Jaguara, o bandeirante faminto por vidas
Minas Gerais ainda era um protótipo quando o taubateano Jaguara era temido em seus povoados. Há mais de 50 anos ele ganhou estátua no centro comercial de Campos do Jordão
Jaguara era um taubateano, matador por ofício- opinião de seus detratores- que fez (má) fama na Minas Gerais dos primeiros tempos aterrorizando a população local. Diziam que ele semeava as ruas de chumbo. Jaguara foi comparado a um personagem da mitologia grega: Cérbero, o cão de três cabeças que guardava os portões do inferno. Pelo menos foi assim que ele foi retratado por seus desafetos em documentos históricos.
Antes de transpor a Serra da Mantiqueira, o Capitão Gaspar Vaz da Cunha, fez por merecer uma estátua na Suíça brasileira; o Jaguara foi o primeiro homem branco a pisar em Campos do Jordão. Segundo matéria do jornalista Gilmar Silva,
por volta de 1703 ao por os pés na região se deparou com belas paisagens e tribos indígenas. Bruto e cruel, como a maioria dos bandeirantes, Cunha logo passou a ser chamado de “Oyaguara” (algo como cão feroz ou lobo) pelos índios.
Apesar da falta de compaixão demonstrada com os indígenas, Oyaguara é uma figura importante no descobrimento de Campos, uma espécie de primeiro agente de turismo da história da cidade.
Atraído pelo ciclo do ouro, Oyaguara permaneceu pouco tempo em terras jordanenses e logo migrou para seu destino final, a região de Itajubá, no sul de Minas Gerais. Chegando lá contou extasiado aos mineiros sobre a exuberante natureza, o multicolorido das flores silvestres, a elegância dos pinheirais, as águas das cachoeiras, o frio cortante e o impressionante céu azul. “Um paraíso na terra”, teria dito.
(leia o artigo completo clicando aqui)
O Jaguara em documentos históricos
Segundo outros relatos, em terras mineiras, o Jaguara não se ocupou apenas de divulgar as belezas da futura Campos do Jordão. Na visão de alguns de seus contemporâneos, o sertanista foi, literalmente, o terror do pedaço.
“um taubateano cognominado Jaguara, que pela língua da terra é o mesmo que cachorro bravo, o qual quando se embriagava tomava por empresa o fazer-se pôr a cavalo e, armado com os seus escravos, encaminhar-se por distância de mais de uma légua para este arraial, e entrava por ele dando mostras de sua bebacidade pelas bocas de suas espingardas, semeando as ruas de chumbo, e pela sua mesma boca com tais latidos que o mesmo era Jaguara neste arraial que o Cérbero no inferno, e em tudo o mesmo, porque se o Cérbero no inferno era faminto das almas o Jaguara nas Minas o era das vidas, em que ceava a sua fome e a de alguns amigos que se queriam valer da sua boa vontade.”
(relato de José Álvares de Oliveira em História do distrito do Rio das Mortes, sua descrição, descobrimentos das suas minas, casos nele acontecidos entre paulistas e emboabas e ereção das suas vilas. Códice Costa Matoso… p. 278-79)
Homenagem
A fama de mau não foi empecilho para que o Jaguara fosse homenageado pelos jordanenses. Na vila Abernéssia, centro comercial de Campos do Jordão, uma estátua localizada na Praça Julio Domingues Pereira, mais conhecida como Praça da Telefônica, presta homenagem ao desbravador desde 1961.
O Jaguará, segundo Taubaté
Segundo a obra “São Francisco das Chagas de Taubaté, de José Bernardo Ortiz, o Capitão Gaspar Vaz da Cunha, apelidado o Jaguara ou o Jaguaretê, morador de Taubaté, foi juiz ordinário e de orfãos em 1678 e recebeu sesmaria no bairro de Piracuama, em 1700.
Em 1703 fez abrir caminho, provavelmente cortando essa sesmaria, unindo o bairro de Pindamonhangaba ao Sapucaí, o que facilitou o acesso às regiões auríferas pela garganta de Piracuama.
Foi um bandeirante destemido, que partindo de Taubaté demandou o rio das Mortes no final da última década seiscentista. Incluiu-se entre os pioneiros no descobrimento de ouro nessa região, em que acampou com sua bandeira e onde os índios lhe mostraram o metal precioso no capim, sob forma de folhetas e grãos. Aí instalou ele suas lavras e se tornou um ferrenho inimigo dos emboabas.
As últimas sobre Jaguara
Em um trecho do livro Boa Ventura!, lançado em 2011, o jornalista Lucas Figueiredo conta uma versão bem diferente sobre a identidade e o destino do terrível Jaguara.
José Machado, o Jaguara, um taubateano odiado pelos emboabas, tido como “matador por ofício” e arruaceiro violento, desentendeu-se com o reinol Domingos Ribeiro. Depois da discussão, Jaguara se refugiou na casa de um ferreiro, à espera que um tio seu, o rico e poderoso Simão Pereira de Faro, viesse resgatá-lo. O tio de fato foi ao encontro do sobrinho, mas encontrou uma turba enfurecida. Resultado: os forasteiros mataram Jaguara e seu tio e depois botaram fogo na casa do ferreiro.
Quem foi o verdadeiro Jaguara?
Afinal quem foi o temível Jaguara? Seria o Capitão Gaspar Vaz da Cunha, como afirmam a maioria dos historiadores? Ou seria José Machado, segundo o relato do jornalista Lucas Figueiredo?
A resposta, por enquanto, está em aberto.
O certo é que o Jaguara foi bem conhecido nos primeiros anos de Minas Gerais.
E ainda ganhou uma estátua num dos mais valorizados centros turísticos do Brasil.