Verdadeiro Presente
Texto de Dafne Araceli Román
Quando criança eu amava o natal. Acreditava em Papai Noel. Acreditava fortemente na magia que o natal nos representava. Teve um ano que eu desejei tanto um jogo de luzes de natal musical que eu poupei por muito tempo (para uma criança alguns meses é muito tempo) para que quando estivessem a venda meu pai fosse comigo comprá-las. Logo, as compramos e decoramos a pequena sala da nossa casa com elas. As luzes eram lindas e as músicas insuportáveis.
Todo ano era a mesma rotina, festa na casa da minha avó ou na de um dos meus tios, roupa nova, primos, tios, sidra sem álcool, purê de maçã, vitel toné, pudim de ovos da minha mãe, cânticos de natal e a procura, a procura por aquele que era esperado por todos nós, ainda crianças, Papai Noel.
Era mágico, jantávamos e minutos antes da meia noite as mulheres iam para a cozinha para arrumar as louças e as sobremesas, as quais eram sempre muitas, cada família levava uma diferente, eram uns cinco tipos, salada de frutas, sorvete, bolo de frutas secas, pêssego em caldas e o tradicional e famosíssimo pudim de ovos da minha mãe; todo mundo gostava tanto dele, mas tanto, que sempre ela fazia uns dois para não faltar, enfim; enquanto as mães deixavam tudo em ordem os pais se encarregavam de tomar conta das crianças e esta era a hora que mais nos encantava.
Saíamos todos juntos, primos, tios, avôs, os mais velhos, os mais novos, os bebês, não ficava ninguém em casa, a não ser, as mães, caminhávamos pelas ruas do bairro observando o céu e a cada estrela que víamos brilhar mais forte falávamos “é ele”, “olha ele lá”, a ansiedade tomava conta de nós, e enquanto procurávamos desesperadamente para ver se conseguíamos vê-lo, os primos mais velhos soltavam fogos e bombinhas no meio da rua.
Era a hora de voltar, quando chegássemos à casa iríamos encontrar as mães fingindo estarem lavando as louças, as luzes todas apagadas e ao pé da árvore, os presentes, cada um com um delicado bilhete com o nome do dono, esse Papai Noel era muito caprichoso!
Os nossos olhos transbordavam felicidade e nós, as crianças, nos abraçávamos, pulávamos afoitas querendo pegar os presentes, a matriarca, minha avó, comandava a banda e ninguém podia abrir os presentes antes de cantar “Noite de Paz”. À hora de cantar a emoção se estendia por entre todos e a paz, invadia de vez o nosso ser, permitindo-nos desfrutar do espírito do Natal.
Após tantas emoções e tamanha ansiedade, era a hora de abrir os tão esperados presentes, nos sentávamos ao redor da árvore e ficávamos ali por horas, brincando, admirando, agradecendo e nos divertindo com os nossos mimos, algumas não aguentavam e iam dormir no sofá, outras forçavam o máximo para tentar ver o amanhecer. Fazíamos isso até a hora dos nossos pais optarem por irem embora para casa, afinal, “amanhã” seria um dia de caras amassadas, roupas não mais novas, porém, confortáveis, comida de ontem, calor e muita diversão.
Os meus natais não foram sempre regados de muitos presentes, mas sim, de muito amor e carinho.
As festas já não são mais as mesmas, as famílias, também mudaram, a matriarca já não está entre nós. Nós crescemos, nos mudamos de cidade, de país, diminuímos em número, mas não em AMOR, porque isso sim é um verdadeiro presente de Papai Noel.
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Dafne Araceli Román é argentina, escritora, professora de Espanhol e Português com formação em Letras. [/colored_box]
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