Antes do Cinema 3D: o cinematógrafo de Taubaté

Texto de Emílio Amadei Beringhs

O CINEMATÓGRAFO

A FEDERAÇÃO – FOLHA REPUBLICANA

Propriedade de 1 Associação – Diretor Gerente – Elpidio Borges

Ano 4° –          Taubaté 27 de Fevereiro de 1913 –  Nº 211

Um dos inventos que caíram no agrado popular, e que tem progredido prodigiosamente, é, sem dúvida, o cinematógrafo, descoberto pelo notável fotógrafo Lumiere, na França, em 1896.

O ator Trewey, que gozou de grande popularidade nos principais palcos da Europa foi o 1° homem que viu as suas iniciais mímicas registradas filas.

Foi no “GRAND CAFÉ” em Paris, que os irmãos Lumière exibiram pela módica quantia de 1 franco os primeiros filmes, que tinham mais ou menos15 metros, e cujos assuntos eram a chegada de um trem, umas cambalhotas de Trewey etc… – Mas, com o correr dos anos, o cinematógrafo aperfeiçou-se (sic), produzindo filas dramáticas às vezes de 2 ou 3 mil metros; todos regosijam-se (sic) com êsse progresso, menos Trewey que da sua vida de Amières, maldiz a sorte que tirou-lhe a fama.

1898 – 2 de Janeiro

Realiza-se em TAUBATÉ às 7 horas da noite, no largo da Matriz, no sobrado do Sr. Barnabé Ferreira de Abreu e Costa, a estréia do cinematógrafo ou fotografia animada, esplendida invenção de EDISON, com exibição de interessantes episódios da vida intíma e surpreendente vistas da América e Europa.

(Diário de Taubaté de 1-1-1898- ano IV n° 669)

O CINEMATÓGRAFO DE TAUBATÉ

            Era muito comum encontrar-se no Largo do Mercado o cosmorama, grande caixa de madeira, para dentro da qual a gente espiava por um óculo e via coisas… Via “vistas” havia-as para todos os gostos: religiósas, morais, históricas, naturais, artísticas e até burlescas e exóticas.

Cada espiada, duzentão.

Corria o ano da graça de 1900, quando, vindo de sua peregrinação comercial de cidade em cidade, aquí aportou um indivíduo trazendo o CINEMATÓGRAFO. Instalou-se no sobradinho do Largo da Matriz, esquina da Travessa Cel. Jordão, no sobradinho do Barnabé.

Grande o reclame e estonteante o entusiasmo. Insopitável a curiosidade. O anúncio  espalhafatoso  convidava para ver – A GRANDE MARAVLHA DO SÉCULO! -. E numa pequena sala, aferrolhada, escura e quente, deante de um cândido retângulo de morim de um metro quadrado, comprimiam-se os taubatêanos curiosos, os progressistas e os entusiastas.

Os filmes não tinham enredo. Projetava-se uma série de cenas cômicas treme-tremendo, com bonecos a dar sôcos, pontapés, rasteiras, tudo enormemente admirado e aplaudido! Verdadeira maravilha de besteiras… Não obstante o preço elevadissimo da entrada – dois mil réis! – enchia ……

1898 – 16 de Janeiro

No Largo da Matriz, no sobrado do Sr. Barnabé Ferreira de Abreu e Costa, realiza-se a última exibição do Cinematógrafo ou Fotografia Animada que aquí estreou a 2 do corrente e que a pedido exibe o quadro “O MÔDELO” e cobra Um Mil Reis de ingresso.

 Emílio Amadei Beringhs
Desde menino foi funcionário da CTI.

Atuou por mais de 50 anos no jornalismo taubateano, descreveu com maestria o cotidiano taubateano. Integrou o Instituto Geográfico de São Paulo. Foi um dos pioneiros do rádio amadorismo no Vale.
Na radiodifusão convencional, foi responsável, junto com Alberto Guisard, pela pioneira Rádio Bandeirantes.
Em 1941, foi co-fundador da Rádio Difusora de Taubaté. Foi sócio fundador do Aero-Clube de Taubaté.
Em 1967, escreve o primeiro volume do obrigatório livro Conversando com a Saudade, descrito por muitos como pedaços da alma de Taubaté. É, também, de sua autoria, a bandeira de Taubaté.