Visões do futuro… no passado
Texto de Angelo Rubim
Vamos olhar para o futuro e sonhar como será a nossa Taubaté no ano 2.050. Ficará apenas a meia hora de São Paulo e uma hora do Rio de Janeiro pelo trem de alta velocidade. Nas praças de Santa Terezinha, Jardim da Estação e no Bosque, onde é hoje um supermercado, três garagens subterrâneas para 1.000 carros cada uma, construídas pela iniciativa privada, que terão sua concessão por 20 anos (como D.Pedro II fez com a Estrada de Ferro até Cachoeira). Com essas garagens a cidade poderá ser um grande calçadão, com pequenos carros elétricos circulando permanentemente por toda a área(passagem gratuita- como em Miami e Los Angeles). Os passageiros descem em frente da casa comercial ou Bancos que desejarem. Assim também os moradores do centro terão a garagem gratuita. No terreno onde está o supermercado e sobre a garagem, será construído um edifício de dez andares onde se concentrarão todas as repartições públicas federais e estaduais. As redes de energia elétrica e de telefone passarão a serem subterrâneas, evitando-se assim o embaraço que causam com o arvoredo. A estação rodoviária do centro será triplicada, com um andar para ônibus por baixo, outro no nível do chão e outro por cima. Para o alto, um shopping de seis ou mais andares com heliporto. O mercado atual terá andares para baixo e para cima, como o da cidade de Lima, capital do Peru. Um nonoreil (trenzinho elevado) saíra do aeroporto e cruzará a cidade com paradas várias, semelhante ao de Tóquio. A base de helicópteros terá um setor especializado para servir os que dele necessitarem e a preço de custo.
Esse texto foi escrito em 1998, por Arthur Audrá. [button url=’http://www.almanaqueurupes.com.br/testedomau/wordpress//?p=2291′ size=’small’ style=’yellow’ target=’_blank’] Veja o texto aqui[/button]. Uma visão contemporânea da maioria dos que lerão esse texto. Quando escreveu, Audrá passava pelo período com mais expectativas da era da informação. Os anos 2000 estavam logo ali, e isso povoava o imaginário coletivo. Os mais religiosos acreditavam no fim do mundo. Eu tinha uma vizinha que botava medo em todo mundo quando vinha com seus dizeres apocalípticos (não sei se no final ela se frustrou o se ficou aliviada); os técnicos em informática pregavam outro cenário apocalíptico: o bug do milênio. Os sistemas operacionais mais antigos, que operavam sistemas bancários, por exemplo, na virada do século não entenderiam a mudança no calendário e retroagiriam a data para 1900. O resultado seria o colapso das informações.[button url=’http://pt.wikipedia.org/wiki/Problema_do_ano_2000′ size=’small’ style=’default’ target=’_blank’] Tem uma explicação melhor aqui.[/button]
Os anos 2000 representam uma espécie de fronteira entre passado e futuro. Quem, daqueles que viveram antes dos 2000, nunca pensaram que nos primeiros anos do novo milênio estaríamos cortando a cidade pelos ares nos revolucionários carros voadores, ou que uma colônia lunar estaria pronta para nos receber em viagens tão baratas quanto uma passagem de ônibus intermunicipal? Pois é, ainda não temos condição de lotear a lua. Pelo contrário, estamos pensando de nos próximos séculos colonizarmos outro planeta (semelhante à Terra de hoje) já que o nosso corre o risco de entrar em colapso antes disso. O futuro que pensamos para os anos 2000, agora, não parece tão glorioso quanto se pensava no passado.
Caminhando pelo mundo sem fim da internet, conheci o trabalho de um francês do século 19, Jean-Marc Côté, responsável pela criação de uma série de imagens representando a França nos anos 2000. As gravuras foram vistas primeiro nas embalagens de cigarros, depois passou a vendê-las em cartões postais. Foi um enorme sucesso, e a produção das imagens aconteceu entre 1899 e 1910. Na maioria delas vemos conceitos de bugigangas tecnológicas que existem ou que continuam a povoar nosso imaginário. Encontrei a série no [button url=’#http://commons.wikimedia.org/wiki/Category:France_in_XXI_Century_(fiction)’ size=’small’ style=’default’ target=’_blank’] wikimidia commons[/button], vale a pena o clique. Aproveite também para ver as séries sobre a Rússia e a Alemanha, com links na página.
Outros artistas/visionários, também imaginaram o futuro, principalmente a partir desse ainda novo milênio. Um exemplo claro é o conceito do telefone celular (que mesmo não sendo uma invenção dos anos 2000, foi nesse milênio que se tornou popular) presente na ilustração atribuída a Jim Rasenberger, em 1908.
Outro clique que recomendo é o site [button url=’http://paleofuture.gizmodo.com/’ size=’small’ style=’default’ target=’_blank’] Paleofuture[/button]. Foi de lá que tirei a maioria das imagens apresentadas aqui.
Pensar sobre o futuro geralmente significa pensar em melhorias. Audrá fez isso em seu texto, planejou uma cidade inteligente, melhor. A cidade projetada por Audrá tem estacionamentos para automóveis, prédios com pisos subterrâneos e uma rodoviária ampliada. Essa poderia muito bem ter sido a Taubaté de hoje. Os estacionamentos que tomam quase toda a cidade dizimaram muitos casarões e outros edifícios de inestimável valor arquitetônico e histórico. A nossa rodoviária é nitidamente subdimensionada. O emaranhado de fios elétricos e telefônicos poderia muito bem estar por baixo da terra. Mas não, estão lá em cima enfeando a cidade.
Em interessante matéria no caderno de tecnologia da Folha de S. Paulo, vemos o nascimento das cidades do futuro, as chamadas smart cities, uma na Coreia do Sul e outra nos Emirados Árabes. Ok, são cidades criadas do zero, mas pergunto: será possível transformar Taubaté em uma cidade inteligente?
Se apelarmos para a história, veremos que a cidade de Taubaté é uma cidade inteligente. Não é a toa que vemos na longa historiografia taubateana referências sobre a posição estratégica da cidade e sobre as vantagens que isso acarretou ao desenvolvimento local. Essa é uma cidade planejada, e muito bem planejada. Texto assinado por José Benedito Prado e Maria Morgado de Abreu, explica que Taubaté está sobre uma formação geológica chamada Tabuleiro, que é “uma superfície plana, decaindo suavemente em direção à planície do Rio Paraíba. […] A cidade de Taubaté, em sua maior parte, está assentada em zona relativamente plana, sobre terrenos sedimentares dos tabuleiros, com altitudes médias de 570 e 575 metros acima do nível do mar.” (p.50)
Já falei em [button url=’http://www.almanaqueurupes.com.br/testedomau/wordpress//?p=4094′ size=’small’ style=’yellow’ target=’_blank’] outro texto[/button] sobre o processo de formação das cidades brasileiras. As cidades formadas entre os séculos 16 e 17 seguiam basicamente dois padrões: o modelo português, de ocupação orgânica, respeitando a topografia onde a cidade se instalava; e o modelo espanhol, característico das cidades fundadas sob o Tratado de Tordesilhas, “que evitava os acidentes topográficos instalando-se em terrenos regulares, permitindo a construção das cidades em formas geométricas precisas, normalmente quadriláteras, como é o caso de Taubaté, Pindamonhangaba e Lorena”.
A estrutura urbana de Taubaté é, portanto, muito bem planejada. Basta olhar por cima (o google maps dá uma mãozinha), a cidade se desenvolveu inteiramente (pelo menos até os finais do século 19) ao redor da praça central, que se formou como um quadrilátero de onde sai as principais ruas. É o que os historiadores estão acostumados a chamar de “tabuleiro de xadrez”. Esse é um planejamento que foi superado somente nos últimos cinquenta anos. Quais foram, na história brasileira, as cidades que funcionaram bem ao longo de trezentos anos?
A malha urbana é o nosso maior patrimônio arquitetônico! E não há desenvolvimento ou expansão que irá modificar isso. Quando todos os prédio históricos caírem, a malha urbana continuará intacta. O resultado: Jacques Felix venceu! A cidade tricentenária, quase quatrocentona, vai sobreviver.
Faço agora um exercício de projeção. Como será Taubaté no Futuro? A Taubaté que imagino para o futuro é abundante em praças arborizadas. Os prédios novos ficam em perfeita harmonia com os edifícios históricos. As ruas do centro continuam estreitas, mas livres de automóveis. A Igreja do Pilar se transforma em um belo museu. A Vila Santo Aleixo e a Casa da Lavoura são ocupadas por atividades culturais. A Igreja do Rosário está, enfim, restaurada.
Como disse Audrá num ainda próximo 1998: “Bem, vamos parar por aqui, porque o sonho chega muito mais rápido do que a gente imagina. Sem sonhar, ninguém vive neste mundo.”
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