Skema 1

 Skema 1

Nos anos 1960, chamavam bailes. Grandes bandas chamadas de conjuntos animavam os bailes. Eram muitos conjuntos: “Ritmos OK”, “Icaraí” e “Skema 1”. Todos de Taubaté. Havia outros grupos, como o “Regional do Toninho” e o “Regional do Carioca”, com seus chorinhos e a missão de acompanhar os calouros do “Clube do Guri”, na Difusora.

Posso falar do “Skema 1” porque eu fazia parte dessa banda. Agostinho Arid, Mario e seu irmão Murilo Mendes me convidaram pra cantar. Meu violão, que nunca foi lá grande coisa, naquela época estava pra cá de sofrível.

Não penso duas vezes quando me pergunto sobre o fato de nunca ter tocado com músicos meia boca; a resposta vem direta: Skema 1. Talvez nenhum dos meus companheiros do Skema saiba da importância daquele momento na minha vida musical. Uma coisa que aconteceu, e que só eu mesmo sei, foi um encontro com o Waltinho Arid nos estúdios da Difusora. Ele me convidou para tocar guitarra no OK. Fiquei completamente zonzo com o convite e argumentei, ciente das minhas limitações, que me sentia muito distante de qualquer possibilidade de ser um músico de banda, como ele. Waltinho argumentou que se ele me desse algumas aulas, eu estaria em condições. Mesmo assim, eu duvidei, como hoje ainda duvido da minha capacidade para tocar numa banda, como um músico. Acho até que a composição veio porque me dava liberdade para usar os acordes que eu sabia, e nada mais.

Não sei se o Waltinho disse alguma coisa pro Agustinho, seu irmão; só sei que acabei convidado para ser  crooner do Skema 1, apenas o cantor, com remotas possibilidades de, aqui ou ali, tocar um violãozinho básico. Acho que já tive oportunidade de dizer pro Agustinho o quanto os Arid contribuíram para que eu chegasse onde cheguei com a minha música.

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Taubaté Country Club (TCC)

Num determinado momento eu tive a honra de ter o Waltinho tocando na minha banda e fazendo alguns arranjos, entre eles o de “Amanheceu, Peguei a Viola” que foi abertura do Som Brasil.

Viajamos muito: eu, Waltinho, Cabral Lobato, João Mourão e o magnífico Ayres, uma dos maiores guitarristas brasileiros e que criou aquele pontuado eletrizante na introdução de “Disparada”, do Vandré e do Theo de Barros.

Ao contrário das outras bandas, o Skema tinha uma personalidade diferente, pois era um pequeno conjunto, com estrutura muito simples. Precisávamos de poucos microfones e os custos, bem baixos. Com isso, éramos contratados para as matinês dançantes do TCC.

Minha carreira começa efetivamente dentro do TCC, mais precisamente no Grill Room, de frente para aquela pista oval – que não existe mais -, onde tantas gerações  bailaram.

Alguns momentos do Skema são inesquecíveis, como a nossa participação no “Samba em Três Tempos” que fizemos no salão nobre do TCC, em parceria com o Regional do Toninho, Nani Shicker, Maria Alice, Roberto, meu irmão e o meu primo Cícero Simonetti lendo um texto que explicava os três momentos da MPB: o samba tradicional – da turma do Noel -, a bossa nova e o formato estabelecido pela geração dos festivais da Record.

Esse show foi tão importante que, quando vim para São Paulo para participar de um daqueles festivais do Teatro Paramount que o Walter Silva promovia, levei nosso trio e o regional do Toninho pra tocarem comigo. O Walter ficou surpreso com nossa qualidade musical. Severino Filho, dos Cariocas, ficou impressionado com o contrabaixista Mario Mendes e o convidou para entrar no grupo que iria sofrer naquele momento sua segunda mudança na formação dos anos 1960.

Bons tempos, minha gente. Sorte minha!

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Publicado originalmente na edição 568 do Jornal Contato

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