Não era só por 20 centavos
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Por volta de 1916, a viagem mais segura entre São Paulo e o Rio era de trem, por isso, em Taubaté, havia um costume maroto: homenagear o taubateano que visitasse pela primeira vez uma das capitais.
Logo que um cidadão embarcava no trem a notícia corria de boca em boca, saía até no jornal. Malandramente um grupo de jovens organizava uma homenagem à vítima. Na data de retorno do viajante, quando o trem parava em Taubaté, começava um festival de rojões, gente aplaudindo e banda de música tocando. Quando o sujeito desembarcava era cercado por todos, elevado sem entender nada em cortejo pela rua das Palmeiras. A caminhada era terminada em um bar. Estando ali depois de ouvir vários discursos em sua homenagem só restava ao felizardo pagar bebida para todo mundo. Teve gente que não gostou da pegadinha. E aí a coisa acabava mal.
7 de setembro de 1874. Taubaté está em festa. Finalmente é inaugurada a iluminação pública na cidade.
Bem diferente de hoje, a luz era gerada em lampiões instalados em elegantes postes de ferro fundido. O gás era distribuído aos postes por uma rede subterrânea de tubulação que tinha origem no gasômetro instalado onde hoje fica a sede da Bandeirante Energia. É bom frisar que o privilégio contemplava umas poucas ruas do centro e iluminação pública era coisa rara. Apenas 4 cidades paulistas a tinham. O benefício era caro.
Crônistas da época informam que a regalia consumia metade do orçamento de Taubaté, era fraca e falhava sempre. Mas era um luxo. O serviço de iluminação á gás foi abandonado ao redor de 1913 quando foi inaugurada a iluminação elétrica no município.
Na Taubaté do passado todo fazendeiro rico tinha também uma casa na cidade para passar as festas. E não era uma casinha qualquer não. Tinha sala de visita, de jantar, cozinha e o número de quartos dependia do tamanho da família. As numerosas tinham até sete quartos na residência. O quintal também era grande e tinha entre outras coisas, uma cocheira para alimentar os animais que carregavam os alimentos da fazenda à cidade.
As melhores roupas das mulheres, os casacos de veludos e saltos altos ficavam trancados em armários na residência da cidade. E a cada visita, mais roupas eram compradas. Os sapateiros mais espertinhos nem esperavam as donzelas nas lojas, tratavam logo de levar os calçados diretamente na casa das clientes. Os barbeiros também já ficavam preparados, esperando as crianças que invariavelmente necessitavam de um novo corte de cabelo.
As visitas à cidade sempre aconteciam em festas como a Semana Senta, Carnaval e nas formaturas dos Colégios Bom Conselho e Diocesano.
O pessoal mais antigo sabe disso, quando morria uma pessoa na roça todos os parentes tinham que por luto. O tempo de luto dependia de quem tivesse morrido. Pai ou mãe, o luto era de um ano. Irmão, seis meses. De amiga, 15 dias e de marido a vida toda. Como o custo de uma roupa preta era bem alto, nas fazendas tinham sempre as tintureiras grátis. Mulheres de família mais ricas, que ajudavam as pessoas mais pobres. Sempre que morria alguém de família mais humilde, essas tintureiras já sabiam que ia chegar a marca da tinta Guarani e a trouxa de roupas. E o tingimento das roupas não era algo fácil.Tinha que ficar o tempo todo na beira do fogão de lenha, mexendo à panela para não manchar as roupas. Quando o tingimento estava pronto era hora de enxaguar todas as roupas até sair água limpa. Depois colocar para secar e passar à ferro. Esse era um trabalho que consumia o dia inteiro e que era feito gratuitamente aos mais pobres.
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