A Festa de Corpus Christi
Em texto Lia Carolina relembra a história dessa cerimônia religiosa
Por Lia Carolina Prado Alves*
Essa cerimônia religiosa foi criada em 1264, pelo papa Urbano IV. Seu enredo era baseado em passagens bíblicas (Segundo Livro de Samuel e Primeiro Livro dos Reis) em que se comemorava alegremente a transferência da Arca Sagrada de Judá para Jerusalém. Tal como nas narrativas bíblicas essa mudança deveria ser feita por uma caminhada festiva e acompanhada de vários instrumentos musicais.
Em Portugal ela teve início no século XIV, mais precisamente em 1318, data que marca o aparecimento das primeiras notícias sobre sua realização.
Nesse período, no momento em que os trabalhadores urbanos se organizaram em Confrarias, tendo um Santo como patrono, se tornou costumeiro, na festa de Corpus Christi, o desfile dessas Confrarias, dando a ela uma implicação religiosa-política.
A presença obrigatória de São Jorge, como representante da magnificência, autoridade e poderio da coroa portuguesa, acabou transformando a procissão de Corpus Christi em um ícone soleníssimo da identidade nacional de Portugal.
No Brasil a cerimônia de Corpus Christi começou na primeira metade do século XVI e isto é comprovado pela carta escrita pelo jesuíta Manoel da Nóbrega onde está o seguinte registro:
“Outra procissão se fez dia de Corpus Christi [20 de julho de 1519] muy solemne, em que jugou toda a artilharia que estava na cerca [proteção que marcava a o limite da cidade] as ruas muito bem enrramadas ouve danças e invenções à maneira de Portugal”. (Tinhorão – p. 77)
Talvez esteja aí a origem do atual costume do povo brasileiro de enfeitar profusamente as ruas por onde passará a procissão, chegando ao clímax de provocar disputas entre os moradores das ruas assinaladas, procurando se suplantarem em decoração e originalidade de temas decorativos das vias públicas. Esse clímax de disputas de ruas enfeitadas é encontrado inclusive entre cidades vizinhas.
Em Taubaté, as informações mais antigas encontradas sobre as procissões de Corpus Christi estão nas Atas da Câmara do período de 1780/1789:
– vereança de 13/05/1780: os vereadores se reuniram para passar Edital para se alugarem as casas para a festa do Corpo de Deus.
Ação que aconteceu novamente, segundo a documentação disponível no arquivo, em todos os anos seguintes.
Após a Independência do Brasil, a obrigação da Câmara em arcar com os festejos do dia de Corpus Christi permanece:
– vereança de 25/05/1823: nela determinaram unanimemente celebrar a Função de Corpus Christi com as solenidades do costume, assistindo a Corporação desta Câmara à dita festividade mesmo sem estandarte, visto não chegar em tempo, o que mandaram vir da Corte do Rio de Janeiro, com as novas armas da Nação Bradileia e ourossim determinaram se fizesse a Função com Senhor Exposto e Procissão ando cera a todos os Sacerdotes, Religiosos e mais pessoas da Governança dessa vila, iluminando competente o Trono na forma do costume. Na mesma determinaram ao Procurador do Concelho mandar ir carpir o pátio da Matriz desta vila, bem como se providenciasse a limpeza e caiamento de toda a Vila para a mesma função: e que também se oficiasse ao Capitão Mor para fazer aprontar carregadores para o Pálio dos Oficiais das Ordenanças para a função de Corpus Christi.
Mudou o regime político: de Colônia o Brasil passou a ser Império, mas o feitio político dessa festividade de Corpus Christi continuou.
– vereança de 13/03/1824: e ao mesmo se terminou mandasse vir do Rio de Janeiro e à custa desta Câmara a cera para a Procissão do Corpo de Deus e um Espaldar de damasco verde com seu galão e franja de ouro para debaixo dele se colocar o sobredito Retrato (de Sua Majestade Imperial D.Pedro I).
Novamente se repetindo até 1828 quando em 17 de maio daquele ano acordaram em não haver festa de Corpus Christi da obrigação do Senado a vista das despesas feitas e que se há de fazer no conserto da casa da Cadeia visto o estado dela, visto que para segurança dos presos se façam mister guardas e correntes tão oposto ao sistema atual.
Neste momento percebe-se o início do desligamento da obrigação da Câmara em arcar com as despesas e organização dos festejos de Corpus Christi.
Com o afastamento político as comemorações do Corpo de Deus vão se tornar exclusividade da Igreja Católica.
E assim é até os dias atuais.
Abaixo algumas imagens do Corpus Christi em Taubaté:
[box style=’media’] Baixe a versão completa aqui [/box]
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* É paleógrafa no Arquivo Dr. Felix Guisard Filho, pertencente à Divisão de Museus, Patrimônio e Arquivo Histórico de Taubaté (DMPAH)
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3 Comments
São vários os fatores que fizeram as tradicionais, organizadas e concorridas Procissões em Taubaté esmorecerem, um tema ainda ser pesquisado e compreendido. A procissão de Corpus Christi , em particular, arregimentava a população moradora do centro e arredores meses antes para planejar os desenhos e recolher os materiais necessários para a confecção dos tapetes the fé. Na madrugada do dia de Corpus Christi, os voluntários se organizavam em grupos de trabalho que iam confeccionando com arte, nas ruas centrais e dos saudosos e sustentáveis paralelepípedos, os desenhos já preestabelecidos.. Os materiais eram os mais diversos, imensas quantidades de palhas de arroz tingidas em várias cores, pó de café, tampinhas de garrafas cobertas com papel colorido, e muitos outros.
Era um evento comunitário, solidário, muito agradável e de demonstração de fé. Taubaté era feliz.
Lia Carolina Prado Alves, sempre precisa na historiografia.
São vários os fatores que fizeram as tradicionais, organizadas e concorridas Procissões em Taubaté esmorecerem, um tema ainda ser estudado e compreendido. A procissão de Corpus Christi ,em particular, arregimentava a população moradora do centro e arredores meses antes para planejar os desenhos e recolher os materiais necessários para a confecção dos tapetes da fé. Na madrugada do dia de Corpus Christi, os voluntários organizavam -se em grupos de trabalho que iam confeccionando com arte, nas ruas centrais e dos saudosos e sustentáveis paralelepípedos, os desenhos já preestabelecidos.. Os materiais eram os mais diversos, imensas quantidades de palhas de arroz tingidas em várias cores, pó de café, tampinhas de garrafas cobertas com papel colorido, e muitos outros.
Era um evento comunitário, solidário, muito agradável e de demonstração de fé. Taubaté era feliz.
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