O taubateano que jogou a Copa do Mundo
Taubateano de nascimento, Brandão foi o primeiro jogador corintiano a ser convocado para disputar uma Copa do Mundo
Por Gilberto da Costa Ferreira
Naquele festivo dia 21 de abril de 1910 em que se comemorava o 118º aniversário da morte do herói Tiradentes, Taubaté acolheria entre seus mais ilustres habitantes e no limiar do outono brasileiro, José Augusto Brandão, filho de Horácio Brandão e Cidânia Brandão. Como qualquer criança daquela geração, teve uma infância toda ela voltada para os rígidos padrões que uma formação familiar religiosa exigia e aos estudos proporcionados pelos bancos escolares. Todavia, viveu a plenitude de uma Taubaté bucólica e em plena ascensão econômica com a instalação da Companhia Taubaté Industrial. Ainda criança, mudou-se com sua família para São Paulo, onde, pouco a pouco, ambientando-se na capital paulista, logo depois começaria a desenvolver sua aptidão e a demonstrar toda sua habilidade e sua imensa categoria com a bola nos pés. Iniciando sua carreira futebolística de 1927 a 1930 no time do Barra Funda de São Paulo, logo despertaria a atenção de outros times, como o Juventus da Rua Javari, o “Moleque Travesso” e a “Máquina Juventina” em 1931 e 1932 e a Portuguesa de Desportos, a eterna “Lusa” em 1933 e 1934. Entretanto, o destino lhe reservaria anos de glórias que seriam conquistados com muito trabalho, muita perseverança e de muita lealdade, quando, em 1935 o Sport Club Corinthians Paulista abriu-lhe definitivamente as portas para o sucesso que lhe estava reservado. No Corinthians, clube que defenderia de 1935 a 1946, portanto, onze anos, formaria aquela que seria reconhecida como a mais famosa linha média em toda sua história, Jango, Brandão e Dino.
Durante toda sua trajetória no “Campeão do Centenário da Independência” e “Time do Povo”, jamais fora expulso, bem como se tornaria o eterno Capitão da equipe do Parque São Jorge. Sua passagem pelo Corinthians o tornaria como todos o definiam, “Mestre Brandão”.
Tempos mais tarde, titular absoluto no Corinthians e seu eterno capitão, Brandão se sagraria Tricampeão Paulista de 1937, 1938 e 1939 e Campeão Paulista em 1941. Em 1938, em razão do grande futebol apresentado, pela raça demonstrada nos gramados e pela grande fase que atravessava, foi convocado para a Seleção Brasileira para disputar a Copa do Mundo na França.
Brandão seria titular em duas ocasiões, a primeira contra a Tchecoslováquia com a vitória brasileira por 2 x 1 no jogo extra, e depois contra a Suécia, com nova vitória por 4 x 2, na decisão do inédito terceiro lugar. Era a glória aos seus pés e a consagração como jogador de futebol.
Possuidor de uma personalidade forte, Brandão esbanjava a raça corinthiana, aliada ao futebol técnico e muito clássico, atuando sempre de maneira leal para com os adversários. Era o centromédio da equipe e o cérebro daquela máquina poderosa e fantástica de jogar futebol.
Um fato curioso ocorreu no Estádio Municipal do Pacaembu em 24 de maio de 1942 durante o clássico entre Corinthians e São Paulo, quando este estreou Leônidas da Silva “O Diamante Negro”, com um público de 70.281 pessoas, recorde atual. Nessa partida Brandão foi encarregado de marcar Leônidas, quando o anulou durante todo o transcorrer do jogo, que terminou empatado em 3 a 3. No dia seguinte nos quatro cantos da capital paulista uma piada tomaria conta da cidade: – Você sabia que Brandão do Corinthians foi preso?- Não, por quê?- Pegaram-no com um “Diamante” no bolso! (em alusão ao chocolate “Diamante Negro” do qual Leônidas da Silva fazia propaganda e ganhara esse apelido). Brandão abandonaria o futebol aos 36 anos em 1946 e se dedicaria ao comércio.
José Augusto Brandão faleceu em 12 de julho de 1987.
Veja a atuação da Seleção Brasileira na Copa de 1938. Começa em 5m e 23s.
Gilberto da Costa Ferreira é graduado pela Universidade de Taubaté/SP com Licenciatura Plena em História. É autor dos livros “A 2ª Guerra Mundial e a Participação da FEB” e “Dois Países e Uma Vida”.
1 Comment
Material maravilhoso, Parabéns!
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