Djalma Castro, que faleceu no domingo(5) foi um dos jornalistas mais atuantes de nossa sesquicentenária imprensa .
Dono de um texto refinado, Djalma foi correspondente do jornal O Estado de São Paulo na região durante a ditadura militar(1964-1985). Na época, ainda cursando a faculdade, Djalma também dirigia o matutino A Tribuna.
Antonio Mello Jr. , o grande pesquisador da imprensa taubateana, descrevia Djalma como alguém de “temperamento vibrante, irriquieto, transmite a folha sua orientação combativa, porém, sempre comedida e justa nas apreciações”.
O próprio Djalma lembra de como era ser jornalista em Taubaté durante os anos de chumbo: “Na “Tribuna”, por exemplo, havia a censura diária, uma pressão muito grande. As notícias tinham de ser meramente locais, sem muita influência ideológica, sem entrar no mérito social”.
No ofício, Djalma teve a chance de entrevistar a geração mais brilhante de intelectuais da terra de Lobato. Gentil de Camargo, Cesídio Ambrogi, Paulo Camilher Florençano, Oswaldo Barbosa Guisard e tantos outros foram objetos de reportagens que há muito tempo balizam os textos que são publicados no Almanaque Urupês.
Prestamos aqui uma modestíssima homenagem ao nosso querido, muito admirado incentivador e generoso crítico, republicando um texto de 1969 para o jornal “O Estado de São Paulo”. Djalma simplesmente revela como a Semana Monteiro Lobato, décadas antes da Feira Literária de Paraty, era considerada o um dos grandes eventos culturais de São Paulo.
Djama Castro, no alto dos seus 66 anos, foi embora cedo demais.
Mágoa criou Semana de Lobato
Um grupo de taubateanos amigos e admiradores de Monteiro Lobato, algum tempo após a sua morte, visitava de quando em quando a esposa do escritor, d. Maria da Pureza da Natividade Monteiro Lobato. A memória do pai de “Narizinho” era então o assunto preferencial desses encontros. E foi sob a inspiração da justa mágoa de dona Purezinha (como a chamavam) contra os ataques que se faziam ao escritor que nasceu a “Semana Monteiro Lobato”.
Certa noite, à convite, o professor Gentil de Camargo (um dos três jacarés amigos de Lobato) compareceu a uma reunião do Rotary Club de Taubaté para fazer uma palestra sobre Euclides da Cunha. Ao final, lembrou-se da ideia aventada da organização da “semana”.
Foi então que o jornalista Oswaldo Barbosa Guisard acolheu a sugestão, como diretor de protocolo do Rotary. Em 1953, realizou-se a primeira “semana”. Durante cinco anos, o sr. Oswaldo Barbosa Guisard foi secretário-geral da Comissão Executiva que se constituíra de 5 elementos do Rotary, 5 do Colégio Estadual “Monteiro Lobato” e 5 figuras da sociedade local, independentes, não pertencentes a entidade citada.
Cinco anos depois, diante da recusa de qualquer componente da “semana” em aceitar a presidência em substituição ao então presidente que se demitira, o sr. Oswaldo Barbosa Guisard aceitou a liderança da SML. Reorganizou o Conselho Permanente com elementos de Taubaté, São Paulo e Rio de Janeiro e mais tarde também de Brasília. Hoje, a Comissão Executiva do Conselho está constituída pelo sr. Oswaldo Barbosa Guisard, presidente, e pelos srs. José Jeronimo de Souza Filho e Flavio Bellegrade Nunes.
Idealismo
O sr. Oswaldo B. Guisard, durante mais de 10 anos, transformou uma cerimônia sem expressão numa das maiores festas culturais do país: a “Semana Monteiro Lobato”. Hoje, dividida em duas partes distintas, a SML conserva o caráter cultural, acrescido, todavia, das manifestações populares.
Realizada anualmente em Taubaté, a “semana” é agora um movimento de expressão nacional. Em 17 anos, o certame atingiu seu objetivo, “pois já não existem elementos que antigamente atacavam a figura de José Bento Monteiro Lobato, escritor por excelência”.
Estadão, 28/6/1969
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