Um Fantasma na Estrada de Tremembé

 Um Fantasma na Estrada de Tremembé

Em  janeiro de 1950, três pessoas juraram ter visto um estranho vulto branco que gargalhava em pleno bairro do Areão. Até caça-fantasmas aparecem nessa história.

Anteontem por volta das 3h30 da manhã, recebemos visita de três aterrorizados ciclistas. Vinham trêmulos e quando aqui chegaram tiveram que tomar água e fôlego para relatar o que eles acham um mistério terrível.

Jairo Morais foi quem falou primeiro. Disse ele:

“Nós vínhamos duma festa realizada em Tremembé. Quando íamos chegando no Areão, mais ou menos perto de um bar, vimos um vulto branco no meio da estrada. Somos homens e estamos acostumados a viajar de bicicleta à noite, por isso não nos impressionamos. Chegamos mais perto. A noite estava calorenta até ali. Sentimos então um frio mortal e nossas pernas ficaram duras, até que as bicicletas pararam. O vulto era enorme…”

“Mais ou menos do tamanho de uma casa de dois andares, disse João Mattos.

Jairo Morais retomou a palavra:

“O vulto vinha chegando e agitando os braços. Meus cabelos ficaram arrepiados e vi que meus companheiros também estavam aterrorizados…”

“Foi mesmo”, confirmaram os moços.

“Depois quisemos correr e não podíamos. Então, dando uma gargalhada o vulto desapareceu da nossa frente para aparecer lá atrás. Aí o medo nos deu asas e chegamos aqui em cinco minutos”.

Notamos que os rapazes estavam mesmo cheios de terror. Procuramos acalmá-los:

“Quem sabe se não foi brincadeira de alguém?”

“Qual nada”, falou Carlos Sampaio,” o vulto era grande e não tinha cabeça nem corpo. Era comprido com dois longos braços…”

Reportagem de A Gazeta em Ação

Imediatamente acompanhados dos moços, nossa reportagem foi até o local indicado. Tudo calmo.

A estrada se estendia silenciosa no quase dia. Acompanhamos os rapazes às suas casas e recomendamos que nada dissessem, pois iríamos averiguar o caso.

Ontem à tarde voltamos ao local. Tudo na mesma.

O bar e a cruz da estrada, tudo como de costume.

Estamos noticiando o fato, à guisa de curiosidade. Pode se tratar duma brincadeira de mal gosto ou de ilusão de ótica dos moços.

Não podemos afirmar nada com relação ao assunto. Limitamo-nos a relatar o fato, tal como nos foi contado. Ilusão de ótica ou brincadeira? Quem sabe?

A Notícia, 11 de janeiro de 1950

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A Notícia, 11/1/1950 – acervo Hemeroteca Antônio Mello Jr.

CAÇADA AO FANTASMA DO AREÃO

O Fantasma do Areão que apareceu à quatro pessoas, fez surgir na cidade a natural curiosidade e as opiniões se dividem. Uns acreditam, outros não.

“Vamos apanhar o bruto”

Recebemos ontem a visita duma turma de moços. Vão eles iniciar a caçada ao fantasma do bairro do Areão. Disse-nos o chefe da turma:

“Hoje é sexta-feira 13, dia preferido pelos fantasmas de todo o mundo para aparecerem.

À meia noite de hoje, estaremos à postos no local indicado, para acabar com a carreira do “bruto”. Somos vinte e dispostos a tudo. Não acreditamos em fantasmas e vamos provar que não existe. Deve ser algum engraçadinho que quer “farol”. Mas conosco ele vai ficar atrapalhado, pois vamos prendê-lo. Vamos apanhar o “bruto”…

SÓ RESTA ESPERAR

Nada dissemos, mesmo porque nada havia a dizer. Nossa missão de repórter é informar e limitamo-nos a isso. Prometeram-nos os rapazes que alguma coisa acontecendo, eles virão imediatamente à redação, para que publiquemos. Resta somente aguardar o resultado da caçada. Já dissemos e repatimos: não acreditamos nem deixamos de acreditar. Os leitores que cheguem as suas conclusãoes: “Existe ou não o Fantasma do Areão?”

A Notícia, sexta-feira, 13 de janeiro de 1950

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Em 1933 o povo do bairro vivia assustado com

O FANTASMA DO AREÃO

“Em 1933 esse mesmo fantasma apareceu”, fala a reportagem de A Notícia antigo morador do Areão, “Não acredito nem desacredito”, pode ser…

Fomos procurados anteontem por antigo morador do bairro Areão. O subúrbio da estrada de Tremembé ficou famosos depois que lá apareceu o fgantasma branco que prendeu a atenção de todos, devido as reportagens publicadas em A Notícia. Vinha o sr. em questão conversar e dar seu palpite sobre a aparição. Solicitou que seu nome não aparecesse e falou:

“O fantasma que apareceu há dias para três rapazes e uma senhora, já assombrou há anos passados o bairro do Areão. Em 1933 no mesmo local, varias pessoas observaram que a noite, um vulto branco se movia na estrada assustando os que por ali passavam. Formaram-se caravanas e foi tudo inútil. O fantasma continuou aparecendo e a coisa chegou a tal ponto que só saíamos armados. Eu mesmo cheguei um dia a atirar no que me pareceu o fantasma. Confesso que vi claramente, mas eu andava, como aliás todos os moradores do bairro, tão assombrado, que quando percebi uma coisa branca, atirei e… corri. Corri mesmo, confesso.

E quando cheguei em casa, precisei de meia hora para me refazer.

Quando li no seu jornal a nova aparição, quis vir aqui na redação. Mas pensei que seria melhor nada dizer, para não aumentar a confusão.

Mas, agora, quando tudo já passou, vim aqui para falar sobre a aparição de 16 anos passados. Não acredito nem desacredito. Observo apenas e como não gosto de dar palpites, só apareço quando julgo necessário. Pode ser que exista mesmo o fantasma do Areão, pode ser…

Despedindo-se o homem, ficamos pensando em como pouco conhecemos o mundo. Quanto mistério ainda existe e sempre existiu e quanta coisa acontecerá sem que possa o homem decifrá-los.

Quanto ao fantasma do Areão, ficamos na mesma. Depois do relato dos rapazes e da senhora que dizem ter visto o vulto branco, tudo parecia liquidado. Um tronco de eucalipto levou a culpa e tudo sossegou. Agora aparece um antigo morador do bairro para afirmar que em 1933 já ali estava o fantasma assustando gente.

Nós nos limitamos, como sempre afirmamos, a noticiar. As conclusões pertencem ao leitor.

A Notícia, sábado, 28 de janeiro de 1950  

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1 Comment

  • Qual é o endereço no Areão? Moro aqui e gostaria de saber o nome da rua.

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