Renata Valias para Lobato
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São José dos Campos, 2 de abril de 2019.
Caro Lobato,
Que tristeza trouxe sua carta ao meu coração. Apesar de ser uma satisfação receber notícias das gentes queridas, desta vez, preferia que essas suas nunca tivessem chegado. Não posso dar tamanho à dor da perda de um filho, que dirá dois. É bonito como você define a ida prematura dos meninos, dá cá dentro um pouquinho de esperança: invisibilidade e expansão;
conclusão do curso na escola da vida.
É certíssimo que este nosso corpo seja mesmo uma forma passageira, sensível a muitas dores, casa de muitas alegrias, ininterruptamente vulnerável a umas e a outras. O estoicismo de Edgard talvez seja o caminho dos sábios, acolher a realidade é a única direção possível para seguir em frente, toda a negação é ponto de parada, estagnação. O ensimesmado de Guilherme é também postura de sábio, os olhos voltados para dentro veem as paisagens mais curiosas, tantas a revelar. Do lado de dentro moram as respostas, é pena que ele as tenha levado consigo tão cedo. Sábios fazem falta e devia ser lei que morressem velhos.
Edgard e Guilherme se foram e são insubstituíveis, mas se há algum consolo ao pai escritor, talvez seja esse: Emília, Narizinho, Pedrinho e tantos outros filhos seus não morrem nunca.
Nós aqui, no século seguinte, ainda os temos espertos, serelepes e cheios de vida; filhos imortais de Lobato, reinando pelos clássicos da Literatura Universal.
A arte expande assim como a morte, desejo que os limites de ambas rocem uma à outra e criem um instante impossível onde você possa tocar seus filhos, ou espiar seus sorrisos, enquanto não os encontra de vez.
Entregue um abraço meu a Dona Maria Pureza, outro a você, com afeto e gratidão.
Renata Valias.
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