgiu então o Cine-Teatro Polythiama. Mais tarde abriu-se o novo e grande Cine Palas, da família Dias, e depois Teatro São João. As famílias de Quiririm, com sua fábrica de cordas dos Indiani, das famílias de rizicultores como Mancastropi, Canavese, Pistili, Gadioli e muitos outros que produziam grandes safras de arroz. Na época a cidade contou com 67 indústrias. Em Tremembé, a serraria e fábrica de artefatos de couro de meu velho amigo Eugênio Guisard, as casas comerciais dos Banhara e dos Siqueira, a padaria do Neves, cuja esposa, dona Mariquinhas, fazia famosos biscoitos.

Tínhamos o Centro Recreativo, os salões da Associação Comercial. Aos domingos, à tardinha, ouvíamos no coreto da estação da Estrada de Ferro Central do Brasil, a romântica música da Lira Taubateense, que foi exaltada pelo jornal O Taubateense, fundado em 29-8-1861 por Antônio Gomes de Araújo. Na arte musical, se sobressaia o professor Fêgo, grande violoncelista e professor de minha sogra Maricotinha (a prima de Monteiro Lobato) que tocou violino até seus 90 anos. Segesfredo (Fêgo) Camargo era pai de Hebe Camargo, grande cantora da época, hoje Primeira Dama da Televisão Brasileira. Mais tarde surgiu uma jovem cantora lírica Jacyra Manara, depois Cely e Nelson Campello na música romântica e pop. Todos se tornaram famosos e levaram a música além das fronteiras de Taubaté.

Nas artes cênicas quem melhor poderia representar Taubaté do que Mazzaropi e Renato Consorte? Nas comunicações, impossível esquecer meus bons amigos Emilio Amadei Beringhs, fundador da Radio Difusora Taubaté, com seu inseparável companheiro Benedito Pereira e de onde surgiu Cid Moreira o locutor número um do país.

Com Alberto Guisard, foram os grandes incentivadores do Rádio Amadorismo (a Labre era a Internet de hoje; falava-se com o mundo inteiro, com a vantagem de não se usar telefone) Dona Ondina, esposa de Emílio que fundou e dirigiu a vida inteira a Casa da Criança. O hospital Santa Isabel, fundado pelos Monteiro e ampliado pelos Guisard. O Orfanato Santa Verônica, erigido e mantido por Dona Jeanne Guisard. O Asilo de velhinhos, construído e mantido por Felix Guisard. Nas letras, além de Monteiro Lobato, que ultrapassou as fronteiras do Brasil, tivemos o genial Cesídio Ambrogi, professor Gentil Camargo (pai de meu amigo Geninho), Oswaldo Barbosa Guisard, Benedito Marcondes Ferreira e tantos outros.

No jornalismo, e só falando dos contemporâneos(Taubaté foi a cidade do Vale que mais jornais teve), destacaram-se Evandro Campos, Waldemar Duarte, Levy Breterick, José Saturnino, Dr. Felix Guisard Filho (historiador de renome). No ensino destacavam-se o Externato São José e o Colégio Bom Conselho, famoso pela fina educação que dava às jovens que vinham de todo o país e muitas do exterior. Nos esportes, o Esporte Clube Taubaté foi bi-campeão de futebol do interior do Estado. Iniciou-se a construção do Taubaté Country Club (1936) cuja inauguração (1938) marcou época na história social do Vale, vindo famílias de todas as cidades da região. A seguir Taubaté sedia os Jogos Abertos do Interior(1944), recebendo mais de 1.700 atletas de todo o interior do Brasil. O desfile inaugural foi um verdadeiro festival de cores pelas roupas coloridas e bandeiras das 64 delegações esportivas. A cidade ficou em festa por uma semana. Em 1946, o Country Club torna-se tri-campeão do Estado em basquetebol, nos Jogos Abertos do Interior sediados em Santos(Havia ganhado em Taubaté 1944 e em Campinas 1945). Foi também campeão do Vale em tênis e voleibol(1947). Foi assim que Taubaté se tornou a Capital dos esportes no Vale.

Aviadores de Taubaté. Arthur Audrá é o quinto, da esquerda para direita.

E também na aviação, Taubaté foi a pioneira. Em 1935 Otávio Guisard, filho mais moço do casal Felix-Jeanne, chegando em meu escritório da Juta em sua moto Harley-Davidson de 1.200 cilindradas e parando ao lado da minha, convidou-me para fundar o Aeroclube Taubaté. Precisávamos de um nome para a presidência. Otávio convidou seu irmão Raul, um dos diretores da CTI.

“O campo você já fez (ali onde é hoje a Fábrica Ford) e avião?”, perguntei-lhe. “Eu tenho um amigo no Campo de Marte em São Paulo, vou convidá-lo”, respondeu.

Dois dias depois ele chegava no pequeno Klemm Aeromarine, de fabricação Argentina, asa baixa, motor de 75 hp, com a velocidade de 110 kms por hora. Era feito de madeira compensada e recoberto de tela de seda Tinha dois lugares, um na frente outro atrás. Não tendo cabine fechada usava-se o capacete de couro e óculos grandes apropriados. Juvenal Paixão, seu proprietário e piloto instrutor, um cara bacana já nos 40 anos, ficou morando numa pequena casa que havia na margem do campo. Compramos madeira , folhas de zinco e num mutirão com outros amigos construímos o hangar (barracão). Em 26 de setembro de 1936, veio à banca examinadora do campo de Marte, de São Paulo, em três aviões Waco, de fabricação americana. Eram o major Montenegro, o capitão Anísio Botelho, três tenentes e o sargento Tolentino.Todos estão na foto daquele dia. O aluno era eu. Fui aprovado e recebi o brevet número 267 da Federação Aeronáutica Internacional. Dois meses depois, Raul recebia o seu brevet. Alguns rapazes também, dentre eles o Berbari, que se aposentou brigadeiro e um jovem filho do Aleandro da farmácia (rua Duque de Caxias). Quando Juvenal voltou para São Paulo, Astério Braga ficou em seu lugar, um cidadão amável, otimista e grande acrobata aéreo. Recebeu um Bicker Jungman alemão, biplano para altas acrobacias.

Daí surgiu um dos maiores fenômenos da aviação brasileira: Joaninha Martins Castilho que, com 15 anos, fazia as mais difíceis acrobacias permitidas pelo pequeno avião. Na fazenda Maristela, fizemos um aeródromo com hangar e rádio farol que alcançava até 50 quilômetros. Seu prefixo era MA (ficava no ar 24 horas emitindo MA em código Morse (- – – . -). Poderiam ser as iniciais de Maristela, nome da fazenda e de nosso avião bi-motor inglês, o Dragon De Havilland biplano ou ainda as iniciais de MárioAudrá…

O Dragon já voava a 228 kms por hora, com seus dois motores de 200 hp, Gipsy invertidos. Nele completei minhas primeiras mil horas de vôo. Muitos pilotos, em meio ao mau tempo, se socorreram do aeródromo e seu radiogoniométrico, emitindo MA permanentemente.

Em 1941, organizamos uma revoada para a apresentação de Joaninha, a menina prodígio. Compareceram 64 aviões de várias procedências: Assis Chateaubriand com seu Beechcraft, o Presidente Getúlio Vargas em seu Lockeed pilotado pelo major Faria Lima (depois brigadeiro e com nome de rua em Taubaté). O governador de São Paulo, Adhemar de Barros, em seu Stinson Reliant comandado por Severiano Lins, um avião da Alitalia no qual veio Gago Coutinho, o primeiro brasileiro a atravessar o Oceano Atlântico na companhia de Sacadura Cabral (1922). Renato Pedroso, piloto de Assis Chateaubriand fez uma bela demonstração de acrobacia aérea. Em seguida era a vez de Joaninha. A expectativa era grande. De macacão e capacete brancos a menina decolou com o Bicker e fez uma demonstração jamais vista nos céus do Brasil. Quando desceu do avião todos os presentes foram ao seu encontro, Dr. Getúlio , Dr. Adhemar, o Prefeito Álvaro Marcondes de Mattos e os pilotos presentes ergueram a menina e a jogaram três vezes ao ar. Aquilo queria dizer que ela estava batizada como a primeira acrobata aérea do Brasil. No ano seguinte ela foi com Astério para o Rio de Janeiro, para participar do concurso brasileiro. A primeira acrobata tinha sido Anésia Pinheiro Machado, a segunda Ada Rogato, ambas presentes. O local era o campo de Manguinhos. O Presidente Vargas compareceu. No final, Joaninha foi sagrada Campeã brasileira de Acrobacia Aérea, recebendo a medalha de ouro e outros prêmios das mãos do Presidente da República. Nós esticamos em nosso avião a faixa Taubaté. Poucas vezes na vida tive emoção igual àquela. Os Diários Associados do Rio e de São Paulo fizeram uma cobertura extraordinária da festa. Os outros jornais e revistas os acompanharam. Mais tarde a Ford comprou o terreno do campo de aviação. Como presidente do AeroClube, Luiz Bodra transferiu o clube para o aeródromo da fazenda Maristela. Ele mesmo como piloto instrutor fez muitos alunos, inclusive meu particular amigo José Brás. A partir daí, tendo ido morar no exterior , sabia apenas as notícias dos jornais. Hoje, soube que o AeroClube Taubaté renasceu na Base Aérea dos Helicópteros do Exercito(COMAVEX).

Para falar a verdade nem sei onde é. Nenhum convite recebi para visitá-lo, o que me propiciaria entregar fotos dos primórdios do Clube (1936) aqui descritos. Este é assunto que já virou história contemporânea da aviação, porque lá se foram 63 anos.

A década de 1920 foi trágica para as cidades do Vale. Cafezais velhos, não houveram cuidado de renovação, baixa produção, paralisação da exportação. A Colômbia e o Equador, com cafezais novos e de produto de alta qualidade, entravam de frente nos mercados estrangeiros. Mas, as décadas de 1930 e 1940 foram altamente promissoras, com um progresso que levou Taubaté novamente a ser chamada Capital do Vale.

Nessa mesma década iniciou-se a produção de laranjas. O Vale inteiro plantou laranja(era o velho hábito dos brasileiros, quando um ia, todos iam atrás) para exportação. Surgiram vários packing houses, grandes usinas de preparo e embalagem de laranjas que, encaixotadas demandavam o porto de São Sebastião, onde a empresa Blue Star Line, levava o produto diretamente para a Inglaterra. A guerra na Europa começou em setembro de 1939. Os submarinos alemães operavam no Atlântico Sul, obrigando os navios a andarem em comboios escoltados por unidades de guerra. Apesar disso reduziu-se sobremodo a exportação. Os packing houses começaram a parar. Foi então que Mário Audrá, homem de visão, foi para os Estados Unidos e lá comprou uma fábrica completa para suco de laranja concentrado e enlatado, bem como o aproveitamento integral do bagaço da fruta. Porém, exigiu uma condição: não mais que dois meses para os técnicos americanos darem a fábrica em pleno funcionamento. Quando os packings pararam definitivamente, a nova empresa de nome Ramicel S/A, instalada em terreno defronte da fábrica de juta, e dirigida pelo autor destas linhas, começou a comprar toda a laranja do Vale e beneficiá-la em larga escala. Muitos produtores davam as laranjas gratuitamente com a condição de uma colheita correta e limpeza do terreno para que se evitasse a criação de pragas. O aproveitamento era total, o suco da laranja era enlatado na proporção de uma lata de um litro para oito caixas de laranjas. As centrifugas de alta rotação produziam o óleo essencial vendido a alto preço no mercado americano. Depois de extraído, o óleo da casca era levado para moedores de alta rotação, cujo produto ainda aquoso, ia para fornos rotativos e produzia farelo para ração de gado leiteiro e outros animais. Mas o primeiro sério problema surgiu: acabou a gasolina no país. O engenheiro químico da empresa, utilizando as retortas de concentração do suco, conseguiu produzir álcool anídrico de 99 graus e sem vestígio de água. Colocado nos tanques dos caminhões foi só dar partida para rodarem sem necessidade de nenhuma adaptação. Estava resolvido o problema do transporte. Uma característica inesperada punha de sobreaviso os fornecedores de laranja. É que de longe sentiam o cheiro de laranja que saia pelo cano de escapamento dos caminhões, que pararam de poluir quando expeliam monóxido de carbono. Assim continuava Taubaté como capital do Vale, novamente grande fornecedora de divisas para o país, em plena Segunda Guerra Mundial.

São José dos Campos não está neste contexto, porque na época era pequena cidade climática com alguns sanatórios, uma fábrica de louças e uma tecelagem de cobertores. O prefeito era nomeado pelo governador do estado. Entretanto, onde hoje é ITA e EMBRAER era o campo do AeroClube da cidade. Não posso deixar de citá-lo, porque ali se organizou o primeiro núcleo de vôo a vela do país. Seus planadores enfeitavam os céus do Vale e competiam em outras cidades. O governo do General Dutra , mesmo antes que a Rodovia ficasse pronta, criou o Instituto Técnico de Aeronáutica – ITA. Com a implantação da General Motors do Brasil, a cidade explodiu em progresso vertiginoso e hoje é a capital econômica do Vale.

Agora vamos olhar para o futuro e sonhar como será a nossa Taubaté no ano 2.050. Ficará apenas a meia hora de São Paulo e uma hora do Rio de Janeiro pelo trem de alta velocidade. Nas praças de Santa Terezinha, Jardim da Estação e no Bosque, onde é hoje um supermercado, três garagens subterrâneas para 1.000 carros cada uma, construídas pela iniciativa privada, que terão sua concessão por 20 anos (como D.Pedro II fez com a Estrada de Ferro até Cachoeira). Com essas garagens a cidade poderá ser um grande calçadão, com pequenos carros elétricos circulando permanentemente por toda a área(passagem gratuita- como em Miami e Los Angeles). Os passageiros descem em frente da casa comercial ou Bancos que desejarem. Assim também os moradores do centro terão a garagem gratuita. No terreno onde está o supermercado e sobre a garagem, será construído um edifício de dez andares onde se concentrarão todas as repartições públicas federais e estaduais. As redes de energia elétrica e de telefone passarão a serem subterrâneas, evitando-se assim o embaraço que causam com o arvoredo. A estação rodoviária do centro será triplicada, com um andar para ônibus por baixo, outro no nível do chão e outro por cima. Para o alto, um shoping de seis ou mais andares com heliporto. O mercado atual terá andares para baixo e para cima, como o da cidade de Lima, capital do Peru. Um nonoreil (trenzinho elevado) saíra do aeroporto e cruzará a cidade com paradas várias, semelhante ao de Tóquio. A base de helicópteros terá um setor especializado para servir os que dele necessitarem e a preço de custo. Bem, vamos parar por aqui, porque o sonho chega muito mais rápido do que a gente imagina. Sem sonhar, ninguém vive neste mundo.

Taubaté, 21-12-98.

 

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7 Comments

  • Adorei, principalmente a parte sobre a aviação. Gostaria de acrescentar que o ” jovem filho do Aleandro da farmácia (rua Duque de Caxias, na verdade se chama Luiz Carlos Aliandro, filho de Carlos Norberto Aliandro e Maria Francisca Andrade Aliandro, dono da farmácia Aliandro na Rua Duque . Ele é meu pai. Meu pai saiu de Taubaté para entrar na Escola de Aviação dos Campos dos Afonsos – RJ, se formou oficial aviador de caça aos 21 anos de idade, no ano de 1944, na primeira Turma da Escola de Aeronáutica e participou da 2ª Guerra Mundial. O primeiro avião que pilotou durante sua instrução era de madeira e o último foi um Mirage Supersônico. Fez toda a sua carreira na Força Aérea, durante mais de 44 anos, tendo entrado para a reserva no posto de Marechal do Ar, último posto da carreira. Meu pai, falecido no ano de 1995, se encontra sepultado em Brasília, foi, também, entre diversos cargos importantes dentro da Força Aérea Brasileira, Sub-Comandante do COMAR, sediado no Recife,Sub-Comandante da Escola Superior de Guerra, no Rio de Janeiro, sediado em Recife, Comandante da Base Aérea de Florianópolis, Comandante da Escola Preparatória de Cadetes do Ar, em Barbacena – MG, Comandante do Comando de Defesa Aérea (COMDA), em Brasília. Possui mais de trinta condecorações, entre elas as de guerra, estrangeiras (França, Portugal, etc..) e tantos outras. Falava e escrevia fluentemente em várias linguas e possuía vários cursos, inclusive nos Estados Unidos. Este é o meu pai. Taubateano de coração, casado com Maria Thaïs Cembranelli Aliandro, filha de Ulderico Cembranelli e Maria Lucy Guisard Cembranelli, filha de João Batista Guisard e Alcina Guisard. Com muita emoção, daqui de Brasília, um abraço a todos os taubateanos. Regina Cembranelli Aliandro

    • Regina,
      essa é mais uma informação que demonstra que os taubateanos fazem história em todos os lugares. É uma satisfação e uma honra conhecer um pouco mais da história de um taubateano, saído de uma farmácia, conquistador dos céus.
      Obrigado por mais essa informação.
      Saudações.

  • Que belo texto do querido Arthur Audrá. Um único equívoco que não tira nem um tiquinho do brilho de seu relato. Ele fala de Celly Campello e Nelson. Na verdade o cantor é o Sergio que adotou o nome de Tony. Nelsinho continua em Taubaté, com sua loja e nadando muito bem.

    • Somente um profundo conhecedor da nossa terra para poder empregar correções a um texto do Audrá. Paulo Pereira é um desses. Que maravilha!

  • Muito legal esse texto, me fez sonhar com o ontem e o amanhã de Taubaté e pode aprender um pouco mais.

  • Maravilhosa a explanação de Arthur Audrá. Verdadeira aula de história regional e uma viagem ao tempo para as gerações vindouras. Lições perenes de nacionalismo e patriotismo que somente pessoas ilustres como Arthur Audrá seriam capazes de testemunhar para a compreensão da história. Magnífico também o esclarecimento de Regina Cembranelli Aliandro sobre seu pai, Marechal do Ar Luiz Carlos Aliandro, o qual fará parte de meu site na parte referente à “Biografias In Memoriam”. Quanto ao Almanaque Urupês, sinto-me orgulhoso por Taubaté possuir pessoas abnegadas e sérias como os Irmãos Rubin, que tanto fazem pela divulgação cultural de Taubaté e de toda a Região. São dignos de pertencerem à escol dos grandes historiadores. Um grande abraço a todos. Professor e historiador Gilberto da Costa Ferreira.

  • […] […]

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