Texto de Fabiana Pazzine
Considerada uma das festas mais tradicionais brasileiras, o carnaval possui origem diversa e espalhou-se por todo o país assumindo características próprias. Nos primeiros tempos, diferente do luxo que apresenta hoje, tinha-se o entrudo, brincado nas ruas de forma mais popular. No entanto, cabe dizer, que a brincadeira era vista com receio e muitas vezes combatida pela elite e pelas autoridades, já que era interpretada como sinônimo de bagunça e selvageria.
Em janeiro de 1891, o Jornal do Povo, da cidade de Taubaté, trazia um artigo sobre o entrudo no qual o reconhecia como uma tradição brasileira, mas que dizia ser inconveniente devido a sua brutalidade e, portanto, deveria ser proibido. O jornal noticiava que as pessoas que transitavam pelas ruas da cidade ficavam molhadas fosse de água ou imundícies que eram introduzidas nas laranjinhas (bolas de cera preenchidas de líquidos), tais brinquedos geravam renda às famílias da cidade que se dedicavam à sua fabricação, porém, causavam grande transtorno que, segundo o jornal, deveria ser combatido pela polícia.
O Club Carmosina anunciava por meio Jornal do Povo, em fevereiro de 1891, sua saída pelas ruas da cidade com fogos e aparatos bélicos, enquanto o Club Mandarim deixava notas de um deslumbrante baile ocorrido no último dia de carnaval.
Em fevereiro de 1904, O Caixeiro, dizia ser comum nos carnavais da cidade o uso de confete e máscaras e que quase não se usavam serpentinas. Nessa época nota-se uma festa associada à Igreja, ao comércio, indústria e agricultura. O carnaval noticiado nesse período sofreu a tentativa de ser organizado, exemplo disso é a Associação João do Carmo que saiu nas ruas comemorando, e cantando um pedido de ajuda:
Os alegres empregados
Do commercio taubateano
P’ra os pobres precizam
Pedem nickeis este anno.
Do Azylo os pobresinhos
Aguardam vossas esmolas,
Por isso, venham cobres, notas,
Encham nossas sacolas.
Quem dá aos pobres… senhores
A Deus empresta, portanto,
Merecerá bons louvores
Quem ao pobre apaga o pranto.
Neste ano a Associação João do Carmo arrecadou 16$110 réis. Em 1906, o mesmo jornal mostrava um bando precatório que saía em beneficio do Hospital e pobres de São Vicente de Paulo, mostrando uma continuidade da ligação entre carnaval e caridade em Taubaté.
Em fevereiro de 1904, o Hotel Central, situado na antiga Rua Falcão Filho, mais conhecida hoje como Rua das Palmeiras, trazia informações a respeito de um baile, todo ornamentado com bandeirinhas, serpentinas, flores e festões. No baile foram expostas bandeiras de diversas nacionalidades que continham dizeres, como:
Não pensemos no futuro;
Gosemos do prazer;
Ai! Céos! Pois sim!;
Esta bom deixe;
Esqueçamos o passado;
Viva a folia;
Bravos ao bello sexo!
A festa que tinha sido animada pela Corporação João do Carmo, lembrava de dizeres ainda hoje repetidos e combatidos como aspectos negativos do carnaval.
Taubaté ainda contava com Zé-pereiras (carnaval mais popular, feito nas ruas) como o organizado em 1904 pelos operários da fábrica de tecidos que conduziam dois carros, usavam máscaras e eram animados pela banda Lyra Operária.
O Grupo dos Coveiros contava com o apoio dos empresários do Taubaté Cinema e faziam um carnaval sem apelos à caridade. Contava com carros alegóricos, um deles representando o enterro das sociedades carnavalescas taubateanas e até mesmo um Zé-pereira, tudo unido a um mesmo movimento.
Saudades do carnaval de antigamente, eram descritas pelo autor de um artigo no jornal A Federação de 1911, que dizia sentir saudades de um carnaval sem confetes, serpentinas e lança-perfumes e [que] falavam mais a alma e o coração. E diagnosticava que o problema do carnaval era ter deixado de ser uma festa familiar. Outros artigos, do mesmo jornal, diziam que o carnaval apenas servia para assinalar a nossa decadência. Os temas discutidos nesses artigos se não fosse a ressalva da data, poderiam ter passado por textos atuais, pois, tais discussões não morreram no tempo, elas ainda permanecem com o questionamento da possibilidade de uma festa talvez mais “civilizada”, mas vale perceber suas continuidades, rupturas e o valor cultural da festa brasileira mais conhecida mundialmente que é o carnaval.
Referências
Jornal do Povo 1891
O Caixeiro 1904 e 1906
A Federação 1911
http://www.insite.pro.br/2006/02.pdf
http://www.revistadehistoria.com.br/secao/perspectiva/diversao-modo-de-usar
http://www.revistadehistoria.com.br/secao/artigos-revista/quanto-riso-quanta-alegria
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Fabiana Cabral Pazzine é professora de história. Pesquisadora de História Cultural e Social.