A figura feminina na História
Assim como outras tantas criações, objetos e posturas, os pensamentos e ações femininas tiveram muitas concepções e interpretações ao longo da história. Esse é o tema e objeto de estudo dos próximos artigos dessa coluna.
Querendo ou não, se esse texto fosse escrito há mais de 120 anos atrás, eu seria tratada como uma desocupada, não como uma pesquisadora. Machismo? Não! Positivismo! Opa, por falar em positivismo, Comte deve ter se desesperado com o avanço da nossa ciência! Ao ver que nossa história chegou aos estudos mais profundos e analíticos, transcendendo nossos documentos oficiais e considerando junto à psicologia os pensamentos, ações, construções sociais e o imaginário. Imaginário, tão utilizado e em voga componente histórico!
Esse tema para uma série de estudos nas relações mais íntimas do ser humano nasceu da necessidade e do interesse em discutir e descobrir quais eram os pensamentos e relações dentro do universo feminino, seja ele nas Casas-grandes ou senzalas, nos teatros e jornais, nos relacionamentos amorosos, na escola e no trabalho.
Sendo essa considerada uma análise de gênero, o que permite aguçar a curiosidade é o fato de interpretar e adentrar ao mundo dos pensamentos humanos e seus limites. A fascinação pelo encontro e ascensão de temas cotidianos, como quando vemos em jornais dos anos 40 e 50 colunas femininas defendendo os valores com relação a casamentos, namoro, paqueras e como deve se portar uma senhora, diferentemente de uma senhorita na sociedade, nos intriga a continuar.
Ou mesmo podemos verificar que nem sempre a visão sobre a figura feminina foi à mesma durante toda a história, que ela conquistou alguns direitos universais, como também se deslocou de ambiente, graças a sua especialidade: o bom ouvido e os argumentos friamente calculados. No qual posso citar que em alguns testamentos coloniais temos mulheres de grande e razoável poder aquisitivo casando-se após viuvez mais duas vezes. Isso em testamento a ser consultado no Arquivo Félix Guisard em Taubaté! Esse fato gera em nós pesquisadores a curiosidade em saber que uma mulher viúva na colônia, de poder aquisitivo não era tão “mal vista” como se pode pensar. Mulheres com o direito religioso e civil igual ao dos homens. Curioso… O que, por exemplo, não combina nem um pouco com a visão da mulher na Grécia Antiga…
Mulheres, mulheres, mulheres… As que já se tornaram exemplos de ícones mundiais, outras que escolheram pela vida religiosa e silenciosa dos conventos, que fizeram barulho na defesa da arte e dos pensamentos, mulheres que subiram em palanques, que nunca conheceram o sol, ou a praia, mesmo morando no litoral, senhoras que viviam por seus senhores, aquelas que sofreram preconceito em seus próprios lares…
Interessam-me essas histórias, esses fatos, seus pensamentos, suas ações, suas vidas. Tais como a tristeza de Dona Leopoldina, a ânsia de Pagú, a criatividade da Tarsila, os milagres atribuídos a Olga (Santinha de Taubaté), citados como exemplos.
São essas relações sociais que compõem a história do nosso íntimo, bem antes das tomadas de decisões, por trás dos grandes e relevantes acontecimentos. Os bastidores da nossa história através de câmeras de alta definição. É isso que se pretende realizar nessa próxima série no Almanaque Urupês em 2013.
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Giovanna Louise Nunes é graduada pela Universidade de Taubaté, Mestranda em História Social pela Universidade de São Paulo. E professora na Rede Estadual em Taubaté.