Pequena Pátria

 Pequena Pátria

Texto de Renato Teixeira

Publicado no Jornal Contato número 681

Às vezes fico pensando nesse Brasil imenso, repleto de lugares distantes onde se fala a mesma língua mas não se diz o que se diz aqui,
na terra da gente, nessas ruas que conhecemos e por onde passamos… e me acomodo. A pátria de um homem precisa estar ao alcance de suas mãos para ser, verdadeiramente “Pátria”, mais que a pátria amada, essa grande, a que nos une.

A cidade, portanto, é a nossa “República Federativa Particular”, menorzinha. Nela se exerce a cidadania mais completamente. O resto é longe daqui.

O melhor da pequena pátria é a nossa casa. A nação, para que exista, precisa estabelecer uma relação de segurança e lealdade com todos os seus habitantes, embora, e infelizmente, existam muitos seres humanos no planeta a quem negaram o direito de usufruir dos mínimos confortos da vida moderna; mas não há como negar que um homem é rei quando se sente aconchegado numa cama quentinha e confortável.

Essa é a capital da pequena pátria de um homem: sua cama. Hoje em dia, o grupo de “coletividades” que compõem o Brasil está muito diversificado para ser compreendido com a facilidade necessária. Querer diversas crenças disfarçadas de outras crenças, desajustes mentais, enganadores convincentes e mais uma grande quantidade de outras possibilidades frustrantes, geram enormes confusões e nos faz sentir saudade das origens tribais quando ainda éramos índios e possuíamos uma maior capacidade de gestão grupal.

Então, o que pode ser melhor que sua cidade? O que pode ser melhor que viver em Taubaté e tomar um cafezinho na padaria do Jarbas no fim das tardes? Tá certo; um acarajé, na Bahia, é muito bom, mas se temos o torresmo do Bigode e a salada do Pereba, para que enfrentar a Dutra, encarar Cumbica e depois sair por aí, pendurado nos céus por um avião só pra ver o que é que a baiana tem? Igrejas? Vá no convento Santa Clara, pô! Logicamente que o nosso Cristo não é uma das “sete maravilhas”, mas é pertinho e também está de braços abertos para nós.

Lá de cima Taubaté se exibe com sua lógica urbana centenária tendo ao fundo uma grande extensão da Mantiqueira. É lindo! Temos museus e temos o Sitio do Pica Pau Amarelo, o original. Visitem a capela do Rosário; mesmo caidinha e abandonada, é tão antiga como quaisquer das antigas igrejas do Rio, de Recife ou Cochabamba.

Sair para ver clássicos futebolísticos em São Paulo ou Rio e correr o risco de estar no lugar errado e na hora errada, pra que?!… Joaquinzão, minha gente; afinal. tudo não passa de noventa minutos de bola rolando. E sempre acontece um lindo lance para alegrar nossos olhos. Por favor, não me entendam mal; longe de mim estar propondo qualquer tipo de isolamento urbano que nos afaste das virtudes e belezas que existem para além de Pinda ou Caçapava.

Estou dizendo isso porque desde que comecei a entender um pouco esse planeta, nunca vi tamanha confusão como a que se estabeleceu nas terras de Cabral nos últimos tempos. Por isso já não me animo tanto quando vou encarar qualquer coisa que não seja as coisas da minha pequena pátria. Viajar por aí não está fácil!

Tenho procurado ser um taubateano razoável e, assim, contribuir de alguma forma com essa minha histórica e original comunidade que tem tudo que eu preciso para me sentir cem por cento brasileiro. Quando houver entendimento social saudável, sairemos para passear e apreciar tudo o que há de belo nesse Brasil lindo, mas muito pouco confortável ultimamente.

 

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