Na imagem: Pelé, Didi e Zito, revelado no E.C. Taubaté (Arquivo do Estado)
Por Renato Teixeira
Chocante! Doze arenas bilionárias e nenhum jogador de alto nível capaz de enchê-las. Shows de rock? Com certeza. Grandes concentrações religiosas? Sim!
Nosso país fica cada dia mais incompreensível.
Nós aqui, na parte descendente do globo, estávamos na nossa, vivendo nossas vidinhas numa boa, com nossos costumes, nossas tragédias, humores e amores tropicais. Uma vez por ano um carnavalzinho divertido e assim era essa terra varonil descoberta por Cabral.
Nosso sonho maior era ganhar o campeonato mundial de futebol. Lá no fundo sabíamos que tínhamos uma chance no planeta da bola. Como não desconfiar dessa possibilidade se um dia, na frente de muitos, o grande Didi desceu o morro de tamancos fazendo embaixada com uma bolinha de pingue pongue sem deixá-la cair no chão uma vez sequer?
O primeiro Maracanã já deixava claro que no nosso subconsciente sabíamos que poderíamos tomar a dianteira mundial na arte de jogar bola. Assim, apesar da base inculta, corrupta e oportunista construída por dirigentes, foi no campo que acabamos identificados como os melhores jogadores de futebol de todo o planeta. O orgulho Nacional foi lá pra cima.
Várias gerações de grandes craques foram mantendo a hegemonia até que, inconformados, os Europeus conceberam um plano para nos vencer. A estratégia básica era fazer com que desistíssemos do nosso jeito de jogar e passássemos a jogar do jeito deles. Aproveitaram nossa condição de terceiro-mundista e, à partir de 1966, nos seduziram com o aspecto saudável dos seus atletas, resultado de um povo bem nutrido, bem alimentado, culto.
Nós, que nunca acreditamos em nós mesmos apesar das evidências contundentes da imensa competência futebolística de nossa gente, acreditamos no blefe deles.
Primeiro foi o Cláudio Coutinho que veio para organizar o nosso “pelotão” futebolístico, pois era oficial do Exercito. Depois, Parreira, também militar com origens no departamento de preparação física, veio com uma infinidade de conceitos visando um futebol primeiramente forte. Era o começo do fim.
Felipão, apesar de vitorioso, fechou a tampa do caixão não convocando o segundo maior craque de todos os tempos, Romário, que ainda estava em forma. Preferiu, por exemplo, o estilo sonso e ignorante do grande craque Rivaldo, um jogador que parece jamais ter tido a capacidade intelectual para dimensionar sua própria grandeza. Gerson jamais jogaria com Felipão.
Ainda para ficar mais claro que o verdadeiro futebol brasileiro morreu, desmontaram a célula Neymar/Ganso, capaz de contaminar e destruir qualquer coreografia que os formatados craques do velho mundo tentassem impor contra nossa arte.
Assim, tentando ser um time europeu, ficamos no mesmo patamar, porém inferior, que o deles. Nosso futebol passou a elaborar uma coreografia de jogo como fazem os alemães, os italianos, os russos buscando craques articulados artificialmente.
O Felipão é tão europeu que acabou dirigindo a seleção portuguesa, com sucesso. Chegou até ser cogitado para dirigir a seleção inglesa.
Hoje, todo o planeta joga bola bem e até o Afganistão já se sente preparado para nos vencer. E assim, encerrada nossa jornada de glória, voltamos pra casa em décimo primeiro (nota da redação: décimo nono quando esse texto foi escrito) lugar no ranking da “mãe” FIFA que, como consolo, nos deixa de lembrança doze mega arenas que estarão lotadas apenas quando times europeus vierem aqui fazer exibição, ou o Paul MacCartney usá-las para juntar seu povo.
Essa seleção brasileira composta toda ela por jogadores que jogam na Europa não vale, não me representa e, nós, cidadãos brasileiros, somos apenas parte desse lucrativo negócio…
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Publicado originalmente na edição 598 do Jornal Contato