A História e os marginais
Hoje, quando usamos o termo marginal associamos logo a figura do bandido, do ladrão, mas, ao voltarmos na definição original desta palavra observamos que seu significado está relacionado a algo que se localiza além das fronteiras. Pensando desta forma, o que ou quem estaria além das fronteiras da História?
Homem pede esmola na Matriz (Foto: Angelo Rubim)
As fontes históricas, ou seja, as pistas deixadas pelos homens ao longo do tempo, que os historiadores utilizam como matéria-prima em seu ofício são, em grande parte, produzidas pela elite de uma região. Este grupo dominante, por sua vez, registra (nas fontes históricas) a sua visão de mundo, seus interesses, suas ideologias, enfim a sua versão dos fatos. Quando lemos um processo crime do século XIX, só para exemplificar, pouco vemos sobre o modo de vida das minorias, utilizando-se de um termo mais atual, tão distinto do modo de vida tachado como correto pelas elites sociais, políticas, econômicas e religiosas.
Sem-teto dorme em barraca do mercadão (Foto: Angelo Rubim)
Mais claramente, quem seriam os marginais na História? A resposta possível seria listar os delinquentes, os loucos, as prostitutas, os escravos, os analfabetos, enfim, todos aqueles que tiveram as suas vozes caladas na História. As vozes dessas minorias deixam de ser ouvidas, normalmente não por vontade dos historiadores, mas sim porque os registros oficiais desprezaram grande parte das suas versões, ou não as acharam dignas de registro. Isso não significa, por exemplo, que não conheçamos nada a respeito dos escravos (que seriam um dos grupos marginalizados na História), mas sim, que não conhecemos a História deste grupo sob a sua perspectiva, o seu olhar.
Só para entender a importância de se conhecer a História das minorias, será que poderíamos conhecer a Taubaté na qual vivemos só pela história de nossos administradores, ou seja, prefeito e vereadores eleitos? A resposta é que poderíamos talvez conhecer uma história dos administradores, mas não da sociedade. E, sem conhecer a sociedade que esses políticos governam, poderíamos constatar que não conheceríamos tão bem esses políticos também.
Pés cansados repousam na praça (Foto: Angelo Rubim)
Assim sendo, conhecer a história dos marginais não é apenas significativo para se entender aquilo que em muitos casos ainda não foi desvendado, como também para se compreender um pouco mais da história das elites, que no fim, acabam por compor uma mesma sociedade, mesmo que seja preenchida de disparidades. Portanto, ao lermos artigos sobre os loucos, a sexualidade ou os crimes em uma região devemos ser mais atentos, pois, não se tratam de meras curiosidades, mas sim, de complementos da História divulgada oficialmente.
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Fabiana Cabral Pazzine é professora de história. Pesquisadora de História Cultural e Social.