Dia da Mulher – A menina Escolástica, a astúcia e o direito de escolha

 Dia da Mulher – A menina Escolástica, a astúcia e o direito de escolha

Texto  de Fabiana Pazzine

Durante diversas épocas, a mulher esteve à margem ou escondida diante dos acontecimentos históricos mais marcantes. É claro que esta afirmação não se trata de uma regra aplicável a todos os casos, já que são poucos os que nunca ouviram falar de Cleópatra, Maria Antonieta, Carlota Joaquina ou Anita Garibaldi.

Quando comparamos a vida das mulheres no século XXI com a de séculos passados, percebemos que as mudanças foram abundantes, hoje, na maioria das culturas, podemos escolher a profissão, ser independentes e decidir o próprio futuro.

Mesmo para quem diga que História importante é aquela que trata apenas dos fatos políticos e econômicos e assim torça o nariz para algo que julga menor, como a História das mulheres e também do cotidiano, faz-se necessário lembrar que é por meio desse tipo de estudo, agregado aos anteriores citados, que podemos entender melhor o funcionamento e o comportamento da sociedade ao longo do tempo.

A História já tratou a mulher de diversas formas, interpretando-a como símbolo da maternidade, provida de bondade infinita dedicada apenas a sua família, ou como a desprovida de valores e fonte de todos os males da sociedade por meio da devassidão e tentação a boa ordem social. O primeiro passo, para se entender um pouco mais o papel da mulher na História é deixar esses pré-julgamentos de lado a fim de se desmitificar visões construídas no passado.

Na imagem: Metis, deusa da astúcia, seduzida por Zeus, prestes a conceber Atenas.

Até o final do século XIX e início do XX, a mulher dependia de sua família, normalmente representada por uma figura masculina (pai, irmão, tio, etc.), para poder decidir por ela os rumos de sua vida. Cabia a este representante decidir se estudaria ou não, se ela se casaria e com quem seria.

Um caso chama a atenção.

Escolástica Maria de Jesus vivia em Taubaté, tinha 13 anos e era filha de José Benedicto da Cunha. Segundo relatos de testemunhas, em um processo aberto na delegacia da cidade no ano de 1912, a menina de 13 anos era apaixonada por Antonio Barbosa, mais conhecido como Tonico e tentava convencê-lo de todas as formas a se casar com ela. Um dia, quando saiu para fazer compras a pedido de seu pai, Escolástica encontrou Tonico que a convidou para ir a um lugar mais afastado a fim de lhe contar um segredo, lá chegando foi violentada pelo jovem. Esta é a versão dos fatos segundo Escolástica. Segundo Tonico, porém, a menina havia o convidado para conhecer o seu corpo em um lugar mais afastado, onde puderam manter relações sexuais.

Tonico foi preso e continuou se negando a casar com Escolástica. Dias depois alegando estar arrependido do que havia feito casou-se.

Considerando que seria muito difícil chegar à maneira real de como ocorreram estes acontecimentos, o fato é que Tonico casou-se de acordo com os desejos iniciais de Escolástica. É um caso que levanta muitos questionamentos, entre eles a astúcia feminina, presente na menina, ao manipular instituição judiciária, opinião popular e vontades alheias. Encerro a nossa história por aqui e sem deixar mais explicações a fim de que cada um possa refletir e se incomodar com estes fatos.

Convido a todos a pensarem sobre o papel desempenhado pela mulher na sociedade ao longo dos anos.

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Fabiana Pazzine é professora de História e pesquisadora de História do Cotidiano.

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