Pelé em Taubaté
Consagrado jogador morou na pensão da sogra do ex- jogador Zito; Veio aqui prestar exame da Madureza
Taubaté, fevereiro de 1970. No tanque dos fundos de uma casa na rua das Palmeiras, Pelé lavava suas roupas íntimas como qualquer cidadão comum. O consagrado jogador do Santos F. C. passava a semana na cidade para prestar o “Exame de Madureza”, o supletivo da época. O jogador aproveitava uma folga nos treinos da Seleção Brasileira que se preparava para a Copa do México.
A Copa do Mundo não tirava o sono de Pelé, ainda que desempenho da Seleção até aquele momento não empolgasse aos analistas mais críticos. Edson Arantes do Nascimento, ao que parece, não confiava que seu alter-ego lhe garantisse um futuro tranquilo. Em 22 de fevereiro, nas vésperas de Pelé ser coroado Rei do Futebol, Nascimento dava os últimos passos para ingressar numa faculdade.
“Enquanto eu treinava com o pessoal da seleção, minha esposa e o Zoca ficaram procurando os locais onde eu poderia prestar exames. Minha sorte foi que eles descobriram que em Taubaté os exames seriam realizados agora, justamente numa folga dos treinamentos da Seleção”, afirmou Pelé ao Jornal do Brasil.
O jornal carioca informou que o ídolo do futebol prestaria os últimos exames no dia 22 em Taubaté e que o também jogador Zito o acompanharia na aventura valeparaibana. Em “Histórias do João Macaco”, o escritor Jader Ferreira narra como foram os dias em que Edson Arantes se hospedou na cidade: “eu morava numa hospedaria na rua das Palmeiras, nos fundos da casa de uma italiana bravíssima, a dona Pierina Sbruzzi, que era sogra do jogador de futebol Zito. Certo dia, para surpresa de todos nós, o famoso jogador Pelé, duas vezes campeão do mundo, veio morar na pensão e conviveu conosco normalmente por uma semana. O craque pretendia entrar na Faculdade de Educação Física, de Santos, SP, e também viera fazer o exame de “madureza”.
“Quando eu não sei nada, ele que me explica de maneira fácil”, disse Pelé sobre Zito. “A primeira prova que fiz, a de Conhecimentos Gerais, foi muito fácil, pois caiu muita coisa que a gente aprende na leitura diária dos jornais. Foi sorte minha, pois gosto muito de ler jornais. Na verdade dei alguns chutes, mas foram todos mais ou menos conscientes. Na redação de Português, o tema escolhido foi “Só com Muito Esforço Poderemos Vencer.” Disse tudo que sabia sobre a Seleção e seu esforço para a reconquista da Copa do Mundo”, afirmou o jogador.
Segundo Jader Ferreira, o Rei do Futebol viveu momentos de plebeu na terra de Monteiro Lobato: “Nos fundos da pensão (num sobrado que existe ainda hoje), ficavam os banheiros e o tanque de lavar roupas. Pelé, como qualquer cidadão comum, descia de calção e sandálias e lavava suas próprias peças íntimas. Eu e o meu colega de quarto, Rochinha, que hoje é Juiz de Direito, parávamos de lavar nossas cuecas e ficávamos encantados, olhando para o enorme pé do famoso atleta”.
Em 23 de junho, feriado nacional criado por decreto, Pelé, coroado como Rei do Futebol, desembarcou no Brasil sob o delírio do povo. A Seleção Brasileira havia conquistado o tricampeonato no México. Exatos três meses após Edson Arantes do Nascimento lavar cuecas em Taubaté.
Antigamente o curso supletivo era chamado de “madureza”. Os adultos, que por algum motivo não tinham podido concluir o ginasial, vinham de longe e chegavam em Taubaté para prestar o exame de “madureza”. Durante alguns dias do ano a cidade se transformava na Meca dos homens de meia idade. Era uma plêiade de homens sérios que desejavam recuperar o tempo perdido para cursar uma faculdade qualquer.
Nesse tempo, por volta de 1970, eu morava numa hospedaria na rua das Palmeiras, nos fundos da casa de uma italiana bravíssima, a dona Pierina Sbruzzi, que era sogra do jogador de futebol Zito. Certo dia, para surpresa de todos nós, o famoso jogador Pelé, duas vezes campeão do mundo, veio morar na pensão e conviveu conosco normalmente por uma semana. O craque pretendia entrar na Faculdade de Educação Física, de Santos, SP, e também viera fazer o exame de “madureza”.
Nos fundos da pensão (num sobrado que existe ainda hoje), ficavam os banheiros e o tanque de lavar roupas. Pelé, como qualquer cidadão comum, descia de calção e sandálias e lavava suas próprias peças íntimas. Eu e o meu colega de quarto, Rochinha, que hoje é Juiz de Direito, parávamos de lavar nossas cuecas e ficávamos encantados, olhando para o enorme pé do famoso atleta. As pernas do crioulo, musculosas, eram plenas de marcas e cicatrizes. Aquelas marcas profundas eram certamente lembranças trazidas de algum campo de futebol, estrangeiro e distante, aonde certamente fizera gols e provocara a ira de adversários violentos e despeitados.
Hoje, mesmo depois de passados tantos anos, sempre que encontro o meu amigo e colega de pensão, Rochinha, relembramos daqueles momentos de glória, quando tivemos a honra de conviver por uma longa semana com o mais famoso jogador de futebol do século, lavando nossas meias e outras roupas brancas no mesmo tanque que Ele.
Jader Ferreira foi autor de “Água Doce”(memórias); Os Propagandistas; Histórias da Velha Pasta;Crônicas Agudas de um Propagandista; Histórias de Médicos e Amostra Grátis; e “A Lagoa dos Jacarés-Bebê”. Foi também colunista do jornal Matéria Prima.
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