Os 10+ da região e as 5 melhores músicas no Brasil em 2014 – Por Fábio Figueira
Editor Chefe do MEON, um dos maiores portais de notícias do Vale do Paraíba, Fábio Figueira, conhecido também pelo talento musical, volta os olhares para toda a Região Metropolitana para trazer o que mais chamou atenção em 2014, além de uma pitada da música nacional, lembrando do melhor que aconteceu nas terras tupiniquins.
Entra ano, sai ano a grande questão que fica é: culturalmente tivemos um ano ruim? Se olharmos, por exemplo, as músicas mais ouvidas no país, ou os livros mais lidos, podemos dizer que sim.
Mas a arte sempre vai muito além do que é consumido em massa. E, sim, tivemos muitas coisas boas produzidas em diversas áreas culturais, tanto regionalmente, quanto nacionalmente falando. Por isso, vamos à elas.
Os 10+ da região
A ideia aqui não é fazer uma lista, mas sim mostrar os principais destaques culturais produzidos aqui na região. Música, Literatura e Teatro estão entre os destaques
Música
Tássia Reis
A rapper de Jacareí vem conquistado espaço no cenário nacional. Neste ano, lançou um EP homônimo, com sete músicas, com influências do R&B, Jazz, MPB. Destaque para a faixa “Meu Rapjazz”.
DesReal
Com sitar, violão de 12 cordas e um apelo eletrônico, o DesReal, de Taubaté, apareceu com uma proposta inovadora. Com som baseado na psicodelia, o duo taubateano, formado por Mario Gascó e Lucas Mercial, buscar contar a trajetória da vida na Terra, e questionar o darwinismo na raça humana. Ouça “Vida Terrena”.
Negative Mantras
Outro duo formado em Taubaté também foi destaque em 2014. Formado por Júlio Cavalcante e Taian Cavala, o Negative Mantras lançou um EP, também homônimo. Apostando no dub (reggae psicodélico) e ruídos eletrônicos e orgânicos, a dupla aposta em um simples batida, que durante a música inteira ganha camadas de som, como um canto de mantra. Não deixe de ouvir Claridão.
Síntese
Outro rapper que despontou da região foi o joseense Síntese. Apesar de ainda não ter lançado seu disco de estreia -previsto para 2015-, Síntese ganhou os holofotes ao participar do disco do “Convoque Seus uda”, do Criolo. Síntese divide o microfone e as letras com o rapper paulistano na música “Plano de Voo”, onde fala de destino e redenção espiritual.
Chacal
Os joseenses do Chacal mostram estilo pós-hardcore, no seu primeiro disco “Espora”. Com letras abrangentes, subjetivas e diretas em todas as músicas, eles dão um novo ar ao hardcore ao utilizar referências da época grunge como Sonic Youth, Dinosaur Jr., Black Flag e Nirvana. A música de abertura do disco “Cada Vez Mais” é o cartão de visita.
Literatura
“Santa Cruz – Uma Favela na Capital da Tecnologia” (Scortecci), de JB Magalhães
O rapper joseense JB Magalhães registrou 18 histórias do seu dia-a-dia na favela da Santa Cruz, em São José dos Campos e compilou no livro lançado em setembro, pela editora Scortecci. As histórias começaram a ser registradas há 10 anos e tem como mote principal, o de manter a história do local viva.
“Magnólia – Uma Mulher Em Silêncio” (Perse), de Pedro Rosas
Em “Magnólia”, do jornalista e músico Pedro Rosas a história de amor vivida na cidade é estímulo para obra de ficção. Com enredo biográfico, Rosas conta a história Adriana Lenk, uma menina órfã que vive nas ruas e sobrevive mendigando até a adolescência, quando prostitui-se, fica grávida de dois filhos e trabalha em bordéis de luxo para tempos depois ver sua vida dar uma guinada de classe social e sua busca se torna a redenção.
“Minha Vida Comigo: O Câncer Foi Minha Cura” (Ofício das Palavras), de Vânia Castanheira
Nascida em Moçambique, criada em Portugal, Vânia Castanheira vive em São José dos Campos há quase três anos. Foi aqui na cidade do Vale do Paraíba que casou e se instalou. Em janeiro de 2013, sua vida mudou drasticamente com a descoberta de um câncer de mama. A volta por cima foi da doença é o tema principal do livro, onde relata as dificuldades enfrentadas desde o diagnóstico até a cura do câncer.
Teatro
Almas abaixo de Zero, Cia. Teatro da Cidade, de São José dos Campos
A Cia. Teatro da Cidade de São José dos Campos apresenta neste ano a peça “Almas Abaixo de Zero”, que aborda o processo de criação de um grupo teatral a partir de um mergulho no universo do escritor russo Anton Tchékhov (1860-1904). A montagem tem texto de Samir Yazbek e direção de Claudio Mendel e Atul Trivedi e direção musical de Beto Quadros.
As cinco melhores músicas no Brasil
O ano 2014 termina com um balanço positivo no quesito música. Tivemos bons trabalhos produzidos no Brasil. Tivemos um Titãs que voltou as raízes com um trabalho Rock N Roll, que não era feito há 20 anos. O Racionais MC’s, talvez maior símbolo do rap nacional, surpreendeu com o lançamento de “Cores & Valores”, um bom disco, esperado pelos fãs há 12 anos. Ainda nessa lista podemos citar Nação Zumbi, Pato Fu, Tom Zé, Skank, Pitty, Anelis Assumpção, Romulo Fróes e por aí vai….
Mas a lista estão cinco -na verdade seis- músicas que mostram a qualidade e diversidade da música produzida no Brasil que você leitor do Almanaque Urupês descobre abaixo:
5. Silva – Vista Pro Mar / Banda do Mar – Mais Ninguém
Falo em seis músicas, pois na quinta posição há um empate técnico. Fiquei com uma dúvida, analisei a qualidade técnica das duas canções e decidi colocá-las juntas. Silva havia mostrado uma qualidade pop no primeiro disco. Neste segundo trabalho cresceu ainda mais como artista e nos brincou com a bela “Vista Pro Mar”. Já a Banda do Mar, formada pelo casal Marcelo Camelo e Malu Magalhães, não decepcionou neste primeiro trabalho. É um registro melhor do que feito nas carreiras solo de Camelo e de Malu, e o destaque fica para “Mais Ninguém”
4. Holger – Café Preto
Bom, conheço o Holger desde o início da banda em 2008. Tanto o primeiro, quanto o segundo disco tiveram altos e baixos, mas neste terceiro álbum -que leva o nome da banda-, o grupo aprece ter encontrado sua sonoridade. Mais maduro, os paulistanos apresentam um disco para se ouvir do início ao fim. E “Café Preto” vem para ser a cereja do bolo.
3. Criolo – Cartão de Visita
O rapper Criolo voltou com tudo depois do sucesso do segundo álbum “Nó Na Orelha”, de 2011. Trouxe novamente a mistura de rap, samba, rock e reggae no disco “Convoque Seu Buda”. Sempre com críticas a diversos temas da sociedade brasileira. Na faixa “Cartão de Visita”, acompanhado por Tulipa Ruiz, fala sobre o dinheiro. A leveza e naturalidade do trabalho colocam a faixa no terceiro lugar.
2. Mombojó – Summer Long
Mombojó é uma das bandas mais legais que o Brasil já viu. De Recife, o grupo criou um som envolvente, que vai de guitarras pesadas à música eletrônica, com cavaquinhos e sintetizadores. Mas vinha deixando a desejar em seus últimos trabalhos. Mas em “Alexandre”, o grupo parece estar de fôlego renovado e “Summer Long” -com participação de Laetitia Sadie, vocalista da banda Stereolab- mostra que o grupo ainda tem muito a oferecer para a música brasileira, tanto que é “Diz o Leão”, com participação da cantora Céu, poderia muito bem estar nesta lista.
1. Juçara Marçal – Ciranda do Aborto
De cara, Juçara Marçal lançou o melhor disco do ano. Encarnado é uma obra prima da música brasileira. A cantora faz parte de grupos como Metá Metá e A Barca, mas no seu disco de estreia solo acertou em cheio. Acompanhada apenas por guitarras e cavaquinhos distorcidos e uma rabeca, Juçara dá vida à morte. E é com uma voz impecável -de dar inveja à divas-, que ela dá o brilho da música “Ciranda do Aborto”. Há tempos eu não via uma obra tão completa, que merece ser reverenciada por muitos e muitos anos.