Além daqui, aqui mesmo!
Eu era um compositor municipal, uma espécie de Cesidio Ambrogi da música.
Texto de Renato Teixeira publicado no Jornal Contato edição 693
O destino reservou um caminho na vida que me levou além de Taubaté, além daquilo que pela lógica, seria minha trajetória.
Deveria, em princípio, estudar, me formar, arrumar emprego, casar e construir história no conforto da cidade que me acolheu generosamente.
O que mais um homem precisa, quando vive numa sociedade que oferece todas as perspectivas necessárias para que possa existir com dignidade?
A música, porém, me levou daqui. Mas a música que me levou daqui foi a própria música da terra. Isso eu descobri durante o processo de maturação artística, quando percebi que durante anos a cidade me preparou para ser um tipo de representante dos seus valores, aqueles que alicerçaram as maneiras de pensar e agir do cidadão. E assim construí minha carreira e desenhei minha história.
Partir de um lugar é sempre uma coisa instigante: de repente, nos vemos diante de situações que não estávamos acostumados e isso nos obriga a repensar a vida.
Mas esse repensar é praticado sobre o alicerce inicial, aquele que sustenta o que realmente somos. E acaba que a gente sai de um lugar, mas esse lugar não sai da gente.
Foi o que aconteceu com Lobato, que se consagrou escrevendo como éramos.
Cantor do trio Skema 1, locutor da Cultura e músico envolvido até os ossos com a comunidade, eu compunha e cantava tudo que acontecia no meu dia a dia.
A forte impressão causada pela mudança de Ubatuba para Taubaté, quando o ônibus do Expresso Rodoviário Atlântico estacionou no ponto final na Praça do Mercado rescendendo óleo diesel… o comércio dos turcos com seus tecidos e depois alguns inconformismos que me levaram a colocar na minha berlinda musical até o Padre Evaristo… Tudo ia virando música…
A beleza da nossa cultura popular, colhida nas veredas da Imaculada, entre tantas outras coisas, me fizeram um compositor que canta sua cidade.
Aqui a modéstia me impede de me vangloriar pelo fato de, talvez, ter sido o único. Muitos já escreveram sobre nós, mas eu sou o único a cantar o que somos. Nada mais taubateano que Romaria.
Certa vez ao ver um caminhão, levando na caçamba um time inteiro de futebol, compus “Time de Bola”, a música que chamou a atenção do produtor Walter Silva, em São Paulo.
Cheguei nele através do Renato Consorte, irmão do Gino e tio do Luiz.
Assim, parti!
Todas as músicas que levava comigo eram canções que falavam da minha vida na cidade.
Muito mais do que um compositor nacional, eu era um compositor municipal, uma espécie de Cesidio Ambrogi da música.
A vocação artística possibilitou meu acesso ao mundo profissional das comunicações.
Do inicio dos anos setenta, quando os Teixeira De Oliveira mudaram definitivamente para Sampa, até hoje, participei ativamente da cena musical brasileira com a mesma intensidade dos tempos taubateanos.
Presenciei a ascensão da MPB pós bossa nova e participei como ouvinte atento e presente, de todo o movimento Tropicalista.
As novas tecnologias de gravação, o grande salto das TVs invadindo os lares brasileiros, todas essas coisas foram me mostrando que, pelo fato de continuar fiel ao meu pensar original, Taubaté agora era todo o Brasil.
Ultimamente, as pessoas me perguntam se eu “voltei pra Taubaté”; e eu digo ser impossível voltar para um lugar de onde nunca saí. Tenho sim, me reaproximado fisicamente. A idade vai deixando a gente mais sentimental e é altamente gratificante, quando me olho e me vejo; que bom saber que continuo fiel e leal aos princípios artísticos culturais lavrados na casa dos meus pais.
Voltar a participar da vida taubateana através da coluna no CONTATO, é só a seqüência dos fatos. E tenho ido além. Entendo nossa vocação transformadora e espero que tenhamos, cada vez mais, coragem para ousar com a mesma determinação dos nossos antepassados e, assim, transformar essas terras da Condessa de Vimieiro cada vez mais numa referência nacional contemporânea de modernidade e progresso.
Todo taubateano tem origens desbravadoras pois descendemos do espírito corajoso de Jacques Felix.
Tudo começa e termina em nossos corações! Corações genuinamente taubateanos!
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