Texto de Fabiana Pazzine
Diante do velho clichê lobateano “um país se faz de homens e livros” encontrado em qualquer feira literária ou biblioteca fica difícil contestar a importância dos livros em uma cultura. Os livros são capazes de formar novas ideias, entreter, nos levar a conhecer novas culturas, enfim, são capazes de nos fazer viajar sem ao menos sairmos do lugar. Hoje, várias campanhas são feitas com a finalidade de se incentivar a leitura de livros, revistas, gibis. Essas campanhas se devem ao fato de que primeiramente a rádio, depois a televisão e hoje ganhando cada vez mais força a Internet estão deixando as pessoas em geral – e não somente as crianças como às vezes é mais confortável afirmar – mais preguiçosas e, por isso, muitas não adquiriram ou estão perdendo o hábito de ler.
Mas imaginemos o seguinte cenário: chegamos em casa depois de um dia cansativo de trabalho e temos a necessidade de descansar, o que faríamos? Acho que se fosse capaz de escutar os leitores ouviria diversas respostas como assistir um bom filme ou a novela que é costume em algumas casas. Agora imaginemos outra situação: vivemos em Taubaté no século XIX, sem TV, rádio ou Internet, qual a opção para se entreter? Alguns jogavam cartas, várias mulheres bordavam e, outros que eram alfabetizados liam.
Ao ler os jornais que circulavam em Taubaté no século XIX observamos que devia ser do gosto popular a leitura de novelas, pois, entre os anos de 1888 e 1889, no jornal O Noticiarista, era publicada a novela “Minhas Prisões” de Silvio Pellico. Além das notícias, nos jornais, encontram-se poesias, crônicas e indicações de leituras. Anunciavam a Revista Illustrada e elogiavam Angelo Agostini, falavam também a respeito de um jornal feminino chamado A Família dirigido por Josephina Alvares de Azevedo e o Jornal dos Economistas. A seção Folhetim trazia variedades como em 06 de janeiro de 1889 que exibia um poema chamado “Dedicado a’s moças feias”:
Menina, minha menina,
Quando me vês p’ra que corres?
Se és bonita, apparece,
Se és feia, porque não morres?
Por meio de inventários, vemos o interesse em se aprender francês, pois, em 1867 José Bonifácio de Moura possuía dois livros de Gramática Francesa. Já em 1874, Sebastião Rodrigues Correia declarou possuir livros de missa. Seja livros religiosos ou não o hábito da leitura se fazia presente na Taubaté do século XIX.
Hoje, dizer que o hábito da leitura não existe mais é errôneo e imprudente, pois, ele sobrevive mesmo na época da abreviação de palavras e resumos divulgados na Internet, mesmo que hoje não se leia os mesmos livros e jornais de antigamente.
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Fabiana Cabral Pazzine é professora de história. Pesquisadora de História Cultural e Social.
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1 Comment
Perfeito. Gostei muito. Parabéns.
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