Festa do Divino em Taubaté

 Festa do Divino em Taubaté

Há quase três décadas, a zona rural de Taubaté é palco da tradicional Festa do Divino do bairro da Freguesia. Veja a galeria de imagens.

No bairro da Freguesia, no meio da serra da Quebra Cangalha, uma área sem nenhum morador num raio de mais de dois quilômetros, há quase trinta anos se repete a procissão e Festa do Divino. Cravada em uma pirambeira na margem da estrada do Malacacheta, o lugar da festa é, ao mesmo tempo, território de Taubaté e de Pindamonhangaba. De acesso fácil, a pequena capela fica a menos de trinta quilômetros do centro de Taubaté, em um pequeno vale com uma privilegiada vista para a capela do Santo Cruzeiro, no Morro do Fiador, outro lugar de peregrinação e o ponto mais alto de Taubaté.

Desde 1986 a festa é preparada semanas antes do evento final, com visita às famílias portadoras do estandarte do Divino. Em suas casas, são entoados cantos, orações e coletadas doações para a realização do grande evento. São cerca de sessenta famílias portadoras das bandeiras que levam mais de quatrocentas pessoas ao evento final.

A 28ª festa aconteceu no dia 29 de junho, domingo. Com recepção no Império do Divino, em território pindense, um farto café da manhã aquece os festeiros. No império, cuidadosamente montado na casa de Ana Neneca, os estandartes são posicionados e aguardam o horário do início da procissão. Ali são trocados os primeiros abraços, o papo é colocado em dia, amigos se reencontram, crianças são apresentadas e os adolescentes ocupam seu espaço naquela comunidade.

Capela em território pindense
Capela em território pindense

Logo nos primeiros passos em direção ao ponto de partida, duas jovens vestidas com trajes nobres, nos recebem com um caloroso “bom dia”. Mais adiante, a fila para o farto café, com bolos, mandioca, café com leite ou puro, pães e muita disposição dos que estão servindo.

Um farto café da manhã
Um farto café da manhã

No império os estandartes vão se acumulando e as pessoas, aos poucos, vão se revezando no pequeno espaço para realizar suas orações.

Do lado de fora uma pequena disputa: quem serão os responsáveis por carregar a cruz de madeira que irá na frente da procissão?

Devidamente alimentados, depois das inúmeras poses com anjinhos, Silésio Tomé, um dos responsáveis pela festa, começa o chamado  para a organização da procissão. As famílias correm até suas bandeiras e, enfileirados, começam as primeiras orações. À frente, o foguetório avisa que está tudo preparado. Um pouco acima, 500 metros à frente, na capelinha taubateana, destino da procissão, o sino badala esperando os fiéis.

Silésio Tomé faz a chamada para os donos das bandeiras.
Silésio Tomé faz a chamada para os donos das bandeiras.

Em uma última disputa por quem carregará a cruz de madeira, cinco pessoas dividem o objeto (que deveria ser carregado por quatro). Um acordo, em fim.

Cruz e anjinhos à frente, seguidos pelas bandeiras e uma multidão em procissão. Silésio com seu violão segue ao lado da procissão iniciando canções e orações. Com o auxílio de um amplificador portátil, conduz os passos da procissão. Um fogueteiro vai à frente com seu arsenal pirofágico abrindo caminho para os fiéis. De longe podia-se escutar a chegada da procissão.

Saída para a procissão
Saída para a procissão

Já em Taubaté, uma tenda armada ao lado da capelinha adornada com o vermelho do divino, as pessoas ocupam cadeiras e bancos. Pedidos de oração são depositados em uma urna improvisada, que horas depois seria queimada. Intenções são postas em um papel para leitura do padre, que chegara com um pequeno atraso. E começa uma nova disputa, dessa vez mais branda, por quem seria o ministro da eucaristia. Bem humorado, padre Fausto se encarrega de conduzir a missa. Ao final, muita água benta e a distribuição do sal abençoado.

Chegada na capela de Taubaté.
Chegada na capela de Taubaté.

Fim da missa e início do almoço. Enquanto a fila até a cozinha se forma, algumas famílias chegam com prendas para a realização de um bingo. Volumes enormes de comida são distribuídos. Uma farta feijoada preparada por uma família de habilidosos cozinheiros. Com muito bom humor e uma preocupação ainda maior, a comida é distribuída para uma enorme quantidade de pessoas, que a degustavam. Algumas repetem, outras, ao final, até levam um pouco para casa. O doce de abóbora, disputadíssimo, também foi suficiente. O final do almoço é uma satisfação para quem comeu e um alívio para quem o preparou. A expressão final: “Deu para todos!”.

Ao final, prato cheio
Ao final, prato cheio

Chama atenção a completa ausência de barracas de vendas de produtos. Tudo, absolutamente tudo o que foi distribuído na festa foi fruto de doações. A única movimentação financeira no local foi um bingo, no qual a premiação eram as prendas que as famílias doavam, e um leilão de animais, também doados, cujos rendimentos foram doados na hora para uma instituição de fim social.

A impressão final é a de que aquela festa, mesmo ocorrendo há “apenas” 28 anos, é a materialização daquilo que nós, aqui no Almanaque, vemos diariamente em documentos taubateanos que datam um, dois e até três séculos passados. Uma autêntica manifestação de fé e uma prática cultural que acreditávamos ter ficado no passado. Os Sertões de Taubaté são, de fato, o último reduto das mais autênticas manifestações da cultura caipira que fizeram a cidade ser conhecida nacionalmente.

Veja as imagens da Festa do Divino

 

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