Um pouco mais sobre a história da imprensa taubateana.

 Um pouco mais sobre a história da imprensa taubateana.

Gastão da Camara Leal, o primeiro prefeito de Taubaté (1908-1915), enviou à Felix Guisard Filho uma série de correspondências que fazia reparos à algumas publicações feitas pelo historiador. Uma delas, sobre um período da história da imprensa taubateana, foi trasladada e agora publicada pelo ALMANAQUE URUPÊS. Uma rara oportunidade de conhecer, em letras vivas, o pensamento de um autêntico representante das mais antigas oligarquias taubateanas. Cartas que hoje se constituem em autênticos registros históricos de sua época.     

Gastão Aldano Vaz Lobo da Câmara Leal. Acervo DMPAH
Gastão Aldano Vaz Lobo da Câmara Leal. Acervo DMPAH

Felix

Rio, 27 Fevereiro 1937

Li, no Taubateano, seu artigo sobre jornais de Taubaté, e como já tenho feito em outros casos e vezes, venho trazer-lhe alguns reparos no seu trabalho.

Hoje o faço, porém, pro domo mea, pois, a não ser que quem lhe deu informes tivesse a idéia preconcebida de excluir meu nome da imprensa local, não posso saber como fui esquecido na labuta dessa imprensa!

Iniciei minha vida jornalística com 14 anos, publicando a JUVENTUDE, da qual era eu o redator chefe, isto em 6 de agosto de 1884, tendo como auxiliares de redação João Penna e Jacintho de Barros.

Esse jornalzinho viveu um ano.

Em 1888 e 1889 redigi, com Alfredo Monteiro, o NOTICIARISTA, e de baixo de minha direção iniciaram então seu tirocínio  jornalístico Alvaro Guerra e Duarte Leopoldo e Silva, hoje arcebispo de S. Paulo.

Em 1895 era eu redator do Jornal de Taubaté, na sua fase diária, após os empastelamentos.

O Dr. Fernando de Mattos, que tinha o seu nome no cabeçalho do jornal como redator político, pois, era orgão político, apenas escrevia sonetos sob o pseudônimo de La Paliage.

Foi o período áureo desse jornal(rasurado) empenhou em derrubar a política de João Affonso Vieira, que(rasura) entregue a violências, como a do tiramento da orelha de Sab(rasura) José de Carvalho, e outras…

A atuação do jornal foi forte que intrigou o mesmo João Affonso a capitular e pedir o (rasura) dos elementos políticos que estavam com o jornal: Baraão do Jambeiro, Barão da Pedra Negra e outros, entrando então para o diretório político Rebouças de Carvalho e Francisco Gomes Vieira e para delegado da Polícia o Dr. Bernardo Vieira de Amorim.

Felix Guisard Filho

Tão viva e eficaz era a minha atuação nessa ocasião no Jornal do Povo, tendo até efeito virem a esta cidade, sem conhecimento das autoridades locais o Delegado Auxiliar do Rio, Dr. Moura Carijó e Chefe de Polícia de S. Paulo, Dr. Bento Bueno, para uma diligência de apreensão de estampilhes falsas, que fui designado para desaparecer dentre os vivos, e como todas as noites, exceto aos domingos, porque o jornal não circulava as segundas-feiras, me recolhia sozinho a minha casa, após ter deixado terminados todos os trabalhos do Jornal e quando o mesmo já estava na maquina, fui esperado por um vulto de tocaia, atras de um cepo, que existia próximo a esquina de minha casa, no Largo Mons. Silva Barros, que me ia atirar com carabina, que não pode fazer porque, por um feliz acaso, na ocasião saia a praça o Rabello e o vulto temendo testemunha, correu agachado, pelo mato que então ali existia, em diração a rua Duque de Caxias, e eu fui salvo…

O Rabello está vivo e deve se recordar do fato.

O proprietário do Jornal era o Góes (João Baptista Góes, que faleceu em março de 1897).

Mais tarde, tendo iniciado campanha política contra o coronel José Benedito de Mattos, e tendo o José Candido Antunes de Toledo, antigo proprietário do NOTICIARISTA, pedido o auxílio do nosso grupo político, para o seu jornal de recente fundação, O NORTE, do qual estava com redator o professor Garcia, que não queria que o jornal fosse político, assumi a redação desse periódico, tendo de terçar armas com o Affonso Moreira, elemento orientador dessa política, sendo intendente e membro do diretório político e o fiz com energia, se bem que em linguagem elevada.

Levei a luta a nossa vitória final, sendo o nosso diretório, para o qual foi convidado a tomar parte seu pai, que não quis fazer parte ostensivamente, mas que nos prometeu apoio, reconhecido a 22 de janeiro de 1907.

Foi uma campanha intensa e sempre com comodidade de linguagem cuja fora a do JORNAL DO POVO, e a 15 de janeiro de 1908 tomavamos conta do governo da cidade, por uma eleição em que elegemos 7 vereadores contra 2 apenas da oposição, chefiada pelo coronel José Benedicto.

Colaborei na VERDADE do mons. Castro, assim como no Lábaro e em outros periódicos locais.

Fui correspondente e colaborador de Jornais de S. Paulo, como fossem o Comércio de S. Paulo, ao tempo de Couto de Magalhães, Correio Paulistano, e outros.

Vê v. que tive atuação efetiva na imprensa local, de que são sabedores ainda muitas pessoas vivas em Taubaté.

Assim meu protesto servirá para suas notas sobre os jornais de Taubaté, para que fique verdadeira, nessa parte, o que v. escrever a respeito.

Sempre fui de posições definidas e por isso é que tomei-lhe o tempo com esta exposição, mostrando que não fujo a responsabilidade da minha atuação jornalística…

Com um abraço do amg.º  obr.º

Gastão Camara Leal

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almanaqueurupes

3 Comments

  • Sensacional o resgate que vocês fazem sbore a imprensa taubateana e de todos que nela labutaram. Parabéns!

    • Enquanto muitos no passado lutaram por uma imprensa imparcial, cujo o unico intuito, era de informar os leitores com a verdade, hoje uns que se dizem jornalista,se pautam em pulverizar mentiras,sem ao menos checar nomes de pessoas a serem citadas, como dizia Borris “É UMA VERGONHA“ e pegue essa caneta quem assim o faz.

    • Irani, a história da imprensa taubateana é cheia de personagens que, de alguma maneira, transformaram a forma de fazer comunicação regional. É incrível a intimidade que há entre essa arte de comunicar e todas as outras demandas sociais, principalmente a política. Agradeço o apoio, estamos lutando para conseguir manter esse ritmo de trabalho.

      Alexandre, devo discordar de parte da sua fala: a imprensa nunca foi totalmente imparcial. Em todos os tempos vemos algum tipo de favorecimento à alguns grupos. O grande diferencial, talvez, fosse o fato de que a opinião pública era mera coadjuvante, o que facilitava muito o trabalho dos jornais, pois lhes davam maior liberdade de opinião. Hoje isso seria inviável e condenável. A imprensa melhorou em muitos aspectos. Lamento, porém, que tenha empobrecido na escrita. Hoje o jornal é escrito de uma forma muito menos apurada do que era há cem anos.

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