ESTÁDIO FÉLIX GUISARD

Texto de Lia Carolina Prado Alves Mariotto*.

A notícia foi divulgada em primeira mão pela Rádio Difusora de Taubaté, em sua programação noturna de 17 de Outubro de 1941: iria ser construído em Taubaté, um completo estádio esportivo.

A notícia repercutiu favoravelmente nos meios esportivos desencadeando uma série de comentários auspiciosos em torno do fato.

O empreendimento seria levado adiante pela Companhia Taubaté Industrial (C.T.I.) e o local seria um terreno, da própria Companhia, localizado na Rua Quiririm. Esportistas não faltavam na cidade, mas havia necessidade de um local apropriado para  exercícios e prática dos esportes.

O Estádio compreenderia: um ótimo campo de Futebol; excelente pisa para o Atletismo; quadra de Bola ao Cesto; quadra de Vôlei; quadra de Tênis;  pista de Bocce (Bocha);  campo para Malha; piscina para Natação.

Idealizado por Dr. Raul Guisard, foi realizado o projeto arquitetônico pelo Dr. Ícaro de Castro Mello que, na época, era engenheiro da Diretoria de Esportes do Estado de São Paulo.

[box style=”info”] Dr. Ìcaro de Castro Mello(*1913 – †1986) formou-se engenheiro-arquiteto pela Escola Politécnica da USP – (Poli/USP), em 1935. Por 15 anos dividiu sua carreira profissional entre engenheiro-arquiteto e atleta. Foi recordista sul-americano de salto em altura e salto com vara, participando da equipe brasileira de Atletismo nas Olimpíadas de Berlim, em 1936. Entre 1945/1955 e 1964/1966, trabalhou como Arquiteto do Departamento de Educação Física e Esportes – D.E.F.E. – do Governo de São Paulo e elaborou as normas técnico-construtivas e de dimensionamento para as instalações esportivas do Estado.

Foi o arquiteto responsável pelas seguintes obras: 1948 – Piscina da Água Branca; 1950 – Ginásio de Sorocaba: menção especial na 1ª Bienal Internacional de São Paulo, em 1951; 1952/1957 – Ginásio do Ibirapuera; 1984/1992 – SESC Itaquera. (Faleceu antes do término da obra). Em 1958, recebeu o título de membro do Instituto Americano de Arquitetos – AIA e, em 1986, recebeu o Premio Vilanova Artigas.[/box]

LANÇAMENTO DA PEDRA FUNDAMENTAL

Em 18 de Outubro de 1941, com a presença do então Prefeito Municipal, Dr. Antonio de Oliveira Costa, Dr. Raul Guisard, Oswaldo Barbosa Guisard (Redator-Chefe do C.T.I. Jornal), Monsenhor Ramon Ortiz, Evandro Campos (Diretor do “Nossa Terra”) mais outras tantas autoridades locais e grande massa popular foi feito o lançamento da pedra fundamental do Estádio Felix Guisard.

Discursando para o público Dr. Raul Guisard esclareceu que a ideia da construção daquele monumento esportivo havia surgido 48 horas antes da presente cerimônia, tecendo comentários sobre a prática dos desportos nos meios operários.

Após os discursos, houve o lançamento da urna que continha a ata daquela cerimônia, jornais do dia e moeda corrente do País, cimentando simbolicamente a pedra, as autoridades presentes, diretores da C.T.I. e o jornalista Evandro Campos.

O grande Estádio seria também destinado à prática de esportes do Clube Náutico C.T.I.

O entusiasmo era tanto que na manhã do  dia seguinte, domingo, 19 de Outubro de 1941, houve um mutirão, formado pelos operários da C.T.I., para abertura dos alicerces, decorrendo animadamente o serviço e ficando, desde então, marcado para o próximo domingo ( dia 26) um novo mutirão.

Em janeiro de 1942, prosseguiam os trabalhos da construção do “Estádio Félix Guisard” sendo o fechamento do terreno terminado e já se delineando as características de resistência, altura, harmonia e beleza necessárias à grande obra.

Sua inauguração levou dois dias: dia 04, sábado e dia 05, domingo, do mês de Dezembro de 1943.

No dia 04, as 15:30, houve a inauguração do gramado. Com a presença dos diretores da C.T.I., da Srta. Nancy Carvalho de Brito Guisard, diretores do C.T.I Clube e grande número de esportistas foi hasteada a bandeira do Clube pelo Sr. Dr. Raul Guisard. Programou-se uma partida de futebol entre os dois times: equipe da Fábrica Velha X equipe da Fábrica Nova. Como árbitro estava Silio Del Debio e o pontapé inicial foi dado pela madrinha Srta. Nancy Guisard. O placar foi 4 a 2 para o time da Fábrica Nova.

No dia 05, as comemorações tiveram início às 6:30 da manhã com o Torneio de Malhas. Saiu vencedora a turma da Fábrica Velha por 7 partidas vencidas contra 2 derrotas.

Em seguida, às 10:00, teve início nova partida de Futebol disputada por duas rodadas entre os veteranos: os quadros Vermelhos eram da Fábrica Nova e os Verdes, da Fábrica Velha. O árbitro dessa partida foi o Sr. Moacir Peixoto e o chute inicial dado pelo Sr. Eduardo Righi. Saíram vencedores o veteranos da Fábrica Nova com um placar de 3X0.

Um segundo jogo foi começado e, dessa vez, os veteranos da Fábrica Velha (os Azuis) deram uma “lavada” nos veteranos da Fábrica Nova (os Amarelos) com um placar de 5X0.

No dia seguinte, as comemorações reiniciaram a partir das 15:00 h. Aconteceram as corridas de 100 e 800 metros, mescladas com as brincadeiras atléticas: “cavalo russo”, “pau de sebo”, “porco ensebado” para rapazes e, para as moças, “corrida com ovo na colher”, “acender cigarro”, “dar laço na gravata”, etc.

“E assim encerrou-se a grandiosa tarde esportiva do dia 05, no magistral ESTÁDIO “FÉLIX GUISARD”, justamente cognominado o ‘filhote do Pacaembú’”.

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* É paleógrafa no Arquivo Dr. Felix Guisard Filho, pertencente à Divisão de Museus, Patrimônio e Arquivo Histórico de Taubaté (DMPAH)

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