O Vale que vale

 O Vale que vale

Por fatores geográficos, culturais e econômicos, o Vale do Paraíba ao longo da história sempre foi decisivo na definição dos rumos da nação.

Excetuando-se algumas poucas crises geradas pelo fim de alguns ciclos que trouxeram riquezas e que com o tempo se esvaíram, as coisas sempre estiveram avançando positivamente pro nosso lado. Um notória noção eficiente da movimentação financeira familiar criou uma sociedade regulada, com um eixo.

O conservadorismo do Vale Paraibano, mais que uma filosofia de vida, deveria ser aplicado agora no sentido da preservar nossos valores mais decisivos. Logicamente que várias características desse conservadorismo, caíram em profundo desuso; ótimo que seja assim. As técnicas antropofágicas propostas pelos modernistas poderiam ser usadas agora numa espécie de autoverificação.

Rio Paraíba (Foto: Angelo Rubim/Almanaque Urupês)
Rio Paraíba (Foto: Angelo Rubim/Almanaque Urupês)

O Vale é realmente lindo. Deitado entre as serras da Mantiqueira e a do Mar, ele vai compondo a história, lavrando o chão com seu rio que, apesar de meio morto, já nos deu peixes e milagres. O Rio Paraíba é o Rio Sagrado do Povo Brasileiro. Um dia ele voltará a ter saúde, voltará a viver. Não tenho dúvida alguma a esse respeito. Os povos do futuro não usarão o Rio Paraíba como esgoto.

Mazzaropi dizia que não havia luz melhor pra se filmar que a luz do Vale, densa e definida, pousando sobre todas as coisas. Nos meus tempos de morada em Taubaté, os finais dos dias, em qualquer estação, criavam sempre uma atmosfera inesquecível.

Se avaliarmos que entre as duas maiores cidades do país existem mais de cem fazendas centenárias, iremos enxergar nosso parque industrial com outros olhos. O que se dá no Vale tem raízes que o credenciam.

Mas ninguém pode esquecer que tudo o que temos possui belezas imprescindíveis. Do Sítio do Pica Pau Amarelo ao General Ozires que numa madrugada ajudava minha tia Yvone nos últimos retoques das cortinas do Bandeirantes, primeiro avião produzido pela Embraer, tudo por aqui tem outros encantos. Às vezes fico pensando como será Aparecida mais á frente.

Fim de tarde no Vale. (Foto: Angelo Rubim/Almanaque Urupês)
Fim de tarde no Vale. (Foto: Angelo Rubim/Almanaque Urupês).

Como os povos do futuro tratarão seus instintos religiosos quando muitas outras verdades estarão presentes? Temos um futuro tão instigante quanto nosso passado.

O presente é novo. Sempre.  Lembro-me de um trecho da historia do Brasil com a nau imperial perdida no mar, tentando chegar a Salvador. Os baianos encheram um barco com frutas tropicais e foram ao encontro do rei numa busca incerta que acabou se concretizando. Esse gesto faz parte de um grande manancial de gentilezas que a história ignora. É da natureza humana…

Muita gente continua chegando ao Vale; cada vez mais. Precisamos de um equivalente ao barco de frutas dos baianos, para oferecer aos que estão sempre chegando. Eu mesmo já tive meu tempo de chegar…

Somos agora uma região metropolitana e 28 milhões de turistas nos visitam todos os anos.

 

Renato Teixeira

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Publicado originalmente na edição 583 do Jornal Contato

almanaqueurupes

1 Comment

  • O Renato Teixeira é um dos artistas mais antipáticos que já conheci, juntamente com seu fiel escudeiro Almir Sáter! Pronto, falei!

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