Quando o mais famoso esporte bretão ainda desembarcava em território tupiniquim, ninguém sequer pensava em ver o football como profissão – e nem em traduzir as suas infindáveis terminologias.
Era comum que os players pagassem para participar dos matches. Em Taubaté, como conta uma das crônicas de Oswaldo Barbosa Guisard (http://www.almanaqueurupes.com.br/index.php/?p=1589), os foot-ballers investiam dois mil réis de mensalidade ao Sport Club Taubateense e adquiriam seu próprio material de jogo. O dinheiro era usado para as despesas com a manutenção do ground, pagamento do zelador, etc.
O Taubateense jogava no centro do ground do velódromo, onde aconteciam os páreos de bicicleta, então esporte mais popular de Taubaté, onde foram marcadas as touch-lines e as goal-lines e os place-kick.
Dentre os players da primeira formação do Taubateense, o mais famoso foi o goal-keeper (goleiro) Raphael Gaspar Falco, não pelo seu talento atlético, mas pelo talento artístico.
Raphael Falco, nascido na Argélia, filho de Gaspar Falco e Antonia Jean Falco, em 1885, foi pintor, fotógrafo, professor de artes e teórico da educação. Aos 10 anos de idade já se encontrava em Taubaté. Aos 20 era goleiro do Taubateense.
Não se sabe quando, mas o goal-keeper emigrou para São Carlos, onde passou quase toda a vida.
Naquela cidade tornou-se professor da Escola Normal, lecionando nas cadeiras de desenho e caligrafia. Já em 1911, ilustrava e escrevia na revista Excelsior, teorizando sobre o ensino e a aprendizagem.
Em 1951 pintou sua obra mais famosa. “Tiradentes Ante o Carrasco”, obra premiada no Salão de Belas Artes daquele ano, transformada, nos anos 70, em estampa da cédula de 5000 cruzeiros reais.
A obra é bastante conhecida e tem grande visibilidade graças às incontáveis imagens produzidas no plenário do Conselho de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) da Câmara dos Deputados, ambiente que atualmente protagoniza alguns dos maiores embates políticos das instituições federais. A obra ocupa o fundo da mesa diretora, mesma mesa onde muitos dos mais polêmicos e recentes depoimentos de autoridades políticas aconteceram.
Nos anos 40 tornou-se ilustrador da revista Caça e Pesca, desenhando a capa de várias edições do periódico.
O goleiro-pintor morreu em São Paulo, em 1967. É pouco conhecido nos circuitos artísticos, e muito menos como goleiro do primeiro time de futebol de Taubaté.