Ponto de vista
Texto de Renato Teixeira
Texto publicado no Jornal Contato edição 682
Já não sou mais um publicitário. Durante anos trabalhei em varias produtoras de som e fui diretor de rádio da Almap, uma das maiores agências de propaganda do país. Depois, montei minha própria empresa e assim trabalhei criando jingles e trilhas para quase todas as grandes marcas brasileiras. A propaganda mudou minha vida.
No meu primeiro dia de trabalho fui perguntar para o já veterano Victor Dagô, um grande mestre que compôs “Varig, Varig, Varig”, o que fazer para anunciar um produto cheio de informações em apenas trinta segundos, o tempo que dura a maioria dos jingles. Dagô me disse: – “Não se assuste; em trinta segundos dá pra se fazer uma bela síntese da bíblia.”
A publicidade é síntese. E é preciso clareza e objetividade nessa síntese. Fui aprendendo coisas. Media a eficiência das peças produzidas conferindo os resultados de suas vendas. A campanha de rádio de um antigo personagem do guaraná Antártica de nome estranho, o Boko Moko, aumentou significativa mente as vendas e criou novos empregos no setor. Recentemente, uma empresa de calçados relançou a marca Ortopé, agora não mais como um sapatinho para consertar pé chato, e sim como uma fabricante de vários modelos de calçados para crianças.
Quando criei “Ortopé, Ortopé… tão bonitinho”, uma trilha que fez muito sucesso ao ser lançada, eu já havia compreendido o que o Dagô quis dizer naquele dia. Compreendia e praticava pra valer a tal da “síntese objetiva”. Propaganda é uma arte sutil; o publicitário está sempre atualizado e preparado para convencer o consumidor a se aproximar de determinados produtos e… comprá-lo! Os anunciantes contam com a propaganda especializada para dar a seus produtos a visibilidade que eles necessitam para chegar ao consumidor.
Se Victor Dagô ressuscitasse e eu o levasse para passear em Taubaté, ele andaria pela cidade e como velho e bom propagandista se espantaria com a poluição visual que nos contaminou. – “Não tem síntese”, ele me diria.
A propaganda de fachada há muito já ultrapassou os limites de “visibilidade adequada” nas terras de Nhô Joaquim. Letras, números, cores berrantes, vitrines confusas e luzes que chamam atenção mas “não mostram”. Muito pouco está dentro dos padrões adequados.
Óbvio que assim, não se consegue distinguir o nome das lojas e muito menos identificar o que vendem. Não é tão complicado deduzir que numa cena definida, como na maioria dos shoppings, fica mais fácil ao consumidor encontrar o que procura. Isso aumenta a eficiência do comprador e consequentemente aumenta os lucros.
Sem esquecermos jamais que existe uma outra cidade por trás dos banners e dos out doors, alguns até de gosto duvidoso, que saltam sobre nós como devoradores das nossas disponibilidades. São representações visuais parecidas com aqueles achaques sonoros que sofremos quando esses carros munidos de potentes alto-falantes resolvem se por frente a frente e disparam seus volumes sem dó nem piedade.
A cidade original conta uma história e as histórias, quando bem contadas, têm a capacidade mágica de harmonizar as coisas. Uma cidade harmonizada é mais eficiente e tranqüila e isso quer dizer menos violência.
A Prefeitura de Taubaté tem promovido reformas em alguns bairros da cidade que, reequilibrados visualmente, melhoram seus índices sociais significativamente. Por isso precisamos aguçar nossa curiosidade e com nossa comprovada ousadia, despirmos a cidade dessa roupa inadequada e confusa que a veste e que nos impede de ver sua real beleza. Todos ganharão com isso.
Em São Paulo foi assim quando o prefeito Kassab adotou as regras de ocupação visual de Paris e a aplicou na cidade. Inicialmente todos protestaram; o resultado. Porém, foi tão bom que rapidamente os próprios comerciantes perceberam as vantagens e começaram a cuidar para que a iniciativa fosse em frente. Todos querem viver num lugar bem resolvido. É da natureza humana. E a arquitetura taubateana precisa e merece mostrar sua cara.
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