Voa, Vale!
Por Renato Teixeira
Tenho um carinho declarado pela via Dutra, a estrada por onde passam nossos sonhos e nossos destinos. Taubaté é uma cidade a beira de uma estrada e, por isso, a estrada sempre foi nosso melhor argumento. Eu mesmo componho músicas estradeiras o tempo todo. Fomos criados ouvindo o ronco dos motores passando pela Dutra e qualquer coisa que precisássemos lá estava ela, a estrada, pronta para nos socorrer e nos levar.
Todas as cidades do Vale devem muito a essa estrada carismática e importante, que liga São Paulo ao Rio de Janeiro. Agora estão chegando, e sendo muito bem vindas, as novas opções rodoviárias, como a Carvalho Pinto e a Ayrton, estradas que criaram novas e confortáveis opções de viagem.
Temos também o trem. A antiga Estrada de Ferro Central do Brasil passa por aqui e não fosse o abandono desagradabilíssimo em que se encontra a velha e linda estação, com certeza o povo da cidade reconheceria a importância histórica dessa linha férrea, para o progresso da toda nossa região. Quando ainda vivia em Taubaté e namorava em Barra Mansa, a cada quinze dias, lá estava eu embarcado no lindo trem de aço que, administrado por uma companhia inglesa, não atrasava um segundo sequer. Na hora prevista, lá estava ele reluzente e belo, pronto para receber os passageiros. Todos os vagões eram confortáveis e espaçosos. As poltronas, largas e suficientemente distantes uma das outras para que, com as pernas esticadas, nos sentíssemos em casa.
Quando fazia o caminho de volta e desembarcava em Taubaté, voltava pra casa no Jardim Russi a bordo de uma daquelas inesquecíveis charretes, nossos taxis genéricos de então. Por sinal em Taubaté a charrete deveria ter um espaço só pra elas, pois, além de confortáveis e ecológicas, causam uma sensação atávica.
Havia também no trem de aço um vagão mais confortável ainda, o Pullman, um pouco mais caro. Nele, as poltronas não eram fixas para que pudéssemos virá-las para as amplas janelas e, assim, assistirmos o Vale se mostrando para os viajantes com seus campos e cidades.
O vagão restaurante era outra atração do Trem de Aço. Comia-se muito bem e com certeza o serviço era prestado por uma equipe competente e criativa. Foi lá que, pela primeira vez, comi uma casquinha de siri e descobri o pudim de pão.
O tempo passou, o trem passou e todas as tentativas de trazê-lo de volta não funcionaram, infelizmente.
O Vale do Parahyba mudou muito. Sua localização privilegiada atrai grandes negócios e todas as vezes que pressinto uma certa tendência em direção aos deselegantes galpões para depósito rondando a cabeça dos investidores mais imediatistas, tremo nas bases. Gosto de ver o pulsar da vida nos negócios do dia a dia.
Dia desses, curioso, fui ver aquela movimentação de terra, lá pros lados de Caçapava, onde estão construindo um empreendimento com o nome de “Aerovale”.
Muito interessante… em alguns lugares do Planeta, o tipo de aeroporto que faz parte do negócio já faz muito sucesso. O cidadão mora num condomínio com uma pista exclusiva e guarda o avião num hangar que fica no lugar onde, antes, ficava a garagem do carro. E pode, também, transferir seus negócios para perto da “casaeroporto” porque está prevista a preservação de áreas especificas para construção de escritórios; e se você se dispuser a levar pra lá sua indústria, também há um espaço reservado para isso. Adoro essas novidades que mostram as virtudes e conquistas do povo do planeta. A minha assinatura de TV tem mostrado o quanto de novidade criativa existe nesse mundo. Sou o rei do Discovery e meu programa favorito chama-se “Mega Construções”.
Todas as formas de caminho passam pelo vale. Estradas, aeroportos e um magnífico potencial ferroviário. Fica faltando apenas a navegação fluvial, pelo Parahyba, o nosso Rio Sagrado. Tenho visto coisas, como esse aeroporto na Taiada, que me fazem acreditar que esse dia já vem vindo por aí…
Voa Vale, voa!
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Publicado originalmente na edição 609 do Jornal Contato