Para o Mestre, com carinho
Texto de Renato Teixeira
Publicado no Jornal Contato nº678
Um personagem… mais que isso; uma espécie intrigante de intelectual contestador e criativo que fez da arte da arquitetura uma ferramenta filosófica. Construir o novo, acrescentar soluções inusitadas, buscar o belo a qualquer preço e, principalmente, combater a mesmice das leis e da estética. Seu nome: Romeu Simi Jr.
Os anos sessenta são um memorial. Explicá-los, impossível. Quando vemos uma linda paisagem e a fotografamos, o resultado jamais será aquele que nossos olhos viram. Anos incisivos, onde começamos perceber a humanidade se preparando para o grande choque cultural, esse que vivemos hoje.
Naquele momento em Taubaté, atento e portando um diploma de arquiteto formado pela Faculdade de Arquitetura da USP, a FAU, Romeu entra na cena urbana, provocando e contestando. No terceiro ano da faculdade criou a Casa Romeu, em Ubatuba, revolucionária e definitiva. Os resquícios do pensar antigo, que hoje ainda nos atormenta, soterrou a obra e a cercou com a lógica do comércio turístico que um dia, com certeza, terá que ser reavaliado para que a Casa Romeu possa voltar a ter a visibilidade que as obras de arte precisam ter.
Me aproximei dele, ficamos amigos. Romeu possuía informações úteis para mim. Livros, discos e conceitos eram discutidos e avaliados no pequeno ateliê que ele construiu no quintal da casa de seus pais, na rua Souza Alves. Um lugar mágico; foi lá que a luz do conhecimento me iluminou. Entre projetos e obras da nossa arte popular, havia um lindo painel do grande Justino.
Um dia a casa e o ateliê foram a baixo para que se construísse um empreendimento imobiliário. Demétrius, Romero Teixeira, Paulo de Tarso, editor chefe do Jornal Contato, Hernani Shicker, o próprio Justino, dona Maud, Rubens de Mattos Pereira e muitos outros
personagens pensantes, freqüentaram o ateliê do Romeu.
Romeu foi meu mestre, foi o cara que abriu janelas para o dia, para que o sol entrasse. E o mais interessante era o fato dele e os outros frequentadores terem envolvimentos políticos e, no entanto, esse assunto nunca era discutido; jamais falávamos sobre qualquer tipo
de ideologia.
A moçada, de um modo geral, não aceitava o jeito dos seus cabelos, sua maneira de andar, sua postura pra dirigir. Sofria sombrias perseguições políticas que o obrigava a andar com o passaporte no bolso. Foi no ateliê Romeu que conheci a obra de Manoel Bandeira
e atentei de vez para Vinicius, Tom e para aquele seu contemporâneo de FAU, o Chico Buarque. Depois, afastou-se da prancheta, fato que não tem tanta importância assim, uma vez que sua arquitetura vai além. Mas isso já é outra historia…
Meu amigo Romeu Simi é uma pessoa que sabe construir direções.
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