Alexandre Malosti – ceramista

 Alexandre Malosti – ceramista

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Almanaque Urupês: Como você define cultura?

Alexandre Malosti: Muitos já a definiram, mas para responder a pergunta citarei a definição segundo a UNESCO, creio que, além da importância da definição do termo, entender o que ela pode nos proporcionar é de extrema relevância e talvez mais “digerível” para todos nós: “A cultura deve ser considerada como o conjunto dos traços distintivos espirituais e materiais, intelectuais e afetivos que caracterizam uma sociedade ou um grupo social e que abrange, além das artes e das letras, os modos de vida, as maneiras de viver juntos, os sistemas de valores, as tradições e as crenças”. A cultura confere ao ser humano a capacidade de refletir sobre si mesmo, discernindo assim valores e procurando novas significações. É isso que precisa ser digerido e entendido. A impressão que tenho é de que estamos perdendo essa capacidade de discernimento, nosso acesso a informação aumentou, mas nossa capacidade de reflexão está empobrecida. Hoje assistimos passivamente a uma unificação imposta pelo mercado, restringindo as pessoas de experimentar novas possibilidades estéticas, acessar a diversidade e a riqueza cultural. Essa massificação limita nosso modo de ver o mundo, nos tirando a oportunidade de vê-lo sobre infinitas perspectivas. A industrialização da cultura também merece reflexões, salvo exceções, a maioria das ofertas culturais são aquelas rentáveis, independente da qualidade que ela possua. E é grande parte disso que consumimos.

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Almanaque Urupês: Existe política publica cultural em Taubaté?

Alexandre Malosti: Ainda não existe, mas acredito que possamos avançar nessa questão. A Secretaria de Turismo e Cultura de nosso município vem mostrando-se receptível para diálogos e parcerias, mas é sempre necessário avançar. Embora ainda seja cedo para avaliações, gostaria de destacar a atuação positiva do Secretário Sr. José Saud e da Gerente de Turismo Sra. Zélia Chagas. Espero que além da realização de eventos, o fomento de atividades culturais seja ampliado. Existem diversos espaços em nossa cidade que poderiam ser mais bem utilizados, gerando assim oportunidades aos artistas, aos produtores culturais, gestores, etc. Investir na qualificação de pessoas para elaboração de projetos e captação de recursos é uma alternativa que viabilizaria muitas ações, nos sobram artistas, mas faltam oportunidades. Trabalho de base nas escolas também é fundamental para criação e formação de público, a divulgação das ações também necessita de mais cuidados. Melhorar a comunicação entre os gestores, criar canais para troca de experiências, permuta de produções culturais também é fundamental. Nossos museus poderiam ser mais integrados, encontros periódicos de seus gestores enriqueceriam a atuação de todos e tornariam essas instituições mais dinâmicas e atrativas, respeitando as características e funções de cada uma. Ampliar o diálogo com a classe artística é um fator essencial para avançar nas políticas públicas culturais em nosso município.

 

Almanaque Urupês: Em qual estágio de desenvolvimento está a setor das artes plásticas no município?

Alexandre Malosti: O que vejo são ações isoladas, a maioria delas realizadas pelos próprios artistas. Organizam e bancam exposições para poderem mostrar seus trabalhos. Na minha área mais específica, cerâmica artística, não vejo motivos para comemorações, grandes nomes e escultores encontram-se no anonimato, com pouco ou sem nenhum espaço para exercerem suas atividades. Talentos esses que se bem trabalhados contribuiriam e muito para a cultura local.

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Almanaque Urupês: Na sua avaliação, em nosso município, qual seria o modelo de política cultural mais adequada para estimular o setor de artes plásticas?

Alexandre Malosti: Nossa cidade quer investir em seu potencial turístico, espero que com isso espaços sejam criados para que a produção artística possa ser vista por turistas e pelos próprios taubateanos. Realização de mostras, exposições regulares, divulgação, levar os trabalhos desses artistas para fora de nossa cidade, valorizar esses talentos e criar oportunidades para que essas obras possam ser adquiridas. Poucos conseguem viver da arte em nossa cidade e isso é preocupante.

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