A morte é a única certeza que temos…

 A morte é a única certeza que temos…
Texto de Dafne Araceli Román

Todos os dias, o tempo todo, a cada minuto, a cada segundo, nasce e morre alguém. Ops! Nasceu. Ops! Morreu. No fim desta frase mais algumas pessoas vão ter acabado de nascer e outras acabado de morrer e ao finalizar este texto outras tantas pessoas terão morrido e nascido. E é por este motivo, por ser algo tão natural quando nos referimos à vida que eu decidi escrever. Vemos o nascimento e a morte com olhares opostos, quando nos referimos à vida nos enchemos de felicidade, esperança, alegria de viver o outro fato, sempre ou quase sempre é regado a lágrimas, tristeza, lembranças, angustia, desespero. Mas, por quê? Afinal, todos nós desde que ganhamos consciência sabemos que em algum momento havemos de morrer. Em definitivo a grande maioria de nós não sabe bem como lidar com a morte, está bem, sei que a palavra morte não carrega um bem estar, mas preciso utilizá-la, já que o texto trata da tal. Temos dificuldades em aceitar que vivemos um caminho e que este caminho em algum momento irá acabar.  Sempre costumamos agradecer a Deus pela vida, pela saúde, pelos alimentos, família entre outros tantos agradecimentos, mas inúmeras vezes  o culpamos por “levar” junto a Ele alguém que amamos muito, achamos injusto com os mais jovens, achamos crueldade com as mortes trágicas, mas nos esquecemos, sempre, que são ciclos encerrados e que dão inicio a novas oportunidades, que precisamos ir adiante, “avanti”. Não podemos estacionar nossas vidas que ainda estão em caminho.  Sou daquelas que quando alguém nasce fico extremamente feliz, mas quando alguém morre não fico “curtindo” o luto, me permito sentir saudades, é claro, sempre sentiremos, até dos vivos, mas me permito acima de tudo reflexionar. Um dia eu aprendi que se ficarmos chorando, sofrendo por quem já não está entre nós é o pior que podemos fazer, pois prendemos este espírito à terra e não permitimos que ele siga o seu novo ciclo onde tem que ser, eu adotei este ensinamento e o levo para a vida, no fim acredito que tenha boa parte de verdade. Para falar sobre a morte, não podemos deixar à margem a ideia de que a religião é algo humano. Procurei efetuar comparações fáceis de entender para que possamos perceber as tais características que fazem com que a maioria das religiões se tornem tão similares, porém como este texto não trata de discutir sobre religião e sim abordar a morte, o maior foco dentre as comparações é dado para este assunto.

morte1

No Cristianismo e no Islamismo se nega a reencarnação. Após a morte, os bons vão para o Céu e os maus vão para o Inferno. Admitem um Juízo Final, onde haverá a Ressurreição dos Mortos.O Espiritismo crê na Reencarnação como forma de construção de experiências a cada vida que contribuem para a evolução do ser, assim como o Hinduísmo e o Budismo. Em destaque os hindus e os budistas crêem no Samsara, onde a cada nova vida é dado um passo em busca da iluminação, Nirvana para os Budistas e Moksha para os Hindus.

Podemos notar que há certa proximidade entre o Cristianismo e o Judaísmo, assim como o Budismo e o Hinduísmo. Jesus, o centro da religião cristã, era Judeu. Portanto, nada mais natural que o Cristianismo tenha adotado algumas crenças judaicas. Ambos creem na existência do céu e do inferno e de um julgamento.

Desprender-se de tudo o que é material é um dos comportamentos básicos e necessários para uma boa morte, alegam as religiões e consequentemente o  desprendimento espiritual, isso vale para o Kardecismo, assim como para o  Budismo e o Hinduísmo.

Imagem: http://www.hierophant.com.br/arcano/posts/view/Priestess/1792
Imagem: http://www.hierophant.com.br/arcano/posts/view/Priestess/1792

Podemos estabelecer uma relação estreita entre o Budismo e o Cristianismo, que apesar de parecerem ser tão distantes um do outro, comprovam unicidade no pensamento religioso humano. As dez ações positivas e as dez negativas do Budismo por exemplo é um nato e verídico fato de que são  relacionáveis aos Dez Mandamentos cristãos, já que dentre as ações negativas, que não devem ser feitas, estão matar e roubar, igualmente nos mandamentos cristãos.

É obvio que podemos dizer que toda religião não admite roubar ou matar, afinal, não é de boa moral que se façam tais coisas, o que na verdade esta não seria então uma ligação tão válida entre ambas religiões,  já que são  atos condenáveis independentemente de qualquer religião. O curioso é, porque exatamente dez ações?

Outro fato em comum entre Budismo e Cristianismo pode ser encontrado na purificação das ações. O que é chamado de ações negativas para os Budistas, podem ser classificadas como o pecados para os cristãos, visto que para os dois tais hábitos influenciarão no destino após a morte.

Mais uma das comparações que achei em meio da pesquisa e me resultou curiosas está entre o Hinduísmo e o Judaísmo. Longe de pensar que possam ter algo em comum, o curioso é o fato da palavra  shiva  existir nas duas crenças, mesmo tendo significados tão distintos. Para o Hinduismo, Shiva é o destruidor, que retira a vida para que possa ser recriada. Shiva  dentro do judaísmo não é divindade alguma, é um “modo de sentar-se”: a prática de sentar-se em shiva  é um comportamento que a família de um falecido exerce ao retornar do enterro. Procurei em muitos lugares a explicação para tal coincidência e tentei decifrar em tudo o que li qual a relação desta prática do sentar-se em shiva com o Shiva, deus hindu?

Será que a relação é sentar-se sobre o destruidor? Aquele que causou a morte de seu parente? Pois assim como o Shiva hindu, que tira uma vida para dar outra, o judeu perdeu um ser querido (foi-lhetirada uma vida) para que outra coisa venha a  acontecer, uma nova vida. Realmente não se sabe a origem do termo e nem se há alguma relação, não há fontes que venham a explicar tal fato.

Por fim, podemos concluir que as religiões são  muito mais  parecidas do que possamos imaginam e que todas pregam uma vida virtuosa, bons atos, e  nãoviolência já que para todas estes atos certamente influenciarão no destino após a morte.

Acreditando seja na vida eterna no céu ou no inferno, ou num ciclo de mortes e renascimentos ou em reencarnações, é sempre e somente a conduta moral que determinará o que irá a acontecer após deixarmos o nosso corpo físico na terra, indefere da religião que se siga, todas fazem esta mesma afirmação.

O que continua sem resposta vendo que todas as religiões mantém tantos princípios e valores em comum é; em qual acreditar? Ou, em o que acreditar? Misturar todas e criar a nossa própria fé seria considerado errado? Focar e ater-se a uma só crença, negar e criticar a visão das outras não é ser um pouco etnocêntrico?

O Budismo diz que crê no que Buda deixou de ensinamento, pois ele não teria razões para mentir, todas as religiões assim acreditam, seus antecessores, também não teriam razões para mentir.

Não estou falando numa questão de descrença nas religiões, tenho fé e muita, estou apenas e somente tentando entender o porquê de não aceitarmos a morte sendo que para todas as religiões é vista com tanta naturalidade. Esse “problema” de verossimilidade nos credos é válido a todas e está certo para todas.

O ser humano precisa ter uma crença, podendo ser a crença ateísta que crê que em nada crê, acreditam que tudo que as religiões dizem são mentiras, porém toda forma de negação já é uma forma de crença.

Só sei que neste caminho que se chama vida não sei aonde vou chegar, mas sim aquilo que eu quero e devo fazer para poder ter no fim dele um descanso de paz. Do pó viemos ao pó voltaremos.

 

Veja outro texto da autora:

– A arte de ser professor;

 

Veja também:

– A morte, o tempo e a moda;

 

[colored_box color=”eg. blue, green, grey, red, yellow”]

unnamed1-600x404

 

Dafne Araceli Román é argentina, escritora, professora de Espanhol e Português com formação em Letras. [/colored_box]

 

 

Acompanhe o Almanaque Urupês também na nossa página do facebook e twitter

almanaqueurupes