AOS POETAS E LETRISTAS INICIANTES, COM AMOR
Por Teteco dos Anjos
Uma dica aos “iniciantes” poetas e letristas de música . Quem se propõe a escrever poesia “de verdade” precisa, antes de tudo, se propor a “ler”, em demasia, a “poesia de verdade”. Ou como diria Arthur Rimbaud: “fazer o mágico estudo na iniludível ventura”.
Vou explicar. O lance é estudo mesmo. Por exemplo, uma pessoa que se propõe a ser um exímio instrumentista precisa estudar muita música. Estudar muita música mesmo!!! E treinar e treinar e treinar. O mesmo ocorre com a poesia, ou a famigerada “letra de canção”; é preciso estudar e estudar e treinar e treinar.
Vinícius de Moraes, Noel Rosa, Chico Buarque, Aldir Blanc, Paulo César Pinheiro, Caetano, Gil, entre outros tantos bons letristas ou bons poetas da música, sempre foram bons leitores assíduos. Tem de ser assim.
Não há regras ou uma cartilha do que devemos ler ou não. Mas é certo que poetas e letristas iniciantes precisam navegar por alguns mares poéticos importantes, ou considerados de relevância para o estudo, o aprendizado do ser e fazer poético.
Vamos lá. Entre os portugueses eu diria é que preciso ler Fernando Pessoa, Camões, Gil Vicente, Bocage, Saramago. Entre os franceses vai Rimbaud, Baudelaire, Verlaine, Vallery, Proust, Céline. Ingleses: Keats, Yeats, Jonh Donne, Shakeaspeare, Lord Byron. Russos: Maiakowski, Dostoiesvski, Pushkin. Orientais: Li Po, o chinês lunático, Tagore, Khalil Gibran. Espanhóis: Federico Garcia Lorca, Cervantes. Americanos: Ezra Pound, Walt Whitman, Eliot, os poetas e escritores da Beat Generation, mais Charles Bukoswski. Os brasileiros, é claro; Carlos Drummond, Oswald Andrade, Mário de Andrade, Manuel Bandeira, Gregório de Matos, Castro Alves, João Cabral, Guimarães Rosa, Augusto de Campos, Haroldo de Campos, Décio Pignatari, Ferreira Gullar, Zé Limeira, Patativa do Assaré, Vinícius, Paulo Leminski.
Bem, acredito que para se ter uma base, um reservatório, um bom cartucho de munição, o cara que quer escrever uma poesia de verdade ou uma letra de música de verdade, passar por esses feras citados acima é quase uma obrigação. Mas, o estudo não se limita a tais, somente. Existem muitos e muitos outros bons poetas e escritores pelo mundo. Claro que sim. Filosofia também é legal: Sócrates, Platão, Aristóteles, Nietzsche, Zenão, Tomás de Aquino. E filosofia oriental também; os textos védicos, o Dharmapada, o Tao te King. E muito etc etc etc.
Pois, escrever sem base é o mesmo que rimar “amor e dor” atoa. É vago. Superficial. É o mesmo que viajar na maionese. Quero dizer; ser viajandão e ter boas intenções enquanto poeta ou letrista não lhe faz um bom poeta e letrista. É preciso “estudo”. É preciso auto conhecimento profundo. E ler de tudo e muito de tudo. Desenvolver a intelectualidade, de fato. Cazuza e Renato Russo, considerados bons letristas de rock, eram leitores vorazes. Assim como Arnaldo Antunes. Assim como Lenine. Assim como Jonh Lennon, Bob Dylan, Jim Morrison, Lou Reed, David Bowie.
Uma observação; não é preciso escrever textos complexos para ser bonito. Pode-se e deve-se escrever simples. É lindo. Um bom letrista como Jorge Benjor, por exemplo, é tido como um cara que escreve com simplicidade. Sim, muitas canções de Benjor possuem letras e harmonias simples. Mas, são lindas. No mais, Benjor não poderia escrever “Zumbi” ou “Os Alquimistas Estão Chegando” se não tivesse tido a curiosidade de conhecer a cultura afro-brasileira, a cultura africana e oriental. Benjor lê.
Enfim, é preciso ler e conhecer literatura, filosofia, história, psicologia, sociologia, política, etc etc e , sobretudo, a si mesmo. “Maiêutica” mesmo (falarei abaixo). Impossível conhecer tudo. Impossível. Mas se faz necessário um certo grau de conhecimento que lhe dê uma base substancial, para que daí a tua criatividade possa trepidar e alçar voos. Posso estar sendo radical, e até peço perdão se for, mas me canso de ver bons e ótimos músicos mundo afora fazendo “letras” que não dizem nada, ou quando dizem, não significam muita coisa no sentido poético da coisa. Entendem ?! Isso se chama “falta de leitura” . Pois, seja uma letra simples ou uma letra complexa, ela precisa ter, antes de tudo, um contexto estético. O nosso Elpídio dos Santos sabia muito bem disso e era um cara extremamente culto. Se não culto, espirituoso o bastante para criar com a prpopria sabedoria interior.
Como diria o filósofo e místico grego Sócrates: “Conheça a si mesmo”. O que ele chamou de “Maiêutica”. E conhecer a si mesmo é também um grande exercício de “leitura”. Leitura da própria alma. Leitura daquilo que a alma do universo sussurra lindamente a todo momento.
Como diria o poeta Glauco Mattoso , outro fera que vale a pena conhecer, “não é preciso ter uma biblioteca em casa, mas uma bisbilhoteca sim”. Ele tem razão. Galvão, o letrista dos Novos Baianos lia de tudo e ainda lê. É imprescindível.
Apesar de muitos anos nessa lida e nessa pegada, eu ainda desconfio e muito de minha poesia e de minha letra de canção. E tem de ser assim. Senão, não crescemos nunca. Busco minha identidade. Fiz muita merda achando que estava sendo bom e legal. Mas, sempre vale a pena errar e errar para saber como acertar. Busco isso também, óbvio. Na verdade, sei que a “esculhambação” dos infernos é o que faço de melhor em poesia. Em letra de canção – nos meus samba-rocks – nem tanto. Minha poética é de essência maldita por excelência. E fui descobrir, ou abrir os olhos para isso, somente há pouco tempo. É sério !!! Nasci na Vila das Graças em Taubaté. Convivi com maconheiros e cheiradores. Com alcoólatras e putanas. E li muita coisa do submundo. É isso. Qual outro resultado poderia dar ???
O que eu coloco no meu samba-rock – e o que sei melhor fazer um canção, sinto isso hoje, é “samba-rock” – é malandragem pura. Mas, essa é minha cara e meu espírito. E eu quero que todos sejam lindos poetas e letristas, cada qual no seu estilo e sua marca. Poetas do mundo todo, uni-vos !!! Amo todos os iniciante e todos os velhacos !!!
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Teteco dos Anjos, “músico, proto-poeta e jornalista” e com a cabeça cheia de ideias mirabolantes, escreve semanalmente, ou quando der na telha, no Almanaque Urupês[/colored_box]
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