O “BAR DO ALEMÃO”
Outubro de 1968
Existem na vida comercial taubateana vários estabelecimentos especializados, que fazem honra à nossa tradição.
Por isso, costumamos falar dêsses empreendimentos, à medida que uma ou outra data é vencida em sua história.
Lá por volta de 1928 – pois o ano não havia ainda terminado – aportou a Taubaté um cidadão de origem germânica, com sua família.
Ricardo Weinreich, D. Gertrudes, sua espôsa, e as filhas Herta, Helena e Margot.
Pouco depois as portas de um estabelecimento sui generis eram abertas ao público. Um bar, mas, um bar destinado à venda de chope.
Muita gente prognosticou, desde logo, a curta duração de novel cada comercial. Naquela época, não muito afastada, é verdade, mas, bastante recuada para uma emprêsa dêsse tipo, as novidades duravam pouco em nossa terra.
Chegou-se mesmo a criar a lenda de que as coisas novas duravam apenas três, ou, quando muito, quinze dias.
O “Bar do Alemão”, como foi designado pelos primeiros clientes, permaneceu com suas atividades durante uma, duas, três, quatro semanas, um mês, dois, cinco, dez e daí por diante sempre pronto a servir.
Seu Ricardo, como era conhecido, mantinha sempre na fisionomia aquela alegria inata dos que, aportando ao Brasil, aqui encontraram uma segunda pátria. Alegre por natureza, sorrindo sempre, brincando com uns e outros, esbanjando o sotaque que os filhos da Germânia nunca perdem, errando uma palavra, corrigindo outra, enfim, abrindo os braços a todos, seu Ricardo conquistou, de pronto, a amizade da gente taubateana que – diga-se de passagem – nunca foi difícil para os que realmente querem comungar conosco nesse trabalho imenso do soerguimento e progresso.
De início o “Bar do Alemão” tinha apenas uma porta, ali mesmo, na Praça D. Epaminondas, o antigo Largo da Matriz, ao lado do Restaurante Centenário, que não existia ainda na época.
Alguns anos depois mudava-se para a Rua Duque de Caxias, onde até hoje está, ampliando suas instalações para melhor servir à sua grande clientela, cada vez maior, como ponto de reunião que é.
O tempo foi passando. Os homens vão ficando mais idosos, mais velhos, mais usados, no linguajar simples do povo. Seu Ricardo também.
Apesar de sua alegria íntima, da felicidade que o rodeava, tendo ao lado entes queridos, nem sequer pensou no transcorrer imutável do tempo.
Lá por volta de 1953 adoeceu. Um dia corre a notícia infausta: morreu o Alemão do Bar.
O seu desaparecimento encheu de tristeza a todos os que o conheciam, todos os seus amigos. D. Gertrudes, agora privada do companheiro de tantos anos, assume a direção do bar que, pouco depois, passava para o genro Henrique, casado com sua filha Herta.
Durou pouco o nôvo titular. Por sua vez tendo contraído moléstia grave, Henrique veio a falecer em 12 de agôsto de 1966.
Mais um duro golpe no bar que nasceu da esperança de uma família. Mas, cumpria continuar, cumpria lutar. Gente que jamais conheceu o ócio, abriu de nôvo as portas do “Bar do Alemão”.
E êle aí está, sob a direção dos remanescentes de seu Ricardo, sempre atuante, sempre amigo e acolhedor.
O “Bar do Alemão”, que na gerência de Henrique Groh havia melhorado sensìvelmente as suas instalações, é hoje um ponto de atração, um ponto de reunião social.
Está completando neste ano da graça de 1968 seus 40 anos de existência, desmentindo a afirmativa de que, em Taubaté, nada dura. Venceu o tabu. Destruiu um mito.
E hoje, quando trazemos para o livro da saudade um pouco da história dêsse estabelecimento querido dos taubateanos, poderíamos citar a tremenda luta sustentada por um homem que, vindo para o Brasil, vindo para Taubaté, aqui se radicou e aqui dedicou o resto de sua existência numa emprêsa diferente, abrindo um nôvo campo comercial.
Ricardo Weinreich, Henrique Ludwig Groh e seus familiares, constituem uma corrente cujos elos se entrelaçam, oferecendo a todos nós um exemplo de trabalho, de união e de amor.
Não importa terem sido os dois primeiros abatidos na longa caminhada pela vida. Não importa!
O que importa é que o “Bar do Alemão”, cuja semente fôra lançada há 40 anos e cultivada carinhosamente, continua em sua vida ascensional, como testemunho do que pode a decisão e a coragem dos que sabem lutar.
Reverenciando a memória de dois varões que já se foram, fazemos, nesta nossa crônica da saudade, um registro muito respeitoso, pois a saudade é a única companheira dos que olham para o passado, tão cheio de encantos.
[box style=’info’] Emílio Amadei Beringhs
Desde menino foi funcionário da CTI.
Atuou por mais de 50 anos no jornalismo taubateano, descreveu com maestria o cotidiano taubateano. Integrou o Instituto Geográfico de São Paulo. Foi um dos pioneiros do rádio amadorismo no Vale.
Na radiodifusão convencional, foi responsável, junto com Alberto Guisard, pela pioneira Rádio Bandeirantes.
Em 1941, foi co-fundador da Rádio Difusora de Taubaté. Foi sócio fundador do Aero-Clube de Taubaté.
Em 1967, escreve o primeiro volume do obrigatório livro Conversando com a Saudade, descrito por muitos como pedaços da alma de Taubaté. É, também, de sua autoria, a bandeira de Taubaté.
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