Escultor de histórias
Artesão de São Bento do Sapucaí retrata o homem do campo em bloco único de madeira
(matéria publicada na revista Sincovat set/out 2013)
Jeito tranquilo e mãos calejadas. Aos poucos, as peças vão ganhando forma.
Há 39 anos o artesão Ditinho Joana, do bairro do Quilombo, em São Bento do Sapucaí, usa o dom de esculpir artes em um único bloco de madeira. Mas as obras primas vão além da beleza e da habilidade deste simpático senhor de 68 anos de idade.
Ditinho se destaca pela sensibilidade ao retratar o dia-a-dia do povo. E assim, cada obra tem sua história.
A primeira peça foi a de um padre catequizando um índio
” À noite eu sentava em um banco, minha mão ia clareando com a lamparina e eu começava a esculpir. A minha primeira escultura foi um padre e um índio e depois fui fazendo os outros personagens. Eu queria era retratar o homem da roça, registrar as histórias que não tiveram a oportunidade de ser registradas. Na escultura, eu mostro a vida e o dia-a-dia que passou e eu presenciei.”, comenta.
E foi desse cenário que, na década de 80, o escultor fez uma botinha, que se tornou marca registrada do ateliê.
Hoje ela está presente em diversas cenas retratadas por Ditinho.
“Eu fiz a botinha para mostrar o homem do campo e a caminhada na vida, por isso eu fiz ela já gasta, cansada. Desse dia em diante, todo mundo ficou gostando. Hoje, todos simpatizam com ela.”
Cada peça conta uma história que aconteceu com o próprio artista ou uma cena que ele presenciou ou ouviu de um familiar.
“Quando eu pego um bloco de madeira, olho para ele e já penso em uma cena que eu vi ou que eu ouvi. A partir daí, gravada na mente aquela imagem,eu começo a esculpir.”
No ateliê, há esculturas como a mãe de Ditinho grávida, o pai do escultor carregando ele nas costas quando ainda era criança, um mutirão construindo uma casa de pau a pique, sempre uma peça única de madeira, sem emendas, sem pregos e sem cola.
“Isso faz com que as pessoas percebam que o artista tem habilidade. A peça torna-se mai arte, as pessoas ficam mais alegres e falam uma coisa que eu acho muito importante. Isso é um dom de Deus”, alegra-se.
O artista leva cerca de 30 dias para fazer uma escultura de porte médio. No entanto, há peças que exigem até seis meses de trabalho. Depois de ganhar a forma desejada as obras passam pelo acabamento minucioso do escultor.
“Todos nós temos uma raiz na roça. Por isso, o tema que eu faço atrai muitas pessoas. Recebo visitas de gente do país inteiro e até de fora do nosso país. Então, eles se encantam, pois estão comprando também uma história através da escultura”, diz o artesão.
O Ateliê de Ditinho joana fica localizado na rua Projetada, nº42, no Bairro do Quilombo, em São Bento do Sapucaí.
O telefone é (12)3971-2579.
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