( Via História Hoje)
No Brasil, o século XX trouxe um crescente esforço de urbanização e o fortalecimento de uma classe burguesa que alcançava o status antes restrito aos antigos donos de terras e fazendeiros. Paris era o centro do mundo para os ricos e famosos da época. Todo mundo queria ser chic e badalar à maneira parisiense. É claro que tal movimento ainda estava restrito às capitais mais desenvolvidas, como Rio de Janeiro e São Paulo. A moda acompanhou estes novos ideais da elite. Na virada do século, as saias se tornaram mais secas, reduzindo-se as armações de antigamente às anquinhas estrategicamente colocadas na parte de trás do corpo feminino. Caudas, sombrinhas, luvas e graciosos chapéus completavam o figurino.
No final dos anos 10, as barras sobem um pouquinho deixando os tornozelos das mais ousadas à mostra. As mais recatadas usavam botinas altas para resguardar este pedacinho das pernas. O mesmo movimento ocorre com os chapéus: rebuscados, grandes e cheios de enfeites no final do século XIX, tornam-se bem mais simples e discretos. O costume das luvas permanece. Enquanto a elite ostentava e imaginava estar na capital francesa, a maior parte da população das cidades vivia em condições precárias, em cortiços ou casas modestas. As senhoras, porém, faziam o que podiam para sair às ruas da melhor maneira possível.
Nos primórdios do século XX, rapazes e homens mais maduros se deliciavam ao observar as mulheres subindo nos bondes: neste momento não havia como impedí-los de ter a maravilhosa visão de um pedacinho de perna, logo acima dos tornozelos. Mariana Maluf e Maria Lúcia Mott, no artigo “Recônditos do Mundo Feminino” (em “História da Vida Privada no Brasil 3″) contam que os homens faziam verdadeiras acrobacias para apreciar tais momentos e ainda adoravam os dias de chuva porque as damas levantavam as saias para não molhá-las. Canelas e pés à mostra…Sinal dos tempos! Muitos devem ter torcido o nariz a essas modernidades que hoje consideramos inocentes traquinagens. Com a 1ª Guerra Mundial, as roupas se tornam mais práticas e há menos abundância de tecidos. As barras sobem e os decotes descem.
Toda a polêmica que as saias mais curtas causaram no século passado lembraram-me o antigo tabu português em relação aos pés. Até o século XVII, era proibido às mulheres portuguesas mostrar os pés (imaginem os tornozelos!), mesmo para os mais íntimos. Era vergonhoso, indecente mesmo. Até que um dia, a rainha D. Maria Francisca de Saboia (1646-1683) – a francesa Isabel Nemours, que foi casada com o rei português D. Afonso VI e depois da morte deste, com o cunhado D. Pedro II – revelou um de seus reais pesinhos ao descer da carruagem. Disseram as más línguas da época foi possível até vislumbrar o tornozelo da rainha. Escândalo em Lisboa. A corte mais carola da Europa ficou indignada. Só mesmo uma francesa para achincalhar assim os costumes! Pouco tempo depois, porém, mostrar os pés virou moda entre a nobreza…As mulheres passaram a exibir descaradamente seus preciosos sapatinhos (bordados com ouro e prata, forrados de sedas e com pedras preciosas). Afinal, copiar a rainha era o máximo da elegância.
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