Meu pai, Renato de Oliveira,o Cabeu, como os amigos lhe chamavam, era funcionário do Departamento de Águas e Energia Elétrica. Chefe de sessão. Esse era seu cargo e o salário não era grande coisa. Mas, por aquelas épocas, até que dava pra se viver com dignidade; mesmo aqueles que ganhavam salário mínimo. O povo lá em casa sempre foi comedido e nunca dávamos um passo maior que a perna.
Portanto, tudo sempre correu bem pro nosso lado. Não que tivéssemos tudo o que queríamos. Carro, não tínhamos, e a TV, comprada na casa Fonque, tinha sido o resultado de uma complexa estratégia contábil. Um dia foi possível realizarmos o sonho da casa própria. Fomos morar no jardim Russi, na rua Alcaide Mor Camargo. A casa foi comprada na imobiliária Danelli e ficava ao lado da casa de seu Hodges e dona Betty, exatamente os proprietários da imobiliária.
Num determinado momento, eu podia me sentir um cara inserido na roda da moçada mais atuante na sociedade taubateana. Não que minha família tivesse recursos financeiros suficientes para que eu pudesse me sentir tal e qual alguns amigos abonadíssimos. Longe disso; mas isso não tinha importância alguma.
A igualdade afetiva que compartilhei durante toda a juventude e adolescência taubateana é, até hoje, uma das mais caras lembranças desse tempo gentil vivido em Taubaté, quando meu pai ainda era um jovem e minha mãe plena de energia familiar, nos unindo e fazendo nossas vidas fluírem dentro de uma normalidade sã. Nunca meus amigos se deixaram influenciar pelo salário de meu pai que apenas dava pro gasto.
Um dia pressenti que precisava ser sócio do TCC porque era lá que ia a maioria dos meus amigos. Meu pai se virou, falou com alguns amigos e pronto; eu e meu irmão já podíamos freqüentar o clube e usufruir das estruturas do Club.
Ney Ragazzini, meu amigo mais efetivo, também se articulou junto ao Linquinho, filho de dr Lincoln, presidente do clube, e entrou como sócio atleta. Não que Ney fosse um atleta propriamente dito. Era sim um excelente atleta social, imprescindível a qualquer clube que tenha um mínimo de charme. O Country Club tinha essa virtude. Sabia identificar o personagem que lhe fosse conveniente. Ai entrava até como sócio bolicheiro, se é que existe uma categoria assim.
Um dia fiz uma canção falando desse momento, uma canção que me agrada muito e que pessoalmente considero meu trabalho mais completo. Consegui congelar um tempo e deixá-lo flutuando sobre a minha cabeça.
Ai vai a letra. Se você se identificar, com certeza perceberá o quanto foi belo e generoso o tempo em que a terra de Lobato não passava de setenta mil habitantes e dançávamos alegremente ao som do Ritmos OK !
SENTADO NA PONTE
QUE CORTA A CIDADE
DE FIO A PAVIO
LÁ FICAVA NEY ME ESPERANDO
COM SEU ASSOVIO
A GENTE ENTÃO
IA PRA CIDADE SOLTAR A FERA
QUE NUMA CERTA IDADE
TODO PEITO ENCERRA
BARES E BILHARES
E OS DEMAIS PERIGOS DESSA VIDA
QUE NUMA CERTA IDADE
É NOSSA MELHOR AMIGA
SENTADO NA PONTE… ETC
A GENTE ERA TÃO DURO
QUE NEM PARA UMA LAMBRETA
VELHA DAVA
A GENTE ENTÃO SE OLHAVA
E IMAGINAVA
EU E NEY FOMOS IGUAIS
A ESSES MOCINHOS DE CINEMA
QUE VÃO PRO BANG BANG
ATIRAM, ATIRAM…
E A BALA NUNCA ACABA
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Renato Teixeira
Texto Publicado Originalmente no Jornal Contato
1 Comment
Belos tempos…bons tempos!!!!
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