No Velho Oeste ele Nasceu
Por Renato Teixeira
Não dava mais pra segurar; a vontade de cantar era tanta que nem a timidez me impediu de, naquele dia, subir ao palco da rádio Cacique. Onze horas da manhã de domingo, programa de auditório do Oliveira Meireles.
Eu e meu violão. Não havia avaliação alguma sobre meu trabalho. Seria eu um compositor viável?
Não possuía, com certeza, as qualidades vocais dos Teixeira. Minha mãe e minhas tias sempre foram grandes cantoras de vozes poderosas e vibratos definidos. Eu possuía uma voz meio insegura e por isso não ficava prestando atenção no meu próprio cantar. Mas, o importante desse dia foi que o Oliveira Meireles, um cara sensível, não me colocou como calouro. Talvez tenha percebido alguma coisa que eu mesmo não percebera ainda.
Não tive coragem de cantar uma “música de minha própria lavra”; não me senti tão poderoso assim e optei por cantar Bat Masterson, uma canção versada para o grande cantor Carlos Gonzaga, um sucesso enorme em todo Brasil. A serie de TV do mocinho/janota/americano e sua bengala poderosa era programa obrigatório das famílias nacionais.
As instalações da Cacique, dirigida pelo grande David Oiring, na Rua Visconde do Rio Branco, eram pequenas, mas muito charmosas.
Havia um mezanino com uma técnica e uma pequena sala para locuções; e um auditório capaz de acomodar umas 50 ou 60 pessoas, no máximo. As paredes pintadas de verde, talvez quisessem sugerir uma taba, uma floresta… afinal, a rádio era Cacique e o programa onde eu iria começar minha carreira era o programa de auditório do grande Oliveira Meireles que, aos domingos, transmitia as partidas do Esporte com o terrível hábito de narrar o jogo comendo amendoim.
Nas segundas, os técnicos de manutenção sempre desmontavam os microfones para limpar os resíduos deixados pelo empolgado narrador.
Finalmente, lá estava eu, pela primeira vez, num palco de verdade agarrado ao violão para não cair e pronto para destravar definitivamente minha vocação musical.
As condições de reprodução sonora nessa época não eram lá grandes coisas tanto que os cantores precisavam emitir forte suas vozes para tirar mais qualidade dos equipamentos.
Lógico que ninguém ouvia minha voz, baixinha e tímida. A “levada” eu possuía e caminhar sobre uma afinação mínima também não era problema. Mas volume…
Na primeira fila do auditório, freguês assíduo do programa, um senhor de quem não lembro o nome, ouvia com todo interesse e me pedia desesperadamente “mais volume”. Gesticulava freneticamente a ponto de tirar minha concentração fazendo com que a voz saísse mais baixa ainda.
Assim, a minha primeira cena musical foi tropegamente indo até o fim. Poucos aplausos. Além do gentil senhor da primeira fila, percebi que praticamente ninguém “se ligara” no meu cantar. Mas o serviço estava feito e eu agora já poderia pensar em um dia compor canções como Romaria e Tocando em Frente.
Gracias, Oliveira Meireles!
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Publicado originalmente na edição 614 do Jornal Contato
2 Comments
que historia bacana!
Renato Teixeira lembrando meu pai
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