Sombras urbanas

 Sombras urbanas

Texto de Renato Teixeira publicado na edição 720 do Jornal Contato

Caminhando pelas ruas de Taubaté vejo coisas e percebo sombras traiçoeiras invadindo nossas regiões de luz. A poluição visual é a grande culpada pela falta de visibilidade do nosso  comércio central.

É tanta informação que não se consegue mais identificar qualquer coisa.

O que era para funcionar como um chamativo para os clientes, acaba se transformando num bloqueio incompreensível, histérico e feio.

O que mais intriga minha intuição urbana é o fato de os próprios comerciantes não perceberem isso; os comerciantes de São Paulo, no inicio da operação “Cidade Limpa”, foram contra aquela iniciativa.

Quando viram o resultado refletido na melhoria dos seus negócios, passaram, eles mesmos, a cobrar dos pares o respeito à nova lei.

Nem esse dado, entretanto, consegue fazer com que o comércio local se sensibilize e faça o que precisa ser feito, ou seja, se organizar junto ao poder municipal para aprovar a lei que vai deixar a cidade mais bonita, mais inteligente e o comércio mais eficiente.

Melhorando o lucro, melhora  arrecadação e tudo isso acaba influindo beneficamente na vida de todos os cidadãos.

O patrimônio arquitetônico e memorial de Taubaté também vive na corda bamba. Primeiro foi a Villa Santo Aleixo que por pouco não foi banida da nossa memória afetiva por força do poder dos construtores de prédios que visam apenas seus interesses financeiros, sem se importarem, quase nunca, com outros valores sociais e culturais de maior grandeza.

A casa de Celly Campello, por exemplo, foi ao chão e em seu lugar construíram uma espécie de caixa de alvenaria e colocaram dentro uma farmácia, matando, assim, todas as possibilidades de uma rica ação cultural em torno das conquistas da grande taubateana. Por total falta de responsabilidade histórica, tenho informações de que já existem taubateanos que nunca ouviram falar de Celly Campello.

Agora, se não acontecer uma intervenção rápida, o asilo casas Pias tombará para dar lugar a um empreendimento imobiliário que não vê o patrimônio da história de uma gente; identificam apenas a localização privilegiada que, com certeza, contribuirá para o sucesso comercial do empreendimento.

A tendência é o encaixotamento.

A verticalidade produz sombras e a história se desfaz como lágrimas na chuva.

Para a moçada que está chegando agora na “missão viver”, com o propósito de ter um trabalho, possuir bens, criar família, etc., é compreensível que não consigam, na maioria das vezes, visualizar e perceber a importância do patrimônio afetivo de uma comunidade. Um dia, quem sabe…Para os que já nasceram no meio das perversas limitações sociais qualquer tipo de patrimônio fica fora de suas necessidades mais urgentes.

Assim os dinheiristas nadam como tubarões num mar de águas claras.

Existe também um grande problema na ocupação dos espaços de lazer, pelos camelôs.

Entretanto, se avaliarmos que todo cidadão precisa viver custe o que custar, como vamos condenar o trabalhador que vai para a rua para vender coisas e, assim, compensar as deficiências geradas pelo poder público que não lhe dá emprego, educação e segurança para que possa ser um cidadão normal?

Mas eu acredito cegamente no poder da criação. Por mais complexa que seja a ação necessária, o raciocínio criativo sempre achará uma solução. Pensem na quantidade de músicos que por não terem braços, aprenderam a tocar com os pés.

Na região do mercado estão construindo um espaço próprio para os ambulantes e isso pode trazer um grande beneficio social, pois a liberação do espaço no entorno do prédio central revelará para população a beleza da edificação centenária, há tanto tempo escondida dos nossos olhos; no embalo, se houver uma revitalização inteligente do todo o espaço, o ganho será espetacular.

Melhores serviços, melhores produtos, conforto, segurança e referências históricas importantes poderão transformar toda a região do mercado num marco do poder da cidadania consequente, aquela que vem da vontade afetiva da população e não das ações dos incautos mercenários, aqueles que transformam história em bem matérias inconsequentes.

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