Natal de 1959
Texto de Renato Teixeira
Nem tanto pela qualidade dos ônibus que, como diz o caipira, “não diferençava” dos outros, mas, sim, pela simpatia do nome.
Malerba, uma família da lindíssima e maravilhosa Lorena, hoje se identifica com postos de combustíveis e faz parte da grande família Dutra, a mais carismática estrada do Brasil; para nós, taubateanos dos anos 60, essa empresa significa transporte coletivo urbano.
Os Malerba estrearam seus circulares na cidade em 1959 e acredito que tenham operado até aos anos oitenta.
Recordo a noite de Natal daquele ano. Recém-mudado para Taubaté e começando a residir nas imediações da praça Santa Teresinha, meu pai me deu de presente uma capa de chuva de plástico, cor grafite e que vinha cuidadosamente embalada num pequeno pacote confeccionado com o mesmo material. Um presente extremamente simples e, com certeza, muito barato. Lá em casa o dinheiro andava curto mas a capa era de nylon e isso, para um menino que só conhecia as modernidades por “ouvir falar”, a posse daquele objeto contemporâneo era quase um sonho.
Em Ubatuba não havia transporte urbano regular e, então, a família Teixeira de Oliveira resolveu passear de ônibus naquela noite de Natal. Pegamos um Malerba: eu, meu pai, minha mãe e meu irmão Roberto.
Aquela experiência de passear de ônibus estava me deixando mais avoado do que sempre fui. Na volta, minha capa resolveu ficar pelo caminho e foi assim que tudo terminou naquela noite. Perdi a capa dentro do Malerba e voltei pra casa sem meu presente de Natal. Mas, a experiência de passear de ônibus urbano valera a pena mais que a capa.
Essas memórias são da agradabilíssimas.
O mundo é complexo demais para a gente ficar o tempo todo só pensando em coisas sérias. Estou sempre viajando a bordo de recordações pessoais das mais variadas procedências. Tenho certeza de que muitos irão se lembrar do Malerba. E, ao se lembrar desse tempo, com certeza também irão se lembrar da recauchutadora Macabú e do Nhô Joaquim, personagem criado pelo saudoso e genial
Mazzante Camilher, recentemente falecido.
Por tudo e por todos, Taubaté em nenhum momento da minha vida deixou de valer a pena…
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Imagens: http://memoriasdelorena.blogspot.com.br/
Publicado originalmente no Jornal Contato nº645
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