Rachel Abdala – historiadora e pesquisadora
Almanaque Urupês: Como você define cultura?
Rachel Abdala: Embora haja muitas definições sobre Cultura que é um conceito polissêmico e abrange várias áreas do conhecimento, do meu ponto de vista, a definição mais abrangente é a formulada a partir de uma perspectiva atual que articula a Antropologia e a História. Assim, para mim, Cultura é o conjunto de símbolos e referências socialmente compartilhado. Nesse sentido, hoje a Cultura é percebida e vivenciada coletivamente numa dimensão sócio-histórica, ou seja, ela muda porque acompanha a dinâmica da sociedade e só existe se partilhada e reconhecida como um meio de interação social e de produção de formas de compreender o mundo.
AU: Existe política pública cultural em Taubaté?
Rachel Abdala: Lamento realmente em afirmar isso, mas não existe. Mesmo as iniciativas que não tiveram continuidade não se configuram como política pública. Para se caracterizar como política pública deve ter três condições básicas: atender a uma demanda social, ter a participação popular e de especialistas no assunto e ter continuidade, ou garantir que haja continuidade. Os eventos, que são a atividade mais freqüente da ação política na área cultural, poderiam até se constituir como um meio de política pública desde que também tivessem continuidade, ou seja, se tornassem anuais e mobilizassem a população e os setores político e cultural na sua preparação. Mas o que acontece em Taubaté é que nem os eventos têm a perspectiva de continuidade, não geram expectativa, e acontecem quase que exclusivamente com a participação do setor político na sua organização e realização. Além destas considerações, registro também o meu lamento por essa situação, considerando-se a História da cidade de Taubaté, suas manifestações culturais e, consequentemente, seu imenso potencial em desenvolver uma política pública nessa área. Os Conselhos Municipais em Taubaté não têm poder deliberativo, sua ação se restringe à dimensão consultiva, no entanto, a falta do Conselho que abrange membros oriundos da sociedade civil limita a ação cultural à Secretaria de Cultura, que em Taubaté, ainda não alcançou sua autonomia. Para finalizar, é preciso frisar que para se efetivar, a política pública deve dar condições para a produção e manifestação cultural e para a sua disseminação por meios de comunicação eficientes.
AU: Em qual estágio de desenvolvimento está a produção cultural no município?
Rachel Abdala: Acho complicado falar em estágio de desenvolvimento, mas diria que a produção cultural em Taubaté foi sendo, ao longo do tempo, restringida a espaços que não conseguem alcançar a população e foi sendo também, o que do meu ponto de vista é grave, atrofiada. Em outras palavras, perdeu tanto espaço que foi acabando. Muitas das manifestações culturais de Taubaté só têm espaço de projeção em outros municípios e os muitos artífices morreram sem ensinar os saberes para as novas gerações. Além disso, quando se fala em produção cultural, deve-se considerar todas as dimensões de cultura a partir das duas grandes esferas: popular e erudita. Quero destacar um exemplo dentre tantos: o caso da Escola Maestro Fêgo Camargo. Pouquíssimas cidades do Brasil têm uma escola artística que abrange todas as artes e a produção da Escola Fêgo Camargo em Taubaté não tem nenhuma divulgação nem projeção embora os professores e alunos desenvolvam trabalho de qualidade internacional.
AU: Na sua avaliação, em nosso município, qual seria o modelo de política cultural mais adequada para estimular a produção de cultura?
Rachel Abdala: Não basta promover a Inserção no Sistema Nacional de Cultura se não houver a constituição de uma infra-estrutura que, inclusive, dê maior autonomia para a Secretaria de Cultura e que envolva efetivamente a comunidade civil. Há que se ter também transparência nas ações políticas nesse setor. A política cultural deve adequar o ensino e a produção, mas não deve desconsiderar a divulgação. Ou seja, os eventos fazem parte, pois são uma forma importante de divulgar e de compartilhar a produção cultural, mas é necessário percebe-los e trata-los como um momento de todo o processo. Para retomar manifestações que estão acabando por falta de espaço e de condições de produção há que se investir em educação, mas que considere a cultura como uma dinâmica sócio-histórica.
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1 Comment
Parabéns aos Rubim e à Raquel. Grandes pessoas e personalidades!!
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