Crônicas a jato – Por Cesídio Ambrogi

Gosto de escrever. É um velho hábito.

Comecei a escrever por brincadeira. Depois, por prazer.
Quando não escrevo, agora, todos os dias, fico um tanto nervoso e não durmo. Escrevendo, vão-se-me as preocupações:
passo bem o dia e melhor a noite, como bem e durmo como um justo E por mais absurdo que pareça, não alimento veleidades:
não sonho com o fardão acadêmico, nem prêmio Nobel de literatura me faz perder o sono.
Também não me impressiono muito com o juízo que um ou outro leitor faça, porventura, a meu respeito ou a respeito do que escrevo.
Aliás, o jornal é como o rádio: quando a gente não gosta do locutor ou do cronista, é só fechar o rádio ou destinar o jornal a finalidades mais práticas. E pronto.
Disso resulta um perfeito equilíbrio entre todos. As vezes, contudo, tenho a impressão de que ninguém me lê.
E isso perdoem-me os possíveis leitores- longe de agastar-me, dá-me até um certo prazer- prezer de sentir-me anônimo… Li algures que a grande felicidade do homem está em não ser nada. E eu, talvez inconcientemente, ande a realizar esta felicidade, anonimizando-me, pulverizando-me, diluindo-me nestas croniquetas que me saem a jato, como na América do Norte os automóveis em série, para a venda no câmbio-negro no Brasil…
Minhas croniquetas, porém tem uma virtude: são de graça. O Waldemar Duarte, por exemplo, sabe disso.

Publicado originalmente em A Voz do Vale. Quarta-feira, 18/08/1948.

[box style=’info’] Cesídio Ambrogi (1893-1974)

Nasceu em Natividade da Serra-S.P. Em 1904 muda-se com a família para Taubaté. Jornalista militante, colaborou, por meio século, em periódicos de São Paulo. Tomou parte ativa na vida artística e literária valeparaibana.
Em 1923 tem seu livro de “As Moreninhas” editado pela Monteiro Lobato Editores. A partir daí nasce uma amizade que, em parte, é registrada nas dezenas de cartas, ainda inéditas, que Lobato enviou ao escritor.
Em 1947 lança o livro “Poemas Vermelhos” prefaciado por Monteiro Lobato. A obra tem grande repercussão na crítica literária da época.
Fez parte do grupo de intelectuais que instituíram a “Semana Monteiro Lobato”.
Permeada pela poesia e pelo amor as tradições populares, a obra de Cesídio Ambrogi apresenta o dom poético e a arte de versejar que o fizeram um dos mais importantes poetas paulistas. [/box]