Casa de Caipira

 Casa de Caipira

Por Solange Barbosa

Os turistas que nos visitam olham maravilhados os locais que preservam o estilo da verdadeira vida caipira: o fogão a lenha fascina, o leite da vaca espumoso tirado na hora parece ser coisa de outro mundo, criança quando vê galinha, frango, fica maluca, chamam as aves de “coricó”.

Os bandeirantes e depois os tropeiros, espalharam por todo o interior de São Paulo costumes culinários que se tornaram marcantes.  Os barões do café, apesar de toda a riqueza, não  deixavam de lado suas “roças”, afinal era delas que se mantinha a dispensa cheia.  A mulher caipira, menos abastada, retirava da natureza o básico para sua alimentação. Sua porção indígena a ensinou a utilizar a  farinha de milho e de mandioca, a comer frutos silvestres; a influência portuguesa a fez gostar das verduras e legumes refogados, além das sopas é claro, e a veia africana a fez conhecer na ponta do dedo o sabor ideal do tempero. Em sua simplicidade na preparação dos alimentos, a mulher caipira conseguia dar ao alimento sabor e aroma inigualáveis.

A casa de barro, as portas e janelas de madeira, o fogão de lenha, o “guardacomida” de madeira, tudo muito simples, muito limpo.  Toalhas de pano de sacaria muito alvas, com biquinhos de crochê, as latas de óleo, manteiga e banha dependuradas na parede com flores como as “maria-sem -vergonha”, “onze horas” entre outras, no chão os pés de dálias e almas, além da espada de São Jorge, do pé de alecrim e arruda para os benzimentos.

No quintal, o básico da horta: alface, couve, manjerona, alfavaca, o pé de limão, o pé de chuchu, a salsinha e a cebolinha, algumas vezes um pé de tomate,  o pé de abóbora se espalhando pelo chão, não podendo faltar as ervas para os chás de cura: hortelã e puejo, macelinha e mastruz e também a melissa para o chá calmante;  se um pouco maior o espaço, cabia também o abacateiro, o limoeiro e a goiabeira e até mesmo uns pés de milho e mandioca. Num cantinho lá estava o galinheiro com algumas frangas, galinhas poedeiras, o galo índio, às vezes algumas galinhas garnizé, em outras, algumas  galinha d’angola. Lá no fundo também tinha o forno de assar o pão.

O sabor da culinária caipira é algo que não se explica: No café da manhã aquele café gostoso com o pão feito em casa, muitas vezes até a manteiga era feita com a nata do leite que era entregue pelo leiteiro logo cedo. Leite aliás, que era misturado bem quente com uma farta porção de farinha de milho e adoçado com açúcar cristal. No almoço lá vinha o chuchu refogado com arroz,feijão e frango caipira ensopado ou fritinho, quando não assado;  a costelinha de porco temperada com bastante alho e limão e depois frita, couve refogada e virado de feijão; os peixinhos pescados no ribeirão, fritinhos, ensopados. De noite, na hora da janta, uma sopa de macarrão com batatinha, ah!! que delícia!!!

 

 

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Solange Barbosa é técnica em turismo e especialista em turismo cultural de base comunitária. Criadora do projeto Rota da Liberdade e consultora da UNESCO no projeto Rota do Escravo. É intermediadora cultural e consultora em assuntos culturais da população negra de Taubaté e região.

almanaqueurupes

2 Comments

  • “O sabor the culinária caipira é algo que não se explica”….e nem precisa. Isso se chama IDENTIDADE!
    Houaiss nos ensina várias definições:
    1 – estado do que não muda, do que fica sempre igual.
    2 – consciência the persistência the própria personalidade.
    3 – o que faz que uma coisa seja a mesma (ou the mesma natureza) que outra.
    4 – conjunto de características e circunstâncias que distinguem uma pessoa ou uma coisa e graças às quais é possível individualizá-la.
    Mas a “gostosura” desse texto está em remexer – lá no fundo – com nossas RAÍZES….o suporte que nos mantém em pé e nos remete aos nossos antepassados.
    Esse texto ficou com gosto de “quero mais”!

  • querida amiga, este seu sorriso franco e aberto já nos predispõe, vc poderia cozinhar as comidas mais insossas e nós acharíamos dos deuses, pois a Deusa estava presente. Que bom ter vc na minha vida! bjs

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