Suporte da escrita: o Papel
O homem sempre teve a necessidade de expressar e registrar suas ideias. Ele lançou mão de vários materiais para conseguir o seu intento. Já falamos aqui da tinta como instrumento de escrita, e hoje vamos abordar sobre o suporte da escrita: o papel.
Os antecessores do papel enquanto suporte da escrita foram as placas de argila, ossos, metais, pedras, tabuas enceradas, papiro e o pergaminho. Foram nestes materiais que o homem deixou suas primeiras manifestações gráficas.
O papiro foi utilizado por muito tempo: de 3700 a.C. até os primeiros anos da era cristã. Eram os egípcios que fabricavam e lucravam com o comércio do papiro que com o tempo começou a aumentar. Era produzido a partir de uma espécie de junco, chamado Cyperus papyrus, planta que crescia nas margens do rio Nilo. Grécia e Roma eram seus maiores consumidores. Anterior ao papiro, utilizava-se as tabuinhas enceradas que consistia em pequenas tábuas alisadas e enceradas onde eram gravadas com estilete, mas com o surgimento do papiro, percebeu-se muitas vantagens na sua utilização, pois:
[…] como era um material leve, seu transporte tornava-se mais fácil, além de seu fácil manuseio. Substituindo o estilete, a pena com que agora se escrevia sobre o papiro fez do ato da escrita uma tarefa mais amena. Enfim, a tinta escura sobre o fundo claro do papiro proporcionou melhor legibilidade (BERWARNGER; LEAL, 2008, p.81).
Devido ao elevado preço do papiro, houve na Europa a utilização de um tipo de “papel” extraído do líber[1] de algumas árvores, olmo e a tília. Era um material inferior, mas muito utilizado o que competia com a venda do papiro. Há também a afirmação de que o rei Ptolomeu V, do Egito, suspendeu a exportação de papiro, o que levou a procura por outros suportes.
Por volta do ano 200 d.C. foi desenvolvido na Europa a fabricação do pergaminho, feito de couros de animais jovens, especialmente o cabrito , que passou a ser o principal suporte da escrita durante quase toda a Idade Média. Atribuem ao rei de Pérgamo, Eumenes II a criação de um processo que aperfeiçoava a preparação do couro.
Os palimpsestos eram os pergaminhos raspados e reescritos, ou seja, se havia a intenção de reutilizá-lo, raspava-se e polia-se para eliminar as letras e escrevia-se por cima. O reaproveitamento dos pergaminhos era muito comum, principalmente quando em plena Idade Média houve falta de suporte para a escrita.
Os pergaminhos eram ligados uns nos outros formando rolos chamados de “rótulos” ou “volumen”, o que diferenciava dos “códices”, pois estes eram costurados como um livro, escritos no retro e no verso.
O papel surgiu na China e seu processo de fabricação se desenvolveu lentamente, o que não se pode dar uma data precisa sobre seu surgimento. Espalhou-se através dos árabes e a Espanha foi o primeiro país da Europa a fabricar o papel em 1150, na cidade de Toledo. Em 1293, foi instituída pela primeira vez a marca d’água que possibilita identificar o fabricante do papel. O papel não foi bem recebido no início devido sua aparência frágil, preferindo-se o pergaminho “por ser considerado o único suporte de escrita digno de documentos importantes, pela certeza de sua durabilidade” (MOTTA; SALGADO, 1971, p.23).
Com o tempo, o papel foi adquirindo maior aceitação. Houve um aumento de sua demanda e o surgimento de várias fábricas na Europa com o surgimento da imprensa por Gutemberg.
O papel chegou a ser conhecido como papel-de-trapo, pois era feito de tecido velho. Também se utilizava fibras de cânhamo, de algodão, cascas de amoreira. Devido a escassa produção de trapo, e a necessidade de maior demanda de papel pelas editoras e jornais, sentiu-se a necessidade de se descobrir outro material para sua fabricação. Durante o século XIX, foram elaboradas outras receitas de papel a partir de outros vegetais. Em 1854, já havia processos de obtenção do papel através da fibra da madeira.
A primeira fábrica de papel no Brasil foi construída em 1809 por Henrique Nunes Cardoso e Joaquim José da Silva, industriais portugueses, na cidade de Andaraí Pequeno, Rio de Janeiro.
Os papéis preservados no arquivo Histórico Municipal Felix Guisard Filho, por muitos anos ficaram expostos aos males que danificaram alguns deles. Insetos, fungos e umidade são alguns dos causadores do estrago dos documentos, mas hoje, devido ao processo de higienização e conservação adotados, eles estão conservados e a informação registrada nestes papéis, tão cara ao pesquisador, não foi perdida.
Referências bibliográficas
BERWANGER, Ana Regina, LEAL, João Eurípedes Franklin. Noções de paleografia e de diplomática. 3. ed. rev. e ampl. Santa Maria: Editora da UFSM, 2008.
MOTTA, Edson; SALGADO, Maria Luiza Guimarães Salgado. O Papel: Problemas de conservação e restauração. Petrópolis: Museu de armas Ferreira da Cunha, 1971.
MELO, Arnaldo Faria de Ataide e. O papel como elemento de identificação. Lisboa: Biblioteca Nacional, 1926. Disponível em: http://purl.pt/182/1/P2.html. Acesso em: 11 abr. 2012.
Legenda da marca d’água
Marca d’água 141 – documento 0 Regimento da junta da Administracam do Tabaco. Lisboa, Miguel Deslandes, 1702. Cf. MELO, 1926, p. 228.
[1] Liber é a camada existente entre a casca e o tronco de árvores.
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Amanda Valéria de Oliveira Monteiro é formada em História pela Universidade de Taubaté. Mestranda em Filologia e Língua Portuguesa pela Universidade de São Paulo. Trabalha no Arquivo Histórico Municipal Felix Guisard Filho com documentos datados a partir do Século XVII.